A importância dos conectores em cabos de áudio

Conectores exercem um papel muitas vezes mais importante do que o próprio cabo.
Vamos entender um pouco mais sobre isso?
Uma abordagem sobre os conectores RCA utilizados em cabos para áudio.

Por: Eduardo Martins

A ideia deste artigo surgiu de um e-mail recebido do nosso caro leitor Cícero Schmidt.

Dentre algumas outras perguntas, ele me questionava:
“Existe diferença audível entre cabos “comuns” feitos de cobre reciclado e cabos de puro cobre?
Há outras questões que influenciem na construção dos cabos, como a ligação entre o material condutor e o conector?
Pelo que li no último artigo sobre cabos disponibilizado aqui e chamado ” o que ainda precisa ser dito sobre cabos?” Parece que apenas o material condutor e a qualidade do conector importam.”

Isso me chamou a atenção sobre a importância de abordar um pouco mais alguns conceitos sobre conectores com base nas minhas experiências com cabos. E é sobre isso que trataremos principalmente neste artigo.

A Importância dos Cabos no Resultado Sonoro

Já li alguma vezes comentários de que eu não acreditava em diferenças entre cabos para áudio. Claro que isso foi escrito por quem se beneficia comercialmente com esse produto, e sente que o prestígio desse componente é de alguma forma afetado pelos meus comentários.
Convém, mais uma vez, esclarecer que eu uso somente cabos de qualidade em meu sistema, alguns comprados e outros fabricados por mim mesmo sempre com toda a qualidade necessária para o máximo desempenho sonoro.
Portanto, eu não sou contra cabos de qualidade e nem uso cabos “vagabundos” em meu sistema, assim como também eu não usaria combustível ruim em meu carro, pois sei que isso, entre outras coisas, afetaria o seu desempenho.

O que eu sempre busco ressaltar em meus textos é que o preço de um cabo não está necessariamente relacionado ao seu valor.
Já cansei de testar cabos baratos que nenhuma diferença teve de um cabo “de grife” de alguns milhares de reais, e em alguns casos, o cabo barato se saiu até melhor, demonstrando mais valor para a aplicação.
Ou seja, aqui nesta última frase eu já deixo bem claro, mais uma vez, que existem diferenças entre cabos. A questão é entender estas diferenças, e a subjetividade pode não ser a melhor forma de fazê-lo.

É importante ressaltar que quando eu menciono “cabos para áudio”, estou me referindo à sua aplicação. São modelos produzidos para um uso específico. Mas, isso não significa que eles conduzam áudio ou “sinal de áudio”, como alguns costumam dizer. Isso não existe, apesar da popularização da expressão que acaba confundindo o consumidor.
Cabos elétricos conduzem a corrente elétrica que circula por ele, que contém variações em sua intensidade e frequência, podendo conter informações organizadas de tal forma a serem  interpretadas como áudio, código digital ou sinais de vídeo, de acordo com os componentes que receberão essa corrente elétrica. No nosso caso, a corrente elétrica variável amplificada será transformada em som somente lá em nossas caixas acústicas, que foram concebidas para reagir dessa forma com essa corrente elétrica recebida. Se eu ligar as saídas de caixas acústicas de um amplificador numa cafeteira elétrica, eu não vou ouvir música, porque ela não foi concebida para transformar a corrente elétrica recebida em movimentos de ar, gerando som.
O cabo não sabe distinguir o que é uma informação de áudio ou de vídeo, por exemplo, mas ele terá algumas características de acordo com a aplicação para atender a impedância, a frequência e outras características desejadas, que no caso do áudio, para a nossa sorte, pela complexidade das variações da corrente elétrica, é muito mais simples do que no caso de um equipamento de telecomunicações, de imagem ou de um moderno computador pessoal. Mas, muita gente fatura muito induzindo os consumidores a comprarem cabos “super especiais”, “audio grade” ou “audiófilos” com o selo “High-End”, que na verdade de “especial” só carrega a vontade do fabricante em ganhar muito dinheiro.

