Entenda o que é audiofilia, som “high-end” e conceitos básicos da reprodução eletrônica de música em alta fidelidade.
Durante muito tempo eu participei de fóruns de áudio, escrevi para revistas especializadas no tema e participei do mundo do áudio de alta-fidelidade, que ao longo do tempo recebeu pomposos nomes de “som audiófilo”, “som hi-end” entre outros.
O que eu aprendi durante todo esse tempo é que muitos buscam complicar o simples, enfeitar o tema, criar um ofuscamento ao mesmo tempo em que oferecem as mais suspeitas sugestões, e razões para isso não faltam.
Participei de um conhecido fórum de áudio e vídeo, voltado para audiófilos e cinéfilos (que mais tarde se perdeu numa infinidade de temas desconexos), tive o meu próprio fórum e mantenho hoje o meu blog sobre o assunto. Há 45 anos me dedico à música, sempre buscando entender todos os elementos envolvidos na reprodução em alta-fidelidade.
Nunca aceitei o subjetivismo, o “é assim por que é” ou “o áudio hi-end é cheio de mistérios inexplicáveis”, além de outras manifestações que nada explicam, apenas complicam. Com uma formação técnica na área eletrônica e anos na Engenharia Elétrica, o “inexplicável” não faz parte da minha longa atuação nesse hobby.
Sofri ameaças e represálias por mostrar as pilantragens que existem nesse mundo do áudio. Os críticos, que buscavam todo o tipo de vantagem sem muita ética, encheram a internet de provocações e ataques a tudo o que eu escrevia e ainda escrevo.
Mas, nunca me preocupei com isso. Quanto mais duro era o ataque, apenas mais dura era a resposta.
O som de alta-fidelidade (ou áudio hi-end como preferirem pela popularidade da terminologia), que se tornou rapidamente e equivocadamente sinônimo para audiofilia, começou bem no Brasil, ganhando força nas últimas décadas, mas foi rapidamente contaminado por todo tipo de interesse pessoal, pouco admissíveis sob o ponto de vista ético e moral.
Vou tentar resumir aqui o que vi e senti na minha trajetória por esse mundo confuso da audiofilia, e tentar ajudar os leitores que chegaram aqui buscando, principalmente, entrar nesse fascinante universo. Mas, tenho certeza que muitos outros que estão cansados de dar voltas e de não sair do lugar, ou mesmo aqueles que já foram enganados por “espertinhos”, também vão encontrar algumas respostas neste texto.
Nunca atuei profissionalmente no segmento de áudio. Nunca tive lojas ou publicações pagas. Jamais cobrei assinaturas ou permiti qualquer anúncio no meu blog ou no fórum que tive. Lá no meu blog as páginas do site não abrem cheia de propagandas, banners e janelas irritantes lotadas de conteúdo comercial.
O áudio pra mim sempre foi um hobby, e compartilhar conhecimentos é uma grande satisfação pra mim. Sou advogado e empresário, atuando na área de importação e exportação de equipamentos na produção industrial, sem qualquer vínculo com a indústria de som e vídeo.
O que é um audiófilo?
Audiófilo é um apaixonado pelo som musical reproduzido ao vivo ou através de equipamentos eletrônicos. O Audiófilo busca conseguir na sua sala de audição uma qualidade de reprodução musical que seja mais fiel possível ao da gravação original, que por sua vez deve ser a mais exata cópia da reprodução real. O audiófilo busca obter essa reprodução de alta-fidelidade através de equipamentos de elevada qualidade, muitas vezes chamados de equipamentos “hi-end” ou “high-end“.
O que é um sistema de som “Hi-End” ou “High-End“?
“High-End” significa algo sofisticado, de elevado desempenho, alta tecnologia e de qualidade premium. Apesar de poder ser usado para designar a qualidade de inúmeros produtos, no segmento de áudio um “som high-end” se refere a equipamentos de alto desempenho que representam o melhor da tecnologia disponível para oferecer um som de altíssima fidelidade.
Como o conceito de áudio de alta fidelidade se propagou no Brasil?
Já na década de 50, costumava-se usar o título de “Alta Fidelidade” em equipamentos de som fabricados aqui ou importados que chegavam no Brasil. Mas, a alta fidelidade veio a se fortalecer décadas depois após a crescente evolução tecnológica, como, aliás, aconteceu em todos os setores, seja no automobilístico, na medicina ou em qualquer outro.
