Sempre que se fala na importância dos elos de um sistema de som, aquele que seria o mais básico e importante de todos acaba sendo sempre desprezado.
De: Eduardo Martins
Há muito tempo se discute qual seria o elo mais importante de um sistema de som de alto nível. No meio dessa discussão, há sempre a argumentação do elo fraco que limitaria o resultado final. Sobre isso, já rebatemos alguns conceitos superados em um artigo que escrevi há algum tempo sobre o elo fraco.
Mas, esse é sempre um tema em constante discussão, e por isso decidi retomá-lo.
No geral, o mercado costuma tentar identificar o elo mais fraco sempre com uma limitação de visão que se restringe aos equipamentos utilizados. É claro que publicações de áudio, que vivem de anúncios de equipamentos, além de lojistas, vendedores e fabricantes (muitos que surpreendentemente ainda atuam como “revisores” de equipamentos), querem limitar essa discussão aos produtos que anunciam, revendem ou fabricam. Vender a ilusão de que um cabo é realmente capaz de ajustar um sistema acaba sendo muito mais lucrativo para todos.
Eles não estão preocupados com o elo mais fraco do sistema, mas com o elo comercial mais lucrativo, e não querem que o mercado conheça a verdade.
Existe ainda a paixão pessoal por elementos tecnológicos, ou uma certa nostalgia que parece provocar mais sensações emocionais do que resultados de fato.
Podemos citar, entre estes, os apreciadores do velho vinil. Para eles, qualquer momento é o motivo ideal para enaltecer a reprodução analógica e criticar a digital. Mas, a verdade é que a grande evolução tecnológica no âmbito dos equipamentos digitais, além das gravações em altíssimas resoluções (maiores do que os nossos ouvidos conseguem perceber) e formatos como o SACD ou o Blu-ray Pure Audio, tornaram essa diferença praticamente nula, levando a discussão para o campo da mera subjetividade e da paixão pessoal.
Recentemente, apresentei uma gravação digital do álbum Time Out de Dave Brubeck para um amigo apaixonado pelo vinil. Eu tenho essa gravação em diversos formatos, inclusive em vinil importado de 180g, pois é a minha preferida e a que mais ouvi até hoje. Esse amigo se rendeu ao digital, achou a gravação mais detalhada e limpa (sem ruídos). Finalmente, buscou ser imparcial nas audições e ampliou os seus horizontes. Claro que nem sempre o resultado se repete, pois a qualidade das gravações varia muito de um título para outro, e é comum encontrar discos digitais muito mal gravados. Mas, gravações em pé de igualdade apresentam ótimos resultados em seus diversos formatos.
O mesmo ocorre com os defensores dos equipamentos valvulados e de outras tecnologias físicas.
Mas, será mesmo que o elo mais importante está mesmo no equipamento?
Muito já se discutiu que as caixas acústicas representavam 60% ou mais do resultado final de um sistema de som, eu mesmo já acreditei nisso.
Hoje, defendo que o elo mais importante da cadeia sonora está em nossos ouvidos. Sim, os nossos tão desprezados ouvidos.
Equipamentos são importantes, mas, por melhor que sejam, são os nossos ouvidos os responsáveis por processar toda essa informação que lhe chega através das ondas sonoras. Quando digo “ouvidos”, quero me referir ao nosso sistema auditivo com um todo, pois ele é realmente bastante complexo.
Não vou repetir aqui tudo o que eu já disse em outras oportunidades sobre como percebemos os sons, sobre os testes e estudos que fiz com uma amostragem muito grande de indivíduos que se submeteram a testes auditivos, sobre a busca inútil de obter em casa o mesmo resultado final do som ao vivo (uma referência muito limitada quando isolada), ou sobre as experiências e resultados já amplamente discutidos em nossos artigos sobre customização de sistemas de som de alta fidelidade.
Mas, o que vejo ainda hoje é que aproximadamente 90% dos audiófilos ainda insistem em conceitos ultrapassados, resumindo tudo aos equipamentos, acessórios, acústica, eletricidade, etc., deixando o mais básico e importante numa condição de total desprezo.
