Dica 1 – Posicionamento de Equipamentos de Som

Estamos inaugurando uma nova seção de dicas, onde buscaremos apresentar algumas sugestões para incrementar o seu sistema de som.
Nesta primeira dica, apresentaremos a melhor solução para posicionar o seu equipamento de som na sala.

Por: Eduardo Martins

As sugestões que apresentaremos nesta seção de dicas são baseadas em soluções amplamente testadas e confirmadas, podendo ser aplicadas com toda segurança e a certeza de que não se tratam de “devaneios” sobre o tema.
Nosso objetivo nesta série de artigos será fornecer informações úteis e confiáveis para orientar o audiófilo a extrair o máximo de seu sistema de som, buscando separar o que é verdade do que é fantasia neste hobby, e proporcionando informações de real valor para o leitor.

Neste primeiro artigo, a nossa dica é voltada ao posicionamento dos equipamentos de som na sala, mais especificamente os componentes eletrônicos, como amplificadores, players e todos aqueles que normalmente instalamos num móvel ou rack.
É muito comum vermos, até em salas de “referência” de lojas e revistas, uma disposição inadequada dos equipamentos eletrônicos. Erros básicos que poderiam ser evitados e proporcionariam um desempenho superior do sistema.

No caso do posicionamento dos equipamentos, essa preocupação é muito importante, pois a sua localização inadequada pode expor os equipamentos a vibrações indesejadas, ou mesmo interferir na formação correta do palco sonoro pelas reflexões e outras interferências causadas na acústica da sala.
Muitas vezes, tenta-se corrigir o problema com o uso de móveis especiais (racks) e outros acessórios para controlar as vibrações do sistema de som, mas, além de serem produtos caros, já que muitas soluções, além de bizarras, apresentam apelos para elevar artificialmente o seu valor, não conseguimos ainda obter os resultados esperados, pois as vibrações muitas vezes vêm pela movimentação do ar deslocado pelos alto-falantes das caixas, e tentar isolar o equipamento do piso ou do móvel se mostra uma solução inútil.

O que podemos fazer então para melhorar esta situação?

Na figura abaixo, vemos uma disposição típica de uma sala de som com os equipamentos eletrônicos localizados entre as caixas acústicas.

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A disposição mostrada acima, e bastante comum até em salas de “referência” utilizadas para testes de produtos por avaliadores “especializados”, é a menos recomendada, e provoca uma série de problemas de difícil solução, mesmo com o emprego dos mais diversos dispositivos de controle de vibração (a maioria não passa de placebo) encontrados no mercado.

Na condição acima, além do conjunto interferir diretamente nas condições acústicas da sala, já que se encontra localizado num ponto importante de reflexão das ondas sonoras e assim causar um efeito destrutivo na reconstrução do palco sonoro, este local possui uma forte concentração de energia sonora, principalmente das baixas frequências que são reforçadas pelos cantos e o fundo das caixas. Os players de discos digitais e os toca-discos de vinil são os componentes que mais sofrem nestas circunstâncias, não excluindo aqui os problemas causados em outros componentes do sistema.

Uma forma de melhorar esta situação seria posicionar os equipamentos em uma das laterais da sala (jamais no fundo onde muitos problemas se repetem), e se possível fora do caminho das primeiras reflexões laterais, algo próximo ao mostrado na figura a seguir.

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No arranjo mostrado na figura acima, teremos um controle muito melhor da acústica, com uma formação mais precisa do palco sonoro e uma redução das vibrações sofridas pelos equipamentos.

Alguns leitores poderão questionar o fato de que nesta disposição seremos obrigados a utilizar cabos de caixas mais longos, aumentando, inclusive, o custo desta ligação.
Porém, as vantagens obtidas com esta sugestão compensam o maior comprimento dos cabos. Além disso, já sabemos hoje que um sistema de som high-end não precisa de cabos que custam milhares de dólares o metro, e que a maioria destes cabos são artificialmente caros sem motivos para isso.

Outras vantagens da instalação dos equipamentos nas laterais é a menor distração visual com o espaço mais “limpo” que se forma à frente do ouvinte, e também a menor distância para se locomover até os aparelhos, quando necessário.