Quando eu destaco a propagação do conceito de áudio fidelidade, eu o faço evitando falar em propagação do Conhecimento de alta fidelidade, pois, infelizmente, a informação que aportou aqui restou quase sempre manipulada ou distorcida por uma série de interesses.
Inicialmente, formaram-se alguns grupos de apaixonados pelo áudio, ou pela música bem reproduzida, mais propriamente dito. Começaram a surgir grupos de discussão que utilizavam e-mails ou redes virtuais de grupos que foram sendo criados. Mais tarde, surgiram as publicações de áudio, os fóruns e sites informativos, até as redes sociais mais atuais.
E foi nesse caminho que, infelizmente, muita coisa se perdeu.
Publicações impressas de áudio e vídeo
Várias revistas impressas foram criadas para tratar do tema no Brasil, e como acontece com quase todas as publicações impressas, a interferência de anunciantes, patrocinadores, fabricantes, importadores e lojas começaram a colocar a lucratividade acima da informação.
A situação começou a ficar tão escandalosa que teve publicação que manipulava imagens digitalmente para criar salas dentro de suas necessidades de divulgação, ou que começaram a avaliar equipamentos que muitas vezes sequer saiam das suas embalagens, criaram um mundo de ilusão cheio de contradições e conceitos equivocados, chegando a criar metodologias e avaliações totalmente voltadas aos interesses dos seus anunciantes. O leitor ficou assim perdido num universo confuso, onde frases como “segredos guardados a sete chaves”, “coisas que a ciência não explica”, “o subjetivismo é mais preciso do que a realidade”, e outras foram tomando conta de suas páginas, confundindo ainda mais os leitores que começaram a acreditar que o universo do áudio hi-end era baseado em “ciências ocultas” que ninguém poderia explicar. Era assim e pronto!
Era fácil para o fornecedores de conteúdo manipular o leitor, bastava apenas reforçar a ideia de que a engenharia e a ciência não podia explicar tudo, e assim fazer crer que o verdadeiro valor dos produtos estava na “magia” de seus criadores, não na ciência, mesmo sabendo-se que para projetar um equipamento era necessário o conhecimento técnico, a ciência e anos de desenvolvimento servindo como referência.
Para piorar ainda mais a situação, surgiram componentes esotéricos, mais fáceis de serem criados até por pessoal mais leigo (cabos de conexão, por exemplo), e que proporcionavam lucros muito maiores. Assim nascia o hi-end “caro”, onde preço acabou virando sinônimo de qualidade. Claro que qualidade muitas vezes custa mais caro, mas não um absurdo.
Eu poderia relacionar aqui muitos casos que ilustram bem essa situação, mas eles já estão explorados em detalhes aqui no Hi-Fi Planet, e vale a pena garimpar estes detalhes para entender melhor os absurdos que vivemos com estas publicações nestes anos todos.
Fóruns de audiofilia e som hi-end
O mercado também viu surgirem os fóruns de áudio, que normalmente começavam com um “hobbista” de som ou um grupo de amigos com o mesmo interesse, mas que, novamente, se transformavam em lojas de áudio e lotavam de anunciantes e patrocinadores.
Como os preços continuavam subindo de forma exponencial com a confusão que criavam, o lucro era alto, e não só as publicações impressas faturaram com isso, mas os donos de fóruns também.
Eu participei de alguns destes fóruns, e acabei deixando-os quando perderam a inocência do hobby e viraram uma mina de outro para seus donos e participantes “especiais”. Vi a criação de centenas de membros fakes com o intuito único de elogiar marcas, equipamentos, atendimento em favor de anunciantes dos fóruns, ou então o emprego do mesmo artifício para valorizar os produtos vendidos por eles em suas lojas.
Não bastassem os interesses comerciais, os fóruns também acabaram infestados de membros que inflavam os seus egos e buscavam maior status “compartilhando conhecimento” que não tinham. Alguns escondiam interesses de vender produtos próprios ou de terceiros, mas esta nova “espécie” de participantes buscava mesmo ser os gurus de algo que definitivamente nada entendiam. Ainda hoje vemos muito disso em alguns poucos fóruns e redes sociais que oferecem espaços para discussões.
Gente que se apoiava em “qualidades” como “ouvintes de centenas de equipamentos”, “experiente audiófilo com 50 anos de hobby” e outros adjetivos quase tão inúteis quanto os seus conhecimentos distorcidos.