Se digo que 90% dos audiófilos que conheço ainda não entenderam a importância da adequação de um sistema de som aos nosso ouvidos, isso não se traduz numa decepção total, pois eu diria que esse número era de 100% há alguns anos. Hoje é grande a quantidade de leitores e amigos, do Brasil e de outras partes de mundo, que me enviam relatos de seus resultados com a customização de sistemas sugerida pelo Hi-Fi Planet, e todos eles muito animadores. Todos são unânimes em afirmar que não conseguem voltar ao estado anterior de seus sistemas, pois a sensação é sempre a mesma, a de perder algo.
Mas, não é só uma sensação, a perda é real. Ajustar um sistema se som limitando-se a escolher com cuidado cada equipamento e o projeto acústico não se traduz em perfeição de todos os elos da cadeia sonora, pelo contrário, o elo mais importante resta totalmente desprezado.
Nossa audição é o verdadeiro ponto de partida para qualquer projeto.
Sim, eu não estou exagerando. Conhecer a curva de sensibilidade individual de audição é o ponto de partida para adequar os elos restantes. Sem essa providência prévia, não se chega a lugar nenhum.
É o mesmo que escolher um veículo sem considerar a pista em que ele vai circular. Seria a mais cara Ferrari em produção a opção mais adequada para usar num sítio cercado de acessos cheios de buracos, erosões e lama? Até um jipinho 4×4 usado de 50 mil reais ou bem menos se sairia melhor nestas condições.
Nossos ouvidos são assim, possuem limitações que prejudicam o resultado final do melhor sistema de som hi-end já construído.
E essas limitações não acontecem por acidente, somente por razões de idade ou exposição a ruídos. Cada pessoa, jovem ou idosa, com excelente saúde ou mais debilitada, experimenta uma curva particular de sensibilidade auditiva.
Muitos já tentaram descaracterizar esta ideia, desde publicações impressas que já deixaram o mercado até fabricantes e lojistas, mas que com o tempo caíram em contradições diante dos argumentos de suas “resistências” a estas ideias e hoje se entregam à verdade.
Deve haver sempre um equilíbrio entre os elos de um sistema de som de alta fidelidade, com certeza, mas, indiscutivelmente, o mais importante sempre será a nossa audição, pois somente a partir dela é possível desenvolver um projeto sonoro. Sei que é duro aceitar isso, mas a verdade é essa. É inaceitável pensar em montar um sistema de som sem saber o que ouvimos de fato.
E aquela velha argumentação de que todos nós podemos identificar as diferenças entre o som de um piano e de um violão, e que, portanto, ouvimos a mesma coisa, já está ultrapassada.
Quando falamos em alta fidelidade, em audiofilia ou em sistemas hi-end, estamos falando em atingir algo próximo da perfeição. Se for para apenas identificarmos o instrumento que está sendo tocado, então um player portátil ou mesmo um celular usado de 100 reais ou menos, reproduzindo arquivos MP3, são mais do que suficientes para isso.
Não adianta ter a maior fidelidade de imagens num super TV de 8K se um míope não usar um óculos de correção.
Nossa “miopia auditiva” está sempre presente, em menor ou maior grau, mas ela é natural do nosso sistema auditivo, e infelizmente não existe um “óculos auditivo de correção” para estes desvios. Temos que fazer as correções diretamente em nosso sistema de som.
Imagine que, sabendo desse fato sobre as nossas diferenças auditivas (pergunte para qualquer especialista da área médica especializada), fica fácil perceber que mesmo os sons “ao vivo” que percebemos acabam prejudicados e não nos fornecerão a referência que precisamos para buscar um resultado confiável do nosso sistema de som.
Portanto, antes de procurar o elo mais fraco do seu sistema de som, comece ampliando os seus horizontes e estabelecendo como prioridade a sua própria audição. Afinal, você vai desfrutar seu som com os ouvidos, e não com outras partes do corpo, não é mesmo?