Eu poderia repetir aqui coisas que já comentei em outras oportunidades, exemplo do caso do cabo de força “High-End” que se desfez pela baixa qualidade do isolante, do tal cabo icônico feito com isolante de “óleo de baleia”, do técnico que me confessou que na conceituada fábrica de cabos de “áudio” em que ele trabalhava, o que diferenciava o cabo mais barato do mais caro numa determinada série era só a cor da capa externa (se alguém acredita que a cor do cabo influencia na corrente que passa por ele… sem problemas para mim… pague mais caro por isso). Eu poderia ainda relembrar os cabos que já desmontamos, anunciados por fabricantes e publicações “especializadas” como sendo feitos com uma tecnologia “guardada a sete chaves”, mas na verdade usavam fios comuns e baratos de uma marca conhecida do mercado americano. Não, nada disso, eu vou definitivamente pular tudo isso, e tratar de algo que é realmente muito importante num cabo, os seus conectores.
E, respondendo a carta do nosso leitor (já respondida na sua totalidade por e-mail), a qualidade de um cabo é importante, mas os conectores são muito mais importantes do que o próprio cabo, e hoje eu não tenho mais dúvidas sobre isso.

Conforme eu comentei com o nosso caro leitor, eu já mencionei em várias oportunidades que tive experiências onde um cabo novo fez real diferença num sistema de som, mas, quando em seguida eu realizava uma limpeza nas conexões do cabo antigo, as diferenças sumiam como num passe de mágica, para a surpresa dos presentes.
Claro que o fabricante pode manipular, por exemplo, a capacitância ou a indutância de um cabo para provocar uma interferência artificial na corrente elétrica, e a isso eu dou o nome de “adulteração do sinal”. Cabos não devem alterar nada, e sim fazer o seu papel exclusivo de fornecer em sua saída uma corrente elétrica idêntica a que recebeu. Para a tristeza e a alegria de muitos, já antecipo que 99% dos cabos honestos do mercado fazem isso com absoluta perfeição, até aqueles mais baratinhos podem oferecer esse resultado.
Manipular o sinal é o mesmo que usar o photoshop para retocar os defeitos da pele de uma modelo. Isso não é alta-fidelidade, é adulteração, a realidade manipulada.

Comentei com esse leitor que, ao contrário do que dizem alguns “especialistas de áudio”, cabo deve ser sempre o mais curto possível. Não existe essa de usar cabo longo para que ele possa ter “espaço para trabalhar melhor o sinal de áudio”, como li num artigo de um revisor de equipamentos, escrito há alguns anos, onde ele dizia que a extensão do cabo favorecia o “alinhamento” dos cristais do condutor (isso é hilário). Nem mesmo cabos de força precisam ser usados com comprimento maior do que o necessário, que neste caso, apesar de não causar muitos problemas, jamais vai fornecer a tal característica de “filtragem”. Cabos de força não filtram impurezas da corrente elétrica, isso simplesmente também não existe.
Se a distância das saídas do meu player de CD até a entrada do meu pré-amplificador é de 20 centímetros, é esse o comprimento de cabo que eu vou usar. Por isso os meus cabos são fora de padrão, pois eu os adequei às distâncias que eu precisava. Isso evita interferências desnecessárias e torna o cabo muito mais neutro.
E tem mais uma vantagem ao readequar o comprimento, com um cabo de um metro você pode fazer dois ou mais cabos, só comprando os conectores.

Mais uma vez, cabos não devem alterar nada. Se você tinha um cabo que achava ótimo, e o trocou por outro que lhe deu um resultado diferente, melhor ou pior, um dos dois cabos, ou os dois, tem problemas sérios. Mesmo porque o resultado melhor pode ser o retoque de photoshop que não deveria existir em algo que busca apresentar a melhor fidelidade possível do real.

Cabos não estão “evoluindo” a esta velocidade que tentam sugerir (nem vejo mais essa necessidade em áudio). Todos os cabos de boa qualidade do mercado têm a obrigação de preservar na saída exatamente o que ele recebeu, e isso é fácil de ser conseguido. E não pense que a cada lançamento eles fazem isso com maior precisão, pois um cabo de boa qualidade barato é capaz de fazer isso com total eficiência. E quando eu falo em boa qualidade, não estou falando de cabo de prata ou com “ligas misteriosas”, mas um feito ao menos com cobre de boa qualidade, que nem precisa ter dez noves de pureza depois da vírgula, mas que não contenha alumínio, latão e até o “jornal da semana passada” misturados na sua composição.