E foi nesta época, cansado destes comentários, que criei uma “armadilha” para um grupo de “experientes audiófilos com décadas de experiência no hobby“, construindo um cabo de áudio com um cabinho barato de antena de TV e conectores banhados de “ouro fake“, encapado com uma bela malha de seda e com uma marca muito famosa da época estampada no cabo. Não faltaram elogios ao “super” cabo audiófilo, e encomendas foram chegando com o desejo de pagar os 1.000 dólares que eu disse que o tal cabo “hi-end” valia na época.
Claro que a minha intenção foi apenas comprovar algo que eu já sabia, jamais ganhar dinheiro com isso, pois não era honesto e eu justamente criticava esse tipo de abuso que se cometia na época. Contei a verdade, irritei um amigo, surpreendi milhares de membros de um fórum, decepcionei muita gente que já gastava fortunas em “ilusão”, irritei ainda comerciantes e importadores, e criei o que talvez tenha sido o primeiro experimento no Brasil para demonstrar o quanto a sugestão no áudio era poderosa para convencer o consumidor de algo que não era fato.
Nem todos os membros de um fórum eram aproveitadores ou “aproveitados”. Existiam muitos bons profissionais com formação científica nos fóruns que muito colaboravam para tentar separar a verdade da fantasia, mas isso era uma luta sem fim por conta da força de reações externas. O poder econômico vinha com tudo, o ego provocava sentimentos raivosos nos participantes, e o convencimento de que o consumidor era enganado acabou sendo lento e até inútil em alguns casos.
Sites especializados em audiofilia e sistemas hi-end
Depois de algum tempo, outros canais de comunicação foram sendo criados. Nascia o Clube Hi-End, um fórum criado por mim e outro amigo, onde propaganda de qualquer espécie era proibida, participantes com intenções obscuras eram imediatamente banidos, compartilhadores de falsas informações ou aqueles que tentavam ensinar o que não sabiam, eram também convidados a se retirarem. Muitos saiam raivosos, com críticas e agressões de toda espécie, mas eu apenas ria daquilo, porque sabia que o sofrimento era da parte deles, do lado do fórum a vida seguia bem.
O fórum foi muito filtrado, mas as invasões eram constantes, o que obrigou a fechá-lo para um grupo mais restrito de participantes. Ao contrário de outros espaços, a qualidade dos participantes era mais importante do que a sua quantidade, já que como não havia interesse comercial envolvido, ter apenas 100 ou ter 100.000 participantes não faria qualquer diferença. Mesmo assim, com mudanças na minha vida profissional, administrar o fórum exigia bastante de um tempo que eu não tinha mais sobrando, e acabei anunciando o seu encerramento, e que ocorreu de fato dois anos depois. Mesmo encerrado, ele ainda ficou por seis meses disponível para consultas ou cópias do seu conteúdo, favorecendo quem quisesse guardar informações úteis ou migrá-las para outros espaços, o que realmente aconteceu.
Já havia também o Hi-Fi Planet, outro projeto que me cativava mais, e se colocava com um perfil que era mais próximo daquilo que eu buscava, e ele foi mantido e continua ativo até os dias atuais, apesar da pouca atualização do seu conteúdo. Mas, o conteúdo existente ainda é muito interessante para nortear o audiófilo que está ingressando ou quer conhecer melhor o hobby.
Surgiram outros sites e canais de conteúdo com o mesmo tema, alguns sem qualquer importância, outros criados a partir de publicações impressas que não sobreviveram, e outros que mereceram respeito e até receberam recomendações do Hi-Fi Planet. Mas, poucas novidades realmente importantes surgiram nesse período.
Contradições da audiofilia
Se formos buscar tudo o que foi publicado sobre o áudio de alta fidelidade, encontraremos as mais diversas contradições feitas pelos “especialistas” no assunto. Inicialmente eles negam estas mudanças de opinião, mas depois de comprovadas, rotulam essas mudanças como “evolução de conceitos”.
Baseado em pesquisas sérias e inúmeras comprovações científicas, desenvolvi o conceito do som “customizado”. Médicos, especialistas e muita gente com conhecimento de fato foram envolvidos nesse projeto, que buscava adequar o nosso sistema de som ao nosso sistema auditivo, pelo simples fato amplamente comprovado de ouvirmos diferente. Mas, teve quem comprou uma briga pessoal contra a ideia, pois acabava expondo a fraqueza de muitos editores e avaliadores de produtos que se viram numa situação bastante desconfortável para os seus interesses comerciais.