Gosto muito de ler e frequentar sites e fóruns de áudio, principalmente no exterior. Todos são muito parecidos e seguem o caminho da propaganda para se manter.
O Hi-Fi Planet se destaca pela isenção dos comentários que são bastante esclarecedores, diretos, acessíveis e até corajosos, pois bate de frente com a pilantragem grossa que tem no mercado. Se destaca ainda pela ausência de anúncios e vínculos comerciais, o que o torna ainda mais confiável.
A gente percebe que o Eduardo mantém esse site por prazer e desejo de ajudar, sem cobrar um centavo por isso.
Nas minhas consultas sempre fui muito bem atendida e com bastante atenção.
O Hi-Fi Planet para mim é uma referência de veículo de informação, seja virtual ou impresso. Agradeço muito por compartilhar toda essa informação conosco sem termos que sequer ver janelinhas de anúncios abrindo o tempo todo.
Parabéns Eduardo
Grande Eduardo,
Creio que ou não entendi bem ou faltou uma maior exploração do que você considera o primeiro passo para a montagem de um sistema hi end de áudio.
Entendo como fundamental o conhecimento das limitações do ouvido humano mas não ficou claro como agir a partir desta variável no sentido de direcionar esforços para se obter a condição necessária à montagem do sitema “personalizado” de áudio hi end. Desculpe se não foi o que você tentou passar, e diga-se de passagem, sempre que li qualquer coisa de sua autoria, você é bastante claro e conciso.
Grande abraço
Gilberto
Olá Gilberto,
Sempre bom encontrá-lo por aqui.
Esse tema foi tratado em artigos anteriores:
http://hifiplanet.com.br/blog/rumo-a-customizacao-%E2%80%93-parte-1-%E2%80%93-introducao/
http://hifiplanet.com.br/blog/rumo-a-customizacao-%E2%80%93-parte-2-%E2%80%93-conhecendo-os-seus-ouvidos/
http://hifiplanet.com.br/blog/rumo-a-customizacao-parte-3-adequando-o-sistema/
http://hifiplanet.com.br/blog/rumo-a-customizacao-parte-final-adequando-o-sistema/
E complementado em outros artigos:
http://hifiplanet.com.br/blog/problemas-da-audicao-ou-o-que-nos-faz-ouvir-de-formas-diferentes/
http://hifiplanet.com.br/blog/uma-nova-leitura-sobre-o-mundo-da-audio-de-alta-fidelidade/
http://hifiplanet.com.br/blog/relato-sobre-a-customizacao-de-um-sistema-de-som-de-alto-nivel/
http://hifiplanet.com.br/blog/customizacao-de-sistemas-depoimento-de-um-leitor/
http://hifiplanet.com.br/blog/as-implicacoes-sobre-o-fato-de-ouvirmos-diferente/
http://hifiplanet.com.br/blog/customizacao-de-sistemas-depoimento-de-outro-leitor/
http://hifiplanet.com.br/blog/perguntas-e-respostas-sobre-a-customizacao-de-sistemas-de-som/
http://hifiplanet.com.br/blog/a-customizacao-de-sistemas-de-som-ganha-forca-no-mercado/
http://hifiplanet.com.br/blog/o-roteiro-para-a-otimizacao-de-um-sistema-de-som-de-alto-nivel/
Vale a pena ler desde o começo para melhor compreender toda a fundamentação deste processo.
Mas, basicamente, a ideia é conhecer o seu sistema auditivo antes de definir como será o seu sistema de som.
A princípio, acreditava-se que o sistema deveria ser o mais plano possível, mas hoje vemos que isso não corresponde à realidade de nossos ouvidos.
Porém, componentes desenvolvidos para serem perfeitamente planos custam muito mais caros e são inúteis sob esse ponto de vista.
É difícil aceitar que equipamentos baratos no passado tinham controles de “loudness” (Gradiente, Polivox, Quasar, Nashville, Kenwood, etc…) justamente porque a nossa curva de audição muda sensivelmente de acordo com o volume, depois equipamentos mais modernos incluíram opções de loudness com curvas de seleção ou até mesmo automático, e tinham ainda os equalizadores… mas hoje os fabricantes aboliram tudo isso e passaram a desprezar o fato de que ouvimos diferente, mesmo em relação ao volume de audição.