Os conectores

Descontando as “manipulações” realizadas nos cabos para enganar o consumidor, então o que provoca a diferença que alguns usuários notam numa troca dos cabos?

Além da falta de manutenção das conexões (obrigatória em intervalos de pelo menos seis meses dependendo de alguns fatores), que sofrem oxidações e outras alterações superficiais, os metais utilizados nos conectores são capazes de prejudicar a qualidade do som com o tempo.
E aí alguém pode perguntar: “Então conectores de ouro ou ligas nobres podem melhorar o resultado final?”. Não, até um conector de cobre comum ou de latão oferecerá o mesmo resultado que outro banhado a outro.
Então vamos a outra pergunta que sei que muitos estariam fazendo nesse momento: “Então porque a indústria utiliza metais nobres e raros até em contatos de circuitos de smartphones?” Respondo: porque esses materiais apresentam menor deterioração com o tempo, principalmente no que se refere à oxidação.
A oxidação é um fenômeno natural que, em nosso caso, ocorre, principalmente, com o metal em contato com o ar e a umidade, criando alterações em suas características moleculares (inicialmente na superfície do metal).

Alguns materiais se oxidam mais rápido, e por isso o ouro, por exemplo, é tão utilizado em contatos elétricos, pois é mais resistente a alterações. Existe a argumentação de alguns fabricantes de que a resistividade de superfície também é menor em metais nobres. Eu poderia me estender muito nisso já que trabalhei bastante com esse efeito, mas apenas adianto que a diferença, em razão do tipo e da extensão de contato, é praticamente nula. “Opa! Praticamente nula não é nula, então num sistema muito revelador e de alto nível isso pode fazer diferença”. Errado ! Praticamente nula é realmente desprezível.
Se eu pegar uma caminhonete de três toneladas e carregá-la com mais 1.000 quilos em sacos de farinha, e depois pegar outra caminhonete idêntica e carregá-la também com outros 1.000 quilos de farinha e colocar mais um saco e 1 quilo de arroz na caçamba, haverá qualquer diferença do desempenho da caminhonete?
“Uma super balança de precisão pode detectar isso”, alguém poderia dizer. Interessante!!! Então estamos concordando que instrumentos são mais precisos do que outros elementos de avaliação?
Mas, esqueça, nem assim… As variações naturais de peso dos sacos de farinha, do motorista, da quantidade de diesel no tanque… tornam essa diferença sem qualquer sentido. Você vai passar a vida toda sofrendo para ajustar exatamente as duas caminhonetes e as duas cargas para que fiquem absolutamente precisas, que ainda assim não notará diferença na prática, pois ela é desprezível para provocar qualquer mudança no desempenho do veículo.

Portanto, estas características elétricas da matéria-prima empregada nos conectores é algo que não tem um milésimo da importância se as conexões forem mantidas limpas e protegidas. Já ensinamos como fazer isso num artigo que publicamos aqui mesmo no Hi-Fi Planet ( Limpeza de Contatos ).

Diversos modelos de plugs do padrão RCA que abordaremos neste artigo

Cabo soldado ou clipado no conector? Com solda de prata ou comum?
O cabo clipado funcionará tão bem quanto o soldado. Mas, ele estará mais sujeito ao afrouxamento do sistema de pressão e também mais suscetível a oxidações com o tempo do que o soldado. Por isso eu, particularmente, prefiro a solda. De prata ou comum? Primeiro não existe solda de prata. Trata-se de uma solda comum de estanho (com chumbo, cobre, fluxo, etc.) com uma quantidade muito pequena de prata (de 1 a 3% dependendo do fabricante – quando realmente possui isso – e mais de 95% de estanho comum). As duas oferecem o mesmo desempenho na prática, sem qualquer diferença. Utilizei solda com prata na construção de minhas caixas acústicas e de alguns cabos (solda fabricada pela Cardas), mas em todas as experiências que fiz depois disso, concluí que não faz a menor diferença.
Sempre haverão aqueles que dizem que percebem diferenças, mas, sugira um teste cego e veremos se esta convicção se mantém.