Mas, isso foi rebatido com as próprias contradições dos falhos argumentos que usavam para criticar esta ideia, e que foram por muitas vezes expostas no Hi-Fi Planet.
Defensores incansáveis de formatos de áudio, como o vinil, apenas para citar um exemplo, também passaram por situações embaraçosas. Um deles se viu decepcionado quando descobriu que as comparações que fazia eram prejudicadas pelo player digital que usava, que, por conta de um problema da instalação elétrica, tinha uma limitação que afetava os resultados das suas comparações, e justamente nos pontos que eram destacados como prejudicados.
Tivemos também o escândalo da MoFi, uma gravadora de discos que fazia a felicidade dos “defensores do analógico” que afirmavam que a produção 100% analógica não continha os “defeitos” resultantes de etapas de manipulação digital. Mas, o escândalo que mostrou que a tão prestigiada gravadora fazia uso sim de conversões digitais, expôs o quanto os ouvidos mais uma vez poderiam enganar o mais crente dos críticos do digital, mostrando, assim, um fanatismo exagerado. Não que a gravadora não produzisse material de qualidade audiófila, pelo contrário, a qualidade das gravações era elogiável, mas a razão para isso não era aquela que um grupo de audiófilos aprendeu a acreditar em muitos anos de manipulação do mercado.
Cansamos de ver fabricantes também caindo em contradições, anunciando que os seus produtos eram modelos sofisticados que justificavam os preços cobrados, e não faltavam “avaliadores” ou “revisores de áudio” para confirmar isso. Mas, descobriu-se que estes produtos não passavam de modelos existentes baratos com roupagem “sofisticada” para lhes dar um maior prestígio que, de fato, não existia além da grife da marca.
Teve fabricante de cabos, muito conhecido no meio audiófilo, que mudava apenas a cor da capa de seus cabos, para supostamente criar linhas diferenciadas de qualidade com diferentes faixas de preços. Neste caso, novamente, avaliadores e utilizadores afirmavam que ouviam diferenças claras, sempre com mais elogios às versões mais caras, óbvio. Essas contradições foram amplamente divulgadas no extinto fórum Clube Hi-End, e logo farão parte das páginas do Hi-Fi Planet também.
Haviam as cômicas figuras que insistiam que equipamentos de qualidade valiam o que custavam. Se algo apresentava um desempenho supostamente melhor, deveria necessariamente custar mais caro. Produziam discussões acaloradas quando alguém contestava as suas opiniões, mas ao mesmo tempo diziam que um player de CD da CCE fora de linha vendido por menos de 100 reais superavam players de nível Hi-End de edições especiais oferecidos por empresas conceituadas como a Marantz.
Vimos editor de publicação audiófila em um curso de percepção auditiva (na verdade mais uma forma de convencimento de suas ideias distorcidas) elogiar um cabo de força, mostrando as suas vantagens “audíveis” sobre um cabinho de computador numa comparação, mas sem se dar conta que naquele momento o cabinho que estava instalado e sendo elogiado era o de computador que ele dizia ter um desempenho sofrível.
Testes cegos no áudio
Pelo motivo exposto acima, de contradição de conceitos, os testes cegos (avaliação sem saber qual a marca e o modelo do componente avaliado), onde o ouvinte tinha que tecer comentários de qualidade ou escolher o melhor componente numa comparação, eram temidos e rejeitados a todo custo.
Um avaliador, conhecido por seus adjetivos superlativos exagerados, com frases do tipo: “ao colocar o novo cabo em meu sistema quase caí de costas nas primeiras notas da música”, “a diferença sonora entre esses cabos era algo assustador e abismal”, “o mais impressionante foi o arrebatador silêncio de fundo que percebi em meu sistema”, quando foi convidado por mim a fazer um teste cego com estes cabos e alguns cabinhos baratos que ele dizia serem “terríveis e capazes de destruírem um sistema”, me respondeu que não poderia participar deste tipo de prova, porque “não era possível avaliar um cabo em tão pouco tempo”, era preciso muitos dias para os ouvidos “acostumarem com as mudanças”. Tenho esse e-mail guardado com muito carinho até hoje, junto com outro tentando me explicar porque ele manipulou uma foto de uma sala de demonstração, entre outros tão bizarros quanto.