Portanto, podemos escolher componentes menos exigentes se tivermos em consciência que o resultado final será determinado por nós, ou seja, definiremos a curva de resposta de frequências do sistema.
Esse é o segredo, conhecer a nossa curva de sensibilidade auditiva e ajustar o sistema de acordo com ela. Os artigos citados ensinam como fazer isso.
Houve muita resistência de algumas publicações, pois uma das implicações deste fato está na perda de confiabilidade dos reviews já que o revisor de equipamentos também está sujeito à uma interpretação pessoal dos resultados, pois a sua curva auditiva também sofre alterações bastante significativas, principalmente em relação à idade e à exposição contínua ao som. Eles sempre chamaram isso de subjetivismo, mas hoje entendemos que na verdade essa interpretação sonora é muito mais física do que psicológica ou emocional.
Abração
Eduardo
Eduardo,
Desculpe não ter respondido e agradecido a sua usual fineza e boa vontade.
É que tive que fazer uma cirurgia no ombro e ainda não podia teclar com muita desenvoltura.
Agradeço bastante as indicações de materiais que foram de grande valia.
Grande abraço
Boa noite Eduardo, Eu estou construindo uma casa e estou querendo construir uma sala dedicada a audio e cinema na mesma. Após muito pesquisar sobre as proporções ideais da sala cheguei ao estudo do “Trevor Cox”para cálculo das proporções ideais. cheguei as dimensões da sala em (2,6 x 4 x 4,8 m) (altura X Largura X profundidade).
Porem tenho algumas dúvidas, como: onde colocar as portas, janelas e ar condicionado, devo fazer uma ante sala para a eletrônica? devo deixar um espaço maior prevendo a instalação de absorvedores e difulsores.
Gostaria de saber se o sr. tem experiência nesta área de projetos de salas e se o sr. poderia me dar uma consultoria/ajuda.
Meu Whatapp e telefone é (27)99266-5003.
Eu ficaria muito agradecido se pudesse me responder, uma conversa rápida acho que já tiraria muitas das minhas dúvidas.
Olá Rafael
Respondido por whatsapp.
Abraço
Olá Eduardo. Dias destes, fucando aas configurações em meu celular Abdroid, app Spotify, pra minha grata surpresa encontrei uma configuração que me remeteu a sua ideia central de que como ouvimos é o inicio de qualquer conversa sobre qualidade audiofila. Eeesta configuração simplesmente faz uma mini audiometria em ambos ou ouvidos e com base na faixa etária, traz uma curva de compensação com resultados bastante interessantes na eqiakizacao do programa. Vale conhecer. Abraços, Márcio SP
Olá Márcio
Obrigado por compartilhar conosco essa descoberta. Eu gostaria de saber mais sobre isso.
Você acha que houve um ganho de qualidade ao fazer a correção do áudio de acordo com as suas avariações de audição?
Como foi o procedimento?
Se você quiser escrever um artigo para incluir aqui no Hi-Fi Planet, fique à vontade.
Em breve o Hi-Fi Planet vai retomar a sua atividade, também com a colaboração de um leitor.
Obrigado
Abração
Eduardo
sempre aprendendo com este site. Custei a aceitar que tinha limitação do ouvido esquerdo. Sempre culpava a falta de tratamento acústico de minha sala e a posição bem desfavorável que ficava as caixas. Mudei elas, várias vezes, de posição , deixando-as de modo mais simétrico possível na sala e nada mudou. Pedi a opinião de várias pessoas e para minha surpresa, só eu tinha aquela sensação. Estou esperando passar esta pandemia e fazer uma audiometria, coisa que nunca fiz nos meus 67 anos de vida. Depois , tentar alguma solução. Grande abraço à todos do Hi Fi Planet.
Obrigado por prestigiar este espaço.
Abração
Eduardo