Precisão do encaixe do conector

Chegamos ao ponto mais importante deste artigo. Aqui temos um exemplo do que realmente importa e que acaba esquecido, ou mesmo desconhecido dos consumidores.

Nos muitos testes que já fiz, inclusive com medições sensíveis e precisas, concluí que, quando a conexão é boa, o resultado é perfeito.
Mas, também percebi que algumas conexões, mesmo apresentando um resultado inicial interessante, se deterioravam rapidamente. Depois de muitas observações eu encontrei a causa, que inclusive ocorre em conceituadíssimos cabos do mercado: a conexão mecânica não é precisa, e isso reduz a área de contato e favorece a oxidação superficial a avançar até o ponto de contato.

O motivo desse problema é a imprecisão dos conectores “macho” e “fêmea”, que podem variar, principalmente, os seus diâmetros durante a fabricação.
Eu notei o problema principalmente em conector padrão RCA, e por isso ele será objeto principal desta abordagem. E esse problema sim, é algo que precisa receber muita atenção, pois interfere no resultado de forma bastante significativa.

Conexão RCA

Eu tenho muitos cabos em casa, dos mais simples aos mais sofisticados, dos mais baratos aos mais caros, e descobri que este problema afeta todos eles.

A conexão RCA é formada por um conector (plug) macho, aquele ligado ao cabo, que possui uma área circular externa e um pino interno. Ele se encaixa no conector fêmea por pressão, promovendo o contato entre as áreas condutoras da parte externa e do pino central. A área externa é normalmente o negativo, o aterramento do cabo, e o sinal “positivo” fica com o  pino central.

Conectores fêmeas padrão RCA

Mas, na maioria dos projetos, o sinal presente no pino tem como referência o “terra” ou o negativo externo, que, portanto, tem tanta importância quanto o pino interno. Alguns projetos possuem variações deste conceito, mas o contato externo de cada conector, ainda assim, tem uma grande importância. E foi aqui, no contato externo, onde eu percebi os maiores problemas, pois problemas de conexão por variação construtiva do pino central são bem mais raros pela sua forma construtiva (mas também merece cuidados).

Para um bom contato e menores riscos de problemas causados pela oxidação superficial, estes contatos devem ter um bom assentamento com boa pressão.
Não é a área de contato que fornece um transferência melhor de sinal, mas veremos o quanto ela é importante.

Houve uma época em que o conector macho tinha a parte externa bem flexível, que cedia fácil quando o conector fêmea apresentava um diâmetro ligeiramente maior. Essa parte externa poderia ser apertada um pouco também até com os dedos, para se adequar melhor quando a conexão ficava mais frouxa.
Mas, os projetistas começaram a fazer conectores machos mais robustos e precisos, inclusive com a parte externa rígida, e aí começaram os problemas. Não havia como obter um “efeito mola” da parte externa do conector nem ajustá-lo pela aplicação de pressão manual ou com um alicate.
Há muitos anos tentei fazer um ajuste num conector de um cabo que comprei e que se apresentava um pouco frouxo (com folga). Era um cabo bem caro (eu era um principiante) e o comprei de uma conceituada loja “hi-end” de São Paulo, e o plug simplesmente se quebrou quando o apertei. Foi quando tive a infeliz surpresa de descobrir que o conector era fabricado em liga de zinco, conhecido como zamak, um material barato utilizado no lugar de outros metais mais caros como o latão e o cobre, não só em áudio, mas em outros componentes metálicos baratos. O conector era feito de zamak banhado a ouro (se é que aquilo era ouro mesmo). Que decepção!
Descobri mais tarde que, na verdade, o importador comprava o cabo em rolos e os montavam aqui com conectores baratos, comprados em tradicionais ruas de lojas de material eletrônico comum.