Nem o segmento de vídeo escapou das escorregadas destes “gurus”. Uma vez, tentando criticar o fato (não é mais teoria) de que podemos corrigir limitações de nossa audição em um sistema eletrônico e que seriam perceptíveis ao vivo, o desesperado editor crítico insinuou que a eletrônica jamais poderia superar uma sensação “ao vivo”, que os nossos sentidos eram confiáveis (não precisamos mais de óculos… que bom…), porém, em uma reportagem publicada em sua revista, foi dito naquela oportunidade que todos os presentes que estavam numa sala num teste de uma TV concordaram que a imagem fornecida pela TV era melhor que aquela ao vivo!!! Talvez Freud explicasse isso, ou talvez o fabricante da TV que pagava por páginas de anúncios na publicação.
Em outra reportagem, ele afirmou categoricamente que cada pessoa tem uma curva de audição “única”, e que isso influencia na percepção individual já que cada um pode ouvir sons mais atenuados ou mais destacados, ou mesmo deixar de ouvir algumas frequências.
Nem eu fui tão longe em dizer que as curvas são únicas. Eu sempre afirmei que elas variam muito, mas certamente a quantidade de variações daria para estabelecer grupos com estas ou aquelas características.
Então, se as diferenças são tão perceptíveis, muitas vezes chamadas de “colossal”, “abismal”, “surpreendente”, “da água para o vinho”, “assustadora”, “arrebatadora” além de outros adjetivos que mostram uma mudança “gigantesca”, porque estas pessoas fogem tanto do teste cego?
Num grupo de whatsapp eu desafiei um vendedor de equipamentos, que participava das discussões, a fazer um teste cego no meu equipamento, depois dele dizer que “eu faria sem medo e sem recusar qualquer fosse a razão”. Quando o convite se mostrou sério e já com outros colegas se convidando para o teste, e já aceitos por mim, claro, porque não tenho nada a esconder, o desafiante recuou, e disse que só faria o teste na sala dele, e que eu teria que levar os meus equipamentos até lá, lembrando que só as minhas caixas acústicas pesam mais de 125 kg cada uma. Ele não esperava que eu aceitasse a condição imposta, mas eu concordei em levar caixas menores que eu tenho. Bem, estou até hoje esperando ele confirmar a data do teste… há uns 3 anos…
Isso nos remete a algo que vem acontecendo recentemente com muita frequência, a avaliação subjetiva de vinhos, com características de subjetividade semelhantes ao áudio. Quando as avaliações eram feitas abertamente (com conhecimento do rótulo avaliado), os vinhos absurdamente mais caros sempre ganhavam os comparativos. Mas, de algum tempo para cá começaram a realizar testes cegos de vinho, onde, surpreendentemente, alguns vinhos de algumas dezenas de reais, sempre criticados e desprezados, começaram a vencer os comparativos mesmo quando comparados a vinhos na casa dos milhares de dólares. Basta uma consulta no Google para encontrar inúmeros exemplos disso. Até avaliações feitas aqui no Brasil, por “especialistas respeitados”, começaram a dar melhor nota a vinhos nacionais baratos do que a caros vinhos europeus, tidos como alguns dos melhores do mundo.
O maior problema da subjetividade ou da mentira é que elas não resistem a um teste cego.
O feito placebo também é evidente. Quando o avaliador erra, não porque havia mentido sobre as qualidades apontadas em interesse próprio, mas porque achava que havia mesmo sentido uma diferença, temos um exemplo do efeito placebo onde a sugestão influenciou no resultado. Mas, o mercado tenta a todo custo valorizar a subjetividade além das suas limitações reais, desmerecendo medições reais de instrumentos precisos e calibrados, e enaltecendo os nossos ouvidos como se eles fossem realmente perfeitos. Isso nem os nossos olhos são, basta ver a necessidade de muitos em usar óculos, ou mesmo a facilidade de serem enganados em imagens de ilusão de ótica, muitas vezes nem propositais.
Seria como se alguém quisesse fazer crer que o nosso cérebro é mais preciso para medir o tempo do que um cronômetro. “Eu sinto que já estamos caminhando há 57 minutos e 12 segundos… e se o seu relógio disser algo diferente, certamente está errado. Parece irônico, mas é o que muitos sugerem.
Eu continuo desafiando avaliadores, críticos, profissionais ou leigos, fabricantes, editores e participantes de fóruns que “dominam o assunto” a realizar um teste cego comigo, com convidados (não abro mão de testemunhas). Porém, continuo também ouvindo as mais absurdas desculpas para não poderem participar deste feito.