A solução ideal, porém, seria excluir definitivamente os equipamentos deste espaço, uma solução que adotei em minha primeira sala há mais de 15 anos e que mantive nas salas que foram posteriormente montadas (inclusive a atual). Uma idéia que já foi experimentada por muitos amigos que aprovaram totalmente os resultados.
Esta é uma solução mais difícil de ser implementada, e consiste em instalar os equipamentos numa saleta individual em uma das paredes da sala. Esta saleta pode ser pequena, suficiente para conter os equipamentos, ou maior (no meu caso de 1,30 x 3,00 metros), o que permite acesso aos fundos dos equipamentos, facilitando a manutenção (limpeza periódica de cabos e conectores, por exemplo) e outras intervenções. Esta saleta pode ser ainda melhor climatizada para maior desempenho dos equipamentos, e ser também aproveitada para guardar equipamentos e discos, de filmes ou música.
O acesso a esta saleta pode ser feito pela própria sala de audição, ou por outro cômodo ou corredor conjugado.

O acesso aos equipamentos pode ser feito através de uma abertura na parede da sala, que deverá receber um painel de fechamento vedado e com o adequado tratamento acústico.
No meu caso, utilizo uma porta dupla de MDF espesso e reforçado estruturalmente, com as faces voltadas à sala de audição revestidas de material absorvedor acústico.

Esta solução é a que considero ideal, pois isola totalmente os equipamentos da sala de audição, facilita muito o acesso aos seus componentes, permite maior facilidade de limpeza e ajustes, troca de cabos e controle adequado de temperatura, ventilação e umidade dos equipamentos.

Uma sugestão desta solução pode ser vista abaixo, podendo ser incrementada com vários recursos.

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Esta saleta pode ser parte de um cômodo já existente, pode ser construída como um anexo, ou, dependendo do tamanho da sala, pode ser resultado de uma parede divisória instalada na mesma. O ideal é que a parede seja feita de alvenaria, blocos (menos recomendado) ou tijolos (preferencialmente).
Esta parece ser uma solução mais complexa, mas as vantagens aqui obtidas compensam muito o trabalho.

Para maior ilustração, apresento algumas fotos do projeto feito para a minha sala atual. Neste caso, a saleta já fez parte do projeto de construção da nova casa. Na sala anterior, em minha outra casa, eu apenas desloquei a parede que dividia a sala para outro quarto, aumentando a sala e criando a saleta de equipamentos, com a porta de acesso, naquele caso, pelo corredor da casa, onde era a porta original do quarto.
Nesta nova sala, o acesso pode ser feito de duas formas, através de uma porta comum interna da casa, ou pelo próprio painel que dá acesso à saleta, que atualmente também tem esta função, mas que pode ser utilizado para ampliação do rack (intenção do projeto inicial).

Seguem as fotos:

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Perceba que o acesso fica atrás das caixas frontais esquerdas. Fechado, ele acompanha o projeto de tratamento acústico, e nenhum equipamento fica exposto.
Todo o controle dos equipamentos é feito por um repetidor de IR, para que um controle remoto universal possa acionar todos os comandos dos equipamentos sem a necessidade de abrir a porta de acesso.
As portas são corrediças, e montadas com um projeto próprio e específico para evitar vibrações.

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Na foto acima, podemos ver uma das portas abertas, expondo os equipamentos. Da metade para baixo temos aqueles de uso em áudio estéreo, e da metade do rack para cima temos os equipamentos do HT.

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A porta direita aberta dá acesso à saleta pela própria sala de audição.

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O espaço da saleta também é aproveitado para guardar equipamentos e discos.

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À direita da saleta temos outra estante de discos de música e filmes, e a outra porta que dá acesso à casa.
Esta porta permite a entrada de objetos maiores, se necessário.

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Aqui podemos ver os fundos do rack.
O acesso é muito facilitado, permitindo a troca de componentes, manutenções e limpeza com muita facilidade.
O rack é construído com tubos de perfil quadrado fabricados em PRFV (fibra de vidro), material bem inerte e de baixa vibração. Todos os tubos são fixados por parafusos sextavados de inox, fornecendo alta rigidez ao rack, que é também fixado por parafusos na parede frontal, lateral e no piso, proporcionando uma rigidez ainda mais elevada.
As prateleiras são feitas de MDF espesso de 25 mm, e os equipamentos mais críticos são ainda apoiados em pés especialmente feitos com borracha absorvedora de vibração, um disco de acrílico e uma folha de polipropileno.
Para se ter uma idéia do resultado deste projeto, é possível dar um soco na estante ou nas prateleiras que nenhum ruído é reproduzido pelo toca-discos de vinil, algo impossível de se obter com estantes convencionais ou mesmos os esotéricos e caríssimos racks high-end disponíveis no mercado.