Plugs RCA machos. O modelo da esquerda foi utilizado por muitos anos e a sua “luva” de conexão externa era bastante flexível. Com o tempo os plugs começaram a ficar mais robustos como o modelo à direita, muito menos maleáveis

Alguns modelos que testei possuem uma resistência de encaixe tão grande, e arestas tão retas que chegam a danificar o banho dos conectores fêmeas.

Diante dessa dificuldade de obter um melhor ajuste nas conexões, os fabricantes começaram a buscar outras soluções, como aberturas (raias) longitudinais para fazer o conector se afrouxar um pouco com o aperto, ou com partes móveis rosqueáveis que ajustavam o diâmetro externo do conector (além de oferecerem maior controle da pressão). E isso, na maioria dos cabos, tem se mantido até hoje como uma solução considerada eficiente, mas nem tanto, como veremos adiante.

O ideal seria que a parte externa do conector do cabo se ajustasse perfeitamente na parte externa do conector que o recebe, como no desenho abaixo que elaboramos para facilitar o entendimento aqui.

Condição ideal de conexão com toda a área de contato utilizada

Mas, o modelo estriado (que recebeu desenhos até “personalizados” com alegações técnicas que não passavam na maioria das vezes de diferenciais comerciais) acaba realmente cedendo, com alguma dificuldade, para oferecer a pressão desejada, e para que isso funcione, ele é fabricado com um diâmetro externo ligeiramente menor que o nominal, aumentando a sua compatibilidade. Todos os conectores deste modelo que medi com um instrumento de elevada precisão tinham essa característica.
Sendo assim construído, ao ceder ele provoca um efeito colateral, que é expandir a parte frontal fazendo com que a mesma perca o contato, que passa a ocorrer em forma de anel com facilidade para criar uma área de oxidação que facilmente se espalha pelo estreito anel de contato.

Podemos ver isso na imagem abaixo. Aproximadamente 60% dos cabos que testei apresentaram esse problema, inclusive alguns muito caros que possuo ou estavam aqui para testes.

Com um diâmetro menor, o conector se expande para se acomodar ao conector fêmea, mas provoca perda parcial de contato pela expansão frontal

Numa outra direção, alguns fabricantes optaram por fazer o diâmetro externo ligeiramente menor próximo da extremidade, de forma cônica (aumentando o diâmetro no interior do conector), que se abriria o necessário para se ajustar ao diâmetro e oferecer boa pressão de contato. Mas, isso também provocou outro efeito, que foi fazer a parte mais interna muitas vezes perder o contato.
Podemos ver isso na imagem abaixo.

Em outra tentativa, os fabricantes optaram por deixar a extremidade mais fechada, se abrindo conforme a necessidade. Com o diâmetro interno maior do conector, novamente se observa a diminuição da área de contato

Mesmo conectores que usam o sistema rotativo de ajuste, também exercem normalmente a pressão de fechamento na extremidade do conector, provocando o mesmo problema. Notei esse problema em aproximadamente 35% dos cabos que testei.

Agora, uma pergunta pode ser feita: se 60% dos cabos que testei eram estriados  e apresentaram um problema, e outros 35%, também estriados inclusive com ajuste de pressão rosqueável, como eram os outros?
Eu tenho alguns cabos que usam um conector tipo bullet que possuem uma construção diferente, e a parte interna apresenta um contato bem estreito feito por um pino de contato que percorre longitudinalmente a área de contato. É uma solução curiosa, foi muito elogiada na época, mas provoca uma interrupção na blindagem, nem sempre bem-vinda em algumas situações. Eu não aprecio esse modelo, que também é mais suscetível à oxidação.