Os poucos testes informais que fiz com este objetivo, revelaram contradições surpreendentes.
Óbvio que muitas das diferenças que esses profundos conhecedores afirmam perceber não existem de fato. Muitos sabem disso porque buscam realmente valorizar produtos diante de seus interesses comerciais, mas muitos sabem que não ouvem realmente estas diferenças, até acreditam que podem ouvir, mas não confiam nisso, porque sabem que são enganados pela própria subjetividade da avaliação.
O futuro da audiofilia e do áudio high-end
Afinal, com tudo isso, o que podemos esperar para o futuro?
Eu tenho muita esperança que as verdades dominem esse mercado um dia, mas confesso que estou pouco convencido de mudanças num futuro muito próximo.
Eu ainda continuo vendo influenciadores publicando bobagens de toda espécie, rebatendo qualquer opinião que não favoreça os seus interesses pessoais, e continuo vendo os fóruns lotados de falsos “gurus” ensinando coisas que desconhecem, sem qualquer formação técnica, dando verdadeiras “aulas” com explicações “científicas” totalmente absurdas.
Eu ainda vejo hoje consumidores comprando aditivos mágicos para reduzir o consumo de seus carros, ou dispositivos inúteis que prometem aumentar a potência do motor. Vejo pessoas comprando suplementos mágicos que curam desde ferimentos de flecha até impotência sexual. Vejo braceletes vendidos aos milhares prometendo descarregar a energia negativa do corpo, ou pílulas mágicas que fazem uma pessoa ficar com o corpo de um atleta, emagrecendo dezenas de quilos “já no primeiro mês”.
Recentemente ouvi de um parente que ele passou a usar um bracelete que contém uma pequena pedra (nem ele sabe qual é) que absorve a gordura em excesso do corpo. Eu achei melhor deixar qualquer comentário somente na intenção de fazê-lo.
E o mais desanimador é ouvir pessoas dizendo que realmente perceberam diferenças com essas “enganações”. O dispositivo que faz o motor do carro ganhar potência como um milagre tem depoimentos que dizem que funcionou (usuários verdadeiros ou não… isso eu não sei), mas a mentira é descoberta quando uma publicação séria faz um teste de medição de potência ou de simples arrancada, e descobre que, muitas vezes, o efeito foi o contrário. Temos inúmeros exemplos disso.
Mas, tenhamos esperança que um dia as coisas mudem, que as pessoas se tornem mais honestas, mais conscientes, mais bem informadas, e que pelo menos a audiofilia seja menos bombardeada com tantas imbecilidades.
Olá, muito bom website, com informações e comentários inteligentes.
Vai parecer estranho, mas estou à procura de audiófilos que gostem de música clássica.
Produzo vídeos de concertos de música clássica e os teatros publicam os vídeos no YouTube, que reduz a qualidade dos áudios. Para tender ao público de audiófilos, apreciadores de música clássica, estamos começando a produzir vídeos de concertos para serem baixados e ouvidos em aparelhos de som ou home theaters hi-end ou Hi Res, com 3 opções de áudio: estéreo AAC (512 Kbps), Dolby Digital 5.1 (640 Kbps) e DTS-HD 5.1 (1509 Kbps – Lossless) Master Audio (24 bit a 48 KHz).
Por favor, gostaria de saber se conhecem audiófilos que possam dar opiniões e sugestões sobre a qualidade do áudio de um vídeo que gravamos recentemente em 5.1?
O objetivo é dar aos apreciadores de música clássica que tem um som Hi Res ou bons home theates, uma alternativa de ver e ouvir concertos no Brasil com máxima qualidade de áudio.
Obrigado,
Peter
Olá Eduardo. Sou engenheiro de eletrônica e algumas vezes sou surpreendido por comentários de que a troca de um cabo com 0,5 ohms de resistência por outro de 0,1 produz uma alteração na qualidade do áudio surpreendente.
Olá Alvaro
Obrigado pela sua participação.
Eu também tenho formação técnica, mas o problema são os avaliadores de revistas e sites que nenhuma formação técnica possuem, ganham bem para divulgar marcas e equipamentos, e analisam tudo de forma subjetiva (quando ainda avaliam).
Esses “especialistas” estragaram o hobby, enganaram muita gente, criaram ilusões e fantasias. Mas, nesse país é mais fácil você ser punido por falar a verdade da pessoa errada.
Abração