Por: Eduardo Martins
O Objetivo deste tratado é oferecer informações úteis para a construção de uma sala dedicada para apreciação de música e filmes. A música é prioridade, mas por consequência o ganho obtido na utilização de um sistema de home-theater também será bastante evidente.
Depois de mais de 30 anos me dedicando ao hobby de áudio e vídeo, posso afirmar hoje, com total segurança, que a sala é o principal elemento de uma boa instalação, mesmo porque uma sala sem os devidos cuidados não se presta a extrair o verdadeiro resultado de desempenho de um sistema como um todo, e muitas vezes isso acaba por provocar inúmeras substituições de componentes do sistema, sem o resultado esperado, e muitas vezes com consequências desastrosas.
Recentemente vi uma publicação usar uma expressão que criei há muitos anos para descrever essas tentativas de obter uma melhoria do sistema sem conseguir o resultado esperado, seria os “upgrades horizontais”. Na verdade, tratam-se de tentativas inúteis que, por várias razões, não agregam qualquer benefício real ao sistema.
Uma destas razões é justamente a sala.
Não estou sugerindo a construção de salas “exóticas” com soluções exageradas e muitas vezes quase inviáveis. Mas, muitos cuidados, até de baixos custos, podem proporcionar resultados surpreendentes.
Vá vi muitos sistemas singelos montados em boas salas apresentarem um resultado melhor que outros caríssimos, de altíssimo nível montado em salas sem os cuidados necessários.
Acreditem ou não, já vi um sistema de som da Sony, do tipo “mini-system”, apresentar um resultado mais “agradável” que alguns conjuntos hi-end de entrada, muitas vezes insuportáveis.
Um outro problema bastante comum é que, tentando corrigir alguma deficiência da sala, o sujeito acaba utilizando componentes que “mascaram” o problema, e assim acabam por redefinir toda a qualidade do sistema, logicamente para baixo, sem perceber-se disso.
Por isso, recomendo sempre começar pela sala, depois pelos equipamentos.
Um exemplo bastante comum (e que aconteceu comigo também) é quando utilizamos caixas acústicas que utilizam modernos tweeters de domos metálicos, ou mesmo supertweeters. O desempenho destes componentes é excelente, porém, numa sala ruim, podem soar “estridentes”. Não é um problema da caixa, pelo contrário, a maioria das melhores caixas do mundo utilizam tweeters metálicos. O problema é a interação do componente com a sala.
É como querer aproveitar o desempenho de uma Ferrari numa rua de terra esburacada e com lama, ou querer “brincar” com um jipe 4×4 num asfalto.
Assim é a sala. Ela deve ser compatibilizada com o sistema desejado, e quanto melhor o nível do equipamento, mais podemos extrair de uma boa sala.
Quando se fala em uma sala adequada para áudio, muitos imaginam logo o tratamento acústico. Sim, tratar a sala para que tenha um bom resultado acústico é importante, mas não é somente a acústica que deve ser cuidada. A instalação elétrica, o cuidado com o posicionamento dos equipamentos, dos objetos da sala, de sua temperatura, do tipo de iluminação utilizada e outros fatores devem receber muita atenção.
É sobre isso que trataremos aqui. Aos poucos (a falta de tempo é constante) iremos introduzir um novo tema, e abordá-lo de forma prática, sem muitos rodeios científicos ou matemáticos, com dicas úteis para quem quer construir uma sala dedicada ou melhorar aquela que já tem.
Será um texto bastante ilustrado, inclusive com fotos de soluções utilizadas em meu próprio sistema. Algumas mais caras, e inúmeras outras mais simples e baratas de serem implementadas, com resultados bastante positivos.
Começaremos pela acústica. Tentaremos ser práticos, sem muita teoria, mesmo porque muitas teorias de acústica foram recentemente questionadas, e não há um entendimento pacífico sobre algumas delas.
O que sugiro sempre é partir de um modelo básico, e através de experiências aprimorar o que foi feito.
Recomendo também que sempre se leia muito sobre este e outros temas. São muitas informações que merecem ser conhecidas para incrementar os trabalhos.
Melhorando a Acústica
Um dos itens mais importantes de uma sala de home-theater ou de audição de música é o cuidado com o tratamento acústico.