Plugs tipo bullet e os pontos de contato indicados pelas setas

Poderíamos imaginar que, mesmo com esses problemas mencionados nos modelos acima e a área de contato sendo pequena, o contato ainda ocorre. Seria o mesmo que os contatos côncavos de chaves de seleção de alguns equipamentos, onde a área de contato é pequena em relação à área existente. Mas isso se repete aqui também, e a oxidação avança da área sem contato para a pequena área de contato. Porém existe uma diferença importante, elas voltam a funcionar com o uso, porque há movimento, e isso acaba limpando parcialmente os contatos pelo atrito. Por isso chaves sem uso por algum tempo apresentam mais problemas.
Isso também explica porque alguns leitores comentam que retiraram um cabo antigo do seu equipamento e sentiram uma grande diferença com um novo, mas ao voltarem ao antigo, a diferença parecia ter sumido. O ato de retirar o cabo antigo faz o conector realizar uma raspagem na superfície de contato eliminando parte da oxidação. Ao colocá-lo de volta, seu conector estará mais limpo, e o do aparelho já terá sofrido quatro atritos de movimento, com a retirada do cabo velho, com a instalação do cabo novo, com a retirada do cabo novo e a instalação do velho de volta.
Em muitos casos, quando alguma diferença persiste, uma limpeza com um bom polimento no conector do cabo antigo pode mudar o final da história.

O que fazer? Qual a solução para isso então?
O pior é que não há muito a se fazer. Eu continuo pesquisando sobre conectores RCA, mas ainda não encontrei uma solução definitiva.
A melhor opção ainda é a manutenção periódica nas conexões. Isso é uma obrigação. Chaves de contatos, porta-fusíveis, fusíveis, conexões RCA, conexões balanceadas, contatos de tomadas… etc. Todo equipamento necessita de uma manutenção preventiva para manter as suas características originais.
Poucos audiófilos fazem isso (raros, eu diria), pelo menos com a frequência necessária e da forma correta, e aí acabam comprando cabos, fusíveis “audio grade”, etc… entre tantas outras bobagens sem qualquer necessidade, acreditando que estão realmente fazendo um bom upgrade em seus sistemas, quando algumas horinhas gastas numa boa manutenção já ajudariam muito a oferecer resultados até mais interessantes. Muitos acabam surpresos com as diferenças que ouvem depois de uma boa limpeza.

Em resumo: é preciso maior cuidado com as conexões dos nossos equipamentos.

Muitas considerações e abordagens poderiam ser ainda feitas sobre este assunto, mas a ideia aqui não é escrever um livro. O tema é muito extenso e rico em detalhes.

Como podemos ver, os problemas são um pouco mais complexos do que a meia dúzia de temas que normalmente se discutem por aí. Por outro lado, as suas causas são bem mais simples de serem compreendidas do que os mistérios que tentam alimentar, e as soluções mais fáceis e bem mais econômicas do que aquelas que querem nos vender.

A nossa abordagem aqui sobre conectores RCA nos prova isso. Não foi um estudo somente subjetivo. Fiz muitas medições, usei tintas de marcação e comparei muitos cabos. Trabalhei com uma lupa de grande ampliação para observar de forma minuciosa como estes conectores se comportavam. Gosto de estudar, experimentar, ensaiar e descobrir a razão dos fenômenos que observamos, porque mistérios do “audio high-end” só existem para quem quer ganhar dinheiro com a desinformação, ou para quem não quer aprender ou quem acha que já aprendeu tudo, seja por conversas de terceiros, principalmente daqueles “experientes audiófilos”, seja em experiências mal conduzidas e conclusões equivocadas.

Quero salientar aqui que não tenho nada contra fabricantes, anunciantes e comerciantes de produtos de áudio. Sem eles, não teríamos os nossos “brinquedos” em casa.
Mas, é preciso tomar cuidado com o que eles nos oferecem e com o que eles dizem, o que acaba causando confusão e ignorância que depois ficam por anos sendo cultivadas na cabeça dos audiófilos, que quanto mais tempo convivem com isso, mais se deixam envolver por este mercado predador.
Conheci comerciantes honestos, muitos nem tanto, assim como fabricantes de elevado gabarito que nos brindam com excelentes equipamentos, e outros que tentam nos vender acessórios inúteis por preços exorbitantes.
É preciso ter cuidado e, se possível, buscar por conta própria as respostas. Tenho a sorte de ter tido uma formação técnica profunda nesta área, apesar de não atuar nela hoje, mas consigo farejar de muito longe quando tem algo estranho ou mal explicado neste hobby, e por isso faço as minhas próprias pesquisas, conduzo as minhas próprias experiências e leio muito textos científicos.
Mas, eu gostaria muito que o mercado colaborasse um pouco também, e repensasse um pouco sobre algumas questões, principalmente éticas. Tudo o que fazemos, de bom ou de ruim, deixa consequências. Em alguns casos podemos fingir que não conhecemos estas consequências, mas elas existem, e a responsabilidade sobre elas é nossa.