Apesar da grande quantidade de equipamentos e conexões como DACs, pré-amplificador, amplificador de potência, três players, toca-discos de vinil, pré de fono, dispositivo de correção digital, receiver, etc… não há uma bagunça de cabos. A razão disso é que a maioria dos cabos foi redimensionada para não haver sobras, diminuir sua interação e reduzir captações indesejadas. Inclusive, nem a utilização de um sistema multicanal para reprodução de áudio prejudicou a organização. Um dos benefícios disso é que enquanto muitos usuários buscam aumentar o silêncio de fundo para níveis “sepulcrais”, neste caso não há qualquer ruído de fundo. Ele é inexistente, sem a necessidade de gastar fortunas nas soluções esotéricas que o mercado oferece.

Não é possível ver nestas fotos, mas há um segundo rack menor junto ao piso onde se encontra a “usina” de força para alimentar os equipamentos, com um Powerline Audiófilo (ByKnirsch), um filtro de linha adicional da PS Audio e um nobreak senoidal SMS para o sistema de projeção, outra facilidade de se ter uma saleta dedicada.
Um sistema de ventilação forçada mantém os equipamentos ventilados, e um dispositivo de controle de umidade evita a proliferação de fungos ou a oxidação dos componentes e contatos elétricos.

Uma das vantagens de localizar a saleta neste ponto é a proximidade das caixas. Os cabos passam por tubos de cobre aterrados, de grande diâmetro, embutidos nas paredes. Nada de bagunça, e isolamento total de interferências.

A localização dos equipamentos é muito mais importante do que se imagina. Poucos dão importância para este item fundamental.
Até a avaliação de equipamentos é muito mais precisa e confiável nestas condições controladas.

Portanto, nossa primeira dica desta séria de artigos é posicionar da melhor forma possível os equipamentos, nas laterais da sala, ou, melhor ainda, numa saleta exclusiva e independente.
Os ganhos são realmente perceptíveis.

Dúvidas serão respondidas com prazer.

Abraços a todos.

 

fortheserious

11 Comentários

  1. Parabéns meu caro Eduardo,
    Excelente abordagem, bem ilustrada e muito interessante do ponto de vista técnico.
    Espero novas publicações desta nova seção de dicas. Gostei da proposta.
    Mas a minha pergunta não é sobre o tema, mas uma curiosidade olhando as fotos de sua sala, pois nas fotos que vi da reportagem de sua nova sala publicada há alguns meses, notei a presença do que acredito ser um supertweeter de ribbon no topo de suas caixas. Nestas fotos notei que eles não estão mais presentes. Você retirou eles das caixas? Porque? Ou são outras caixas?

    Um abraço, meu caro, e parabéns pelo trabalho que realiza aqui.

    Ivan

  2. Grande Ivan !!!

    Obrigado pelas palavras incentivadoras.

    Tratam-se das mesmas caixas acústicas. Somente um par foi construído.
    Você percebeu certo, havia um tweeter ribbon em cada caixa, mas repare que eles estavam apenas colocados sobre elas para testes.
    Eles foram retirados para a montagem dos suportes definitivos no mesmo padrão de acabamento do restante das caixas, para não ficarem com aquela cara de adaptação.
    Deu certo sim, funcionaram muito bem.
    Os testes mostraram que a melhor montagem foi na disposição horizontal e acima do tweeter softdome.
    Mesmo assim, eles terão um leve ajuste de posicionamento tanto no eixo vertical como no horizontal. Em breve coloco mais detalhes da montagem.

    Um grande abraço,

    Eduardo

  3. Olá Eduardo
    Aqui está mais um artigo de grande importância para o correcto desempenho dos equipamentos de audio.
    Actualmente tenho um problema de posicionamento do meu sistema por falta de espaço.
    Tenho os equipamentos no meio das colunas de som com a agravante de imediatamente por cima dos equipamentos ter na parede um LCD 4K de 55″.
    O resultado é que o LCD através do cabo HDMI que liga ao BLU-RAY estando este ligado ao amplificador integrado, produz um ruido eléctrico nas colunas de som.
    Desligando o cabo HDMI esse ruido desaparece.
    Penso que o problema passaria por afastar os equipamentos o mais possivel do LCD, visto que os seus leds são inimigos de qualquer sistema de audio.
    Gostaria de saber a sua opinião a respeito deste pequeno problema que me está a deixar desesperado.
    Já agora devo referir que isto só acontece se o BLU-RAY estiver ligado ao amplificador directamente numa entrada de linha por cabos analógicos, não acontecendo se o BLU-RAY for ligado ao amplificador via DAC externo não estando assim ligado directamente ao amplificador.
    Agradeço mais uma vez a sua atenção e sabedoria na abordagem de todos estes temas importantissimos ao desempenho dos nossos sistemas de som.
    Bem Haja

    José Santa

  4. Olá Jose Santa,

    Veja como é importante essa questão do posicionamento de equipamentos.
    Por isso defendo tanto que eles não fiquem na mesma sala de audição. Imagine quantos testes de equipamentos têm seus resultados alterados por conta destas interações indesejáveis.

