Uma visão de um respeitado avaliador de equipamentos sobre esse cansativo debate.
Uma opinião de Vade Forrester
“E se o digital nunca tivesse existido?” escreveu Steve Guttenberg na edição de outubro de 2017 da Stereophile. É uma peça ponderada e bem escrita. Eu só me pergunto por que a comunidade de audiófilos precisa de outra peça glorificando a gravação e a reprodução analógicas.
O digital se tornou o padrão de fato para gravação e reprodução de música. Deixe isso para trás. Não há dúvida de que as gravações digitais podem soar ruins, assim como as gravações analógicas. Mas todas as gravações digitais são ruins? Não aos meus ouvidos – nem de longe.
Por que devemos continuar a açoitar o cavalo morto que este debate do analógico versus digital? Faltam assuntos para encher as páginas das revistas de áudio? Não podemos simplesmente gostar de ouvir os dois formatos?
Como colecionador de LPs desde o início dos anos 60, de CDs de alguns anos após o seu lançamento, de downloads digitais desde que o HDTracks chegou online pela primeira vez, e agora como um ouvinte frequente do Tidal, não tive problemas para encontrar gravações de alta qualidade em todos os formatos e os seus meios de oferta. Todos os tipos de gravações podem oferecer experiências de audição gratificantes, assim como todos os tipos podem soar como uma porcaria, mas estou confuso com o que parece ser uma insistência cada vez mais gritante de certos segmentos da comunidade audiófila, de que apenas a gravação e a reprodução analógicas merecem a atenção dos audiófilos, alegando até mesmo que a música gravada digitalmente não pode ser agradável de escutar.
Aqui está aquilo em que continuo a acreditar: se parece bom, é bom.
Você deve ouvir o que você gosta. Mas, por favor, deixe os outros fazerem o mesmo. Se você prefere o som de gravações analógicas, isso é totalmente aceitável. Mas você está perdendo algo. Veja os anúncios dos “novos” LPs – quase todos eles foram gravados há muito tempo. Eu não estou criticando aquele som – haviam ótimas gravações de ótimas performances feitas naquela época. Eu gosto tanto quanto qualquer pessoa e ouço com frequência. Mas o mercado de LPs é virtualmente (não ignore virtualmente) todo de relançamentos. E reedições de reedições.
Quantas cópias de Sgt Pepper você realmente precisa? Se você quiser ouvir a maioria das gravações de música feitas nos últimos 30 anos, provavelmente vai ouvir uma gravação com histórico digital, provavelmente gravado digitalmente e depois distribuído em um CD físico, baixado ou enviado pela Internet. Não estou falando sobre a nova música contemporânea, estou falando sobre praticamente todas as músicas gravadas nos últimos 30 anos, sejam novas ou escritas há centenas de anos.
LPs mais recentes são frequentemente feitos de matrizes digitais e, por alguma razão, são frequentemente considerados pelos gurus como que soam melhor do que os mesmos masters reproduzidos digitalmente. Para um comentário interessante sobre LPs masterizados digitalmente, veja o excelente artigo da SoundStage! de Brent Butterworth!, “Masters digitais arruínam as gravações de vinil?”
Outra lógica confusa é a ideia de que a música reproduzida deve vir de um meio físico, seja um dispositivo de memória, um disco ou uma fita, de querer sentir e tocar, e talvez até ler notas sobre o produto do qual nossa música emana. Alguns gurus das revistas celebram o fator toque como importante para o prazer de ouvir música.
Para uma pessoa ligeiramente deficiente como eu, ou para quem o envelhecimento reduziu a mobilidade, longos rituais para reproduzir a música são uma dor (literalmente); se tenho que observar esses rituais, isso reduz significativamente o tempo que eu tenho para ouvir música. Mas, se você gosta, não há absolutamente nada de errado com um processo de reprodução complexo. Também não há nada de errado em desfrutar de música proveniente de arquivos digitais, armazenada em um disco rígido, em uma rede ou convenientemente selecionada de um iPad.
Pessoalmente, prefiro passar meu tempo ouvindo música do que mexendo em um LP ou CD, mas, veja: a escolha é sua. Aqui está a fórmula que funciona para mim: Música Interessante e Bem Gravada + Equipamento de Reprodução Decente + Um Processo de Reprodução Conveniente = Horas de Diversão. Se eu mudar a fórmula para Música Interessante e Bem Gravada + Equipamento de Reprodução Decente + Um Processo de Reprodução Mais Longo e Inconveniente, então isso = Menos Horas de Diversão.
A sua fórmula pode variar, e isso está totalmente certo. Só espero que possamos concordar em seguir nossos próprios caminhos individuais para o prazer musical, sem sermos bombardeados com mais alegações de superioridade para um método ou outro.
Então, talvez nossos debates possam se concentrar em algo importante – como a música. Ou isso é outra heresia audiófila?
Vade Forrester é revisor de equipamentos para a publicação The Absolute Sound e a The SoundStage! Network
“What If Digital Had Never Happened?” Steve Guttenberg na Stereophile.
“Do Digital Masters Ruin Vinyl Records?” Brent Butterworth na SoundStage!
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