Não pretendo aqui entrar em conceitos teóricos profundos sobre o assunto, até mesmo porque já existem muitos tratados sobre isso pela internet. Recomendo os artigos do Engenheiro Jorge Knirsch ( http://www.byknirsch.com.br ) que abordam aspectos interessantes sobre este tema. Mesmo os estudos sobre este assunto divergem, e não há um entendimento único sobre o tratamento acústico de um ambiente.
Pretendo aqui, tão somente, abordar a minha experiência no assunto, de forma prática, auxiliando aqueles que querem melhorar um pouco a acústica de sua sala.
É importante a ressaltar aqui que, sem um mínimo de tratamento acústico adequado, uma sala não tem qualquer condição de mostrar com fidelidade o potencial de qualquer instalação. Em muitos casos, recomendo que se inicie uma sala pelo trabalho acústico, exceto para aqueles que não desejam um compromisso muito sério com a fidelidade.
Minhas dificuldades começaram numa sala pequena, de apenas 3,8x4m. Por mais que eu investisse em equipamentos de qualidade, o resultado ainda deixava a desejar.
Sempre gostei de caixas com grande extensão de agudos, principalmente aquelas com tweeters de domo rígido (diferente daqueles de seda), que equipam prestigiadas e premiadas marcas como B&W, Wilson Audio, JMLab, Paradigm e tantas outras que estão no topo das mais conceituadas listas do mundo.
A minha escolha inicialmente caiu sobre um par B&W bookshelves, mais tarde substituídas por modelos torre de uma série superior, e atualmente por um par de Wilson de muito melhor desempenho.
Na época das B&Ws, os agudos sempre pareceram um tanto incômodos, e apesar de bastante extensos, soavam um tanto desagradável.
O curioso é que, por força de trabalho, viajava freqüentemente e aproveitava para visitar alguns amigos audiófilos na Europa, a maioria na França e Bélgica. Lá, as caixas inglesas B&W são maioria, e a marca equipa muitas instalações hi-end que tive o prazer de conhecer e apreciar.
Mas, aí ocorria um fato curioso, o som que eu ouvia não era incômodo como aquele que eu experimentava em meu sistema. Depois de muito pesquisar, descobri que a razão disso estava em alguns cuidados no tratamento acústico e elétrico da sala, além de outros que veremos adiante.
Minha primeira providência na tentativa de melhorar o desempenho do meu sistema foi, experimentalmente e por recomendação de um amigo, colocar um colchão de espuma, de casal, atrás das caixas acústicas e entre elas, e mais dois de solteiro, um em cada parede lateral aproximadamente na posição central entre as caixas e a poltrona.
O resultado foi logo positivo, com uma melhora bastante significativa na qualidade do som.
Depois de mais alguns estudos, decidi partir para uma sala maior, retirando uma parede que dividia esta sala de um dos quartos de hóspedes que nunca havia sido usado. A sala passou a ter uma dimensão de 4x8m, que foi mais tarde reduzida para aproximadamente 4x7m, como veremos mais tarde, para isolar os equipamentos da sala principal.
A segunda providência foi justamente aplicar o tratamento acústico na nova sala.
Só para se ter uma idéia do trabalho envolvido, esta sala ficou 5 meses em reformas, sem poder ser utilizada, mas o sacrifício valeu a pena.
Boa parte dos trabalhos foram realizados por mim, pois não encontrei ninguém comprometido com a qualidade e o detalhamento absoluto que eu procurava. Assim, resolvi fazer com minhas “próprias mãos” como publicou uma revista na época ao fazer uma reportagem sobre esta sala.
Mas, foi justamente na hora dos trabalhos acústicos que a coisa complicou bastante.
Tive inúmeras opiniões do que deveria ser feito na sala, com o revestimento de paredes, tetos, instalação de armadilhas de graves, etc. Muitos apresentavam conceitos teóricos baseados em muitos especialistas mundiais sobre o assunto, mas dificilmente as opiniões coincidiam.
A resposta veio de uma empresa de São Paulo, responsável por um dos maiores projetos acústicos (se não o maior) de sucesso do Brasil.