 

 

11 Comentários

  1. Meu amigo, você está sempre surpreendendo. Parabéns !!
    E como vão aquelas caixas maravilhosas? Eu visito algumas salas, vou em muitos showrooms de lojas, e até feiras lá fora já visitei como você bem sabe, mas cada vez que ouço algo eu penso “aquelas caixas do Edu aqui iam matar a pau” kkkkkk
    Não sou novato nessa área, você sabe, mas estou para ver um sistema chegar aos pés do seu. Não vejo a hora de passar essa pandemia para visitá-lo novamente e matar as saudades daquele som maravilhoso que você extrai do seu sistema.

    Parabéns pelo seus artigos. Seu blog é uma das poucas coisas inteligentes que restaram nessa área. O restante hoje é de chorar…

    Abraços e muita saúde, meu caro.

  2. Como vai, Eduardo?

    Acompanho o seu site há muito tempo, e eu já admirava as suas colocações na época do extinto htforum, sempre com as suas posições questionadoras e suas buscas por respostas.
    Seus artigos são realmente muito interessantes, e algumas ideias já consegui aplicar com bastante sucesso, outras não tive tempo ainda.
    A sua abordagem sobre sistema customizado é algo realmente incrível, mas pouco vejo comentários em outros espaços sobre isso. São sempre as velhas discussões sobre cabos, sobre Vinil versus CD, e aquilo que já estamos cansados de ver.
    Parabéns pelo seu brilhantismo nos artigos que escreve, nos trazendo informações verdadeiramente úteis, sem contaminações de ordem pessoal e comercial, e tudo sempre muito bem embasado, sem os velhos achismos que tantos prejudicou o áudio high end no Brasil.
    Obrigado e um grande abraço do amigo
    Dráusio Gurgel

  3. Olá Dráusio,

    Obrigado por prestigiar o nosso site com a sua participação.
    Realmente vivemos um longo período de nebulosidade até conseguirmos enxergar a realidade, mas fico contente em ver que isso está mudando. E vai continuar mudando, a tendência é sempre evoluir.
    Quanto à eterna discussão CD e Vinil, ela já está há muito superada. O CD é apenas uma mídia digital, não vejo como um formato em si. Na minha opinião, o SACD, o DVD-A, o BD Pure Audio e os arquivos digitais acabam representando o mesmo formato: o digital, ficando para o vinil a representação do formato analógico (que na verdade pouco tem de analógico hoje).
    Portanto, a comparação deveria ser entre o Analógico (Vinil) e o Digital (com todas as suas evoluções tecnológicas que nunca param), e aí a coisa muda de figura. Comparar CDs com Vinis hoje é um discussão muito pequena em relação à realidade atual do universo digital.

    Abração

    Eduardo

  4. O Eduardo já é uma lenda por essas bandas do áudio hi-end.
    Ele já questionou tecnologias, mostrou componentes caros de grife que na verdade eram fabricados baratinhos na China, já desmascarou revistas compradas com publicidade e até com fotos manipuladas, criou o conceito de som customizado mostrando que o tal do flat e o conceito ao vivo são dois equívocos, já desbancou o mito do cabo caro, e ainda construiu caixas acústicas que botam no chinelo caríssimas caixas acústicas muito famosas ganhadoras de prêmios por aí.
    O sistema dele pode sim ser chamado de referência, não essas salinhas que vemos por aí cheias de pose que só impressionam pelo preço dos componentes.
    Quem ouve a sala dele entende o que é realmente um som de altíssima fidelidade.
    Abraço Edu !!!