    Pouca gente sabe, mas existe uma facilidade muito grande dos divisores de frequências das caixas acústicas captarem sinais eletromagnéticos do ambiente e de RF provenientes das estações de rádio, por exemplo.
    Por essa razão, minhas caixas foram construídas com uma blindagem eletromagnética no compartimento do divisor, e tudo é devidamente aterrado.

    Muita gente acha um absurdo aterrar caixas acústicas, mas o absurdo mesmo é imaginar que este recurso é dispensável.
    Discuti muito esse tema com um técnico de uma fábrica de caixas acústicas high-end, e ele me disse que nem eles utilizavam este recurso por mera economia, apesar de algumas de suas caixas custarem uma fortuna (conectores e detalhes banhados a ouro bem brilhante cativam mais o consumidor).

    Se eu entendi corretamente a sua explicação, quando você liga o blu-ray ao integrado pelos cabos RCA aparece um ruído em suas caixas, mas se ligá-lo com um DAC intermediário esse problema não acontece. É isso mesmo?
    Isso está me parecendo algo a ver com aterramento.
    Alguns cabos analógicos são aterrados apenas numa extremidade (normalmente do lado que seria ligado no amplificador). Eu tentaria começar nesse direção.
    O problema também acontece com apenas um cabo (um canal) ligado?

    Abraços

    Eduardo

  5. Olá Eduardo
    Obrigado pela sua explicação. O Eduardo entendeu correctamente.
    Irei testar ligação com cabos RCA que pedirei emprestados ao importador da QED em Portugal, cabos esses com blindagem reforçada e marcados com a direcção do sinal, penso que será essa indicação que informa qual a extremidade que tem aterro.
    Estarei certo?
    ABRAÇO

    Jose Santa

  6. Olá Jose,

    Acho que este teste será nem interessante. Por favor, me conte depois o que aconteceu.
    Os cabos QED são excelentes, gosto muito da marca.

    Abraço

    Eduardo

  7. Olá Eduardo,

    Na minha sala os equipamentos eletrônicos estão atrás das caixas de som e embutidos no móvel, apenas com a parte da frente aberta. As caixas estão posicionadas fora do móvel e cerca de 50 cm á frente. Não há nada entre os 3 metros que separam as caixas uma da outra. Nesse caso existiria algum problema? Obrigado!

  8. Olá, Tiago.

    O ideal seria não ter nada nesta área onde está o seu móvel.
    Mas, veja que tudo o que sugiro aqui é para extrair um melhor desempenho do sistema, otimizá-lo. Tem muta gente que gasta uma fortuna em cabos que pouco ou nenhum benefício de fato vai proporcionar.
    A intenção é tentar sugerir soluções que estejam ao alcance do usuário e que não represente investimentos muio elevados.
    Mas, se você está satisfeito com o som do seu sistema, e a sugestão é complicada para o seu caso, não há problema em manter as coisas como estão.

    Abraços

    Eduardo

  9. É muito comum lá fora, principalmente na Europa, o sujeito posicionar o equipamento na lateral.
    Aqui no Brasil até as salas tidas como referência possuem equipamentos entre as caixas. Um erro fatal tanto para a acústica como para os equipamentos.
    Recomendo que não se use TV na parede frontal também. Ela provoca fortes reflexões também.

  10. Olá Aguiar,

    Obrigado pelas contribuições nas mensagens enviadas.
    Não vejo problema em usar uma TV na parede frontal, desde que a sua tela não fique exposta.
    Na minha sala antiga ela ficava embutida na parede, e fechada com duas portas de MDF revestidas com absorvedores acústicos.
    Atualmente ela é protegida por um revestimento móvel motorizado, utilizado em audições em estéreo. Vou complementar o artigo da minha nova sala com as mudanças já concluídas.

    Abraço

    Eduardo

  11. Nos anos 50 falava-se muito naquelas caixas acústicas “de canto”; não é um desenho razoável para aplicar? Ainda mais que ter um cômodo só para música é algo complexo hoje em dia e, modo geral, a disposição das caixas está atrelada à maneira que a esposa pretende espalhar os demais móveis.

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