Não divulgarei o nome da empresa, pois foi me pedido que entrasse em contato com o seu pessoal de assessoria de imprensa para seguir uma linha de divulgação baseada nos critérios publicitários dessa empresa. Desculpem, mas, apesar de ter ficado muito grato pela ajuda oferecida, não trabalho com manipulação de imagem publicitária, pois este site não tem qualquer objetivo ou linha comerciais.
A sugestão era conhecida como “meia viva, meia morta”, um tratamento que visava absorver as reflexões primárias das ondas sonoras deixadas pela caixa, principalmente na parte frontal. Deixando a parte anterior mais “viva”. Não me perguntem qual o embasamento técnico dessa teoria que a difere de outras, só sei que funcionou.
Para melhor compreensão, farei aqui um apanhado bastante breve e superficial sobre alguns termos que considero mais importantes: reflexão, absorção e difusão acústicas, sempre de forma bastante simples e prática, para maior objetividade.
Quando o som deixa as caixas acústicas, uma parte dele se dirige direto ao ouvinte, e outra parte é refletida na sala, pois o som não sai como um foco de luz de uma lanterna direcional, ele se espalha no ambiente, refletindo pelos objetos, paredes, teto, etc., ou sendo absorvido por estes. Pode ocorrer ainda o “espalhamento” da onda sonora em diversas outras que são refletidas de modo desordenado.
Assim, quando o som é refletido pelo objeto, chamamos de “reflexão”, quando é absorvido por ele, chamamos de “absorção”, e quando ele ao atingir o objeto se espalha de forma desordenada, chamamos de “difusão”.
Chamamos de primeiras reflexões aquelas que deixam as caixas e refletem uma única vez nos objetos (paredes, teto, piso, etc). Segundas reflexões são aquelas que refletem duas vezes, e assim sucessivamente.
As primeiras são as mais sérias, enquanto as demais vão progressivamente perdendo importância.
Ou seja, em adição ao som direto das caixas, somamos aqueles refletidos, como mostra a figura abaixo.
Os materiais (parede rebocada, vidro, espuma, madeira, etc…) refletem ou absorvem as ondas sonoras com intensidades diferentes.
Quando queremos absorver as primeiras ou as demais reflexões, usamos materiais absorventes como a espuma acústica ou a lá de vidro, além de outros componentes menos comuns.
Não entraremos aqui em coeficiente de absorção, faixa de freqüência de atuação ou outros termos mais específicos, porém recomendo fortemente um estudo sobre isso nos diversos artigos de fontes confiáveis que podemos encontrar na Internet.
Usualmente, para combater as primeiras reflexões, utilizamos material absorvedor no ponto onde ela reflete. Esse ponto pode ser encontrado com um espelho. Enquanto o ouvinte sentado na posição de audição observa o espelho, uma segunda pessoa vai posicionando-o entre as laterais das caixas até que o ouvinte veja a caixa. O som fará nesse ponto sua primeira reflexão, de forma similar ao reflexo da imagem, como mostra a figura abaixo:
O ideal é tratarmos essa parte das paredes laterais com material absorvedor, mas não somente ela, teto e piso também. Por razões práticas, um tapete no piso pode ser uma solução aceitável, mas mesmo para isso precisamos de alguns cuidados, como usar um tapete mais espesso, ou com uma camada de manta de algodão por baixo.
Abaixo mostramos o que acontece com a absorção das primeiras reflexões:
Seguem alguns modelos de absorvedores acústicos:
Em outras situações, é preferível difundir o som, e não absorvê-lo. Alguns recomendam o uso mesclado destas duas soluções, obtendo um efeito parecido como abaixo:
Seguem alguns modelos de difusores:
Há também a questão das baixas frequências (os sons mais graves). Essa faixa de áudio é bastante difícil de ser tratada, e os cantos vivos da sala, além de outros fatores, prejudicam ainda mais este problema.
Assim, habitualmente, faz-se uso de dispositivos para “capturar” parte desses graves “soltos” em excesso no ambiente.
Alguns destes dispositivos são mostrados abaixo, normalmente situados nos cantos da sala:
Abaixo, alguns modelos de salas tratadas acusticamente:
Seja o primeiro a comentar