  5. Olá Eduardo! Tenho uma dúvida relacionada a conectores de cabo de caixa tipo Banana e Spade, mais precisamente em Jumper de caixa acústica. Já ouvi comentários afirmando que o conectore Banana é melhor porque proporciona maior superfície de contato e precisão na conexão mecânica. Concorda? Mas a pergunta é outra. Minha caixa atual é 2-way com terminais separados para tweeter/woofer. O que você acha de usar dois conectores tipo Spade, um em cima do outro, para otimizar o contato entre cabo e Jumper? Assim: no amplificador o cabo é ligado com um conector Banana, vai para o terminal do Woofer com um conector Spade e nesse mesmo terminal outro Spade do Jumper. os dois Spades em contato direto. Atualmente, uso um cabo de caixa single (não gostei do resultado bi-wired) e coloco um jumper com um pedaço de cabo descascado para o tweeter (como vi você fazer em umas fotos aqui no blog). Percebi um resultado melhor que os conectores de latão banhado a ouro que vieram com a caixa. Mas não acho que é o material, e sim porque o cobre do cabo do jumper descascado encosta diretamente com o plug Banana que hoje tá no woofer.

  6. Olá Anderson

    Tanto os conectores bananas como spades são bons. Mas, existem muitas variações construtivas, principalmente dos bananas, e isso tem bastante influência.
    Alguns têm mais pressão de contato, outros oferecem mais área de contato, outros são construídos com uma peça sobreposta para dar a pressão (Monster usa isso), etc.
    Mesmo os modelo com parafusos de fixação dos cabos eu recomendo soldar. Não precisa ser solda com prata, mas uma solda de boa qualidade.
    O Spade é mais simples, e é você quem dá a pressão de aperto. Todos são recomendados.

    A foto que você deve ter visto era da minhas caixas, talvez? Nelas as três vias das caixas são separadas, e assim acabo conectando estas vias, porque também não achei qualquer vantagem com bicablagem.
    Eu interligo as vias direto com jumpers de cabos, selecionados depois de alguns testes, sem qualquer conector. E depois coloco os cabos de entrada com banana, mais pela facilidade por conta de testes que faço.

    Você pode sobrepor os spades, sem problemas. Faça uma boa limpeza neles e monte-os em seguida sem tocar nos contatos. Vai ficar bom sim. Dê um bom aperto. Pelo menos uma vez por ano, solte-os e faça uma boa limpeza com polimento.

    Abraço

    Eduardo

  7. Isso mesmo, suas caixas que são 3-way. Você não se preocupa muito com oxidação do cobre exposto nos jumpers de cabos? Abraço, Anderson.

  8. Ué, não entendi agora. meus jumpers são cabinhos encapados. Onde você viu de cobre exposto?

  9. Corrigindo, eu imaginei a princípio que o cobre estava exposto. No link (http://hifiplanet.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/10/dnmcable01.jpg), você usa como Jumper um pedaço cabo com as pontas desencapadas, sem conectores, certo? Quando é feito o aperto nos terminais já é suficiente para isolar o cobre? Olhando um pouco melhor, parece que nesse Jumper que liga no terminal de baixo foi colocada uma solda para a proteção do cobre. Foi isso ou é cabo d outro material? Hoje eu uso um cabo com as pontas sem a capa como Jumper, mas com alguns meses o cobre ficou preto. E assim cheguei aqui nessa página sobre conectores para entender melhor. Esse site aqui já é minha fonte oficial de consulta. Estou aprendendo. Obrigado!

  10. Exatamente !
    São pedaços de cabos cortados para funcionarem como jumpers. Estes não foram estanhados na ponta, é a cor do metal original do cabo da QED, na ligação inferior.
    Você pode estanhar. Vai ter gente que vai sofrer com arrepios por eu dizer algo assim, mas te garanto que estanhar as pontas dos fios não vai lhe causar qualquer problema.
    O único cuidado é que, como a solda possui um fluxo para facilitar a soldagem, este fluxo deve ser totalmente removido. Ou seja, após estanhar as pontas dos fios, limpe bem com álcool.
    A estanhagem das pontas em nada afetará negativamente a conexão. Tem coisas bem piores que afetam a qualidade sonora e que os audiófilos e avaliadores ignoram totalmente.
    Abraço

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