Você não gostou do som do meu sistema? Isso é normal.

Não se sinta constrangido em dizer que um sistema de som não te agradou. Muitas vezes a culpa não é dos equipamentos ou da acústica.

Quem vem em minha casa e ouve o meu sistema de som acaba sempre tecendo os mais diversos elogios à sua qualidade sonora.
Eu não acredito que isso seja algo sempre sincero, e acho que muitas vezes o visitante diz isso apenas para ser simpático por estar na minha frente ou por ser bem recebido em minha casa.
Mas, se ele dissesse que o resultado sonoro não lhe agradou, eu não ficaria nem um pouco incomodado com isso, pelo contrário, eu realmente conto com alguma rejeição ao meu sistema, e isso é perfeitamente aceitável e muito normal.

Quando eu montei o meu sistema de som, eu o ajustei para os meus ouvidos, portanto, a sua curva de resposta de frequências não é plana (ou flat como alguns preferem), e sim modificada para atender à minha própria curva de audição, que pode (na maioria das vezes) não coincidir com a curva de sensibilidade auditiva do convidado.
Esse ajuste implementado em meu sistema pode deixá-lo com médios menos evidentes, ou com os agudos mais presentes, ou com graves mais atenuados do que o convidado pode preferir, seja pelo gosto pessoal, ou, principalmente, pela sua curva de sensibilidade auditiva.

Como eu já abordei aqui em diversos artigos, as nossa curvas de sensibilidade auditiva são diferentes, e isso não pode mais ser negado. Inúmeros estudos já provam isso, um simples teste de audiometria pode comprovar isso, e muitos exemplos diários nos mostram isso. Nossas curvas já são naturalmente variadas, com a idade, a exposição a alguns tipos de ruídos, variações de saúde, e por muitos outros fatores, e, para a nossa tristeza, essas mudanças quase nunca são para melhor. Perdas são inevitáveis com a idade, e alguns ajustes se fazem necessários.
Quando ouvimos o som ao vivo, estas limitações também vão interferir na nossa experiência, isso é óbvio, e ao ajustar o nosso sistema pelo que ouvimos ao vivo, estaremos transportando esses desvios para a nossa sala também.
Mas, como já vimos, isso pode ser corrigido, e podemos ter em nossa sala um som não tão mutilado como o que ouvimos ao vivo, ao fazermos algumas correções desta curva.
Porém, outra pessoa pode entender o nosso reforço compensatório nos agudos como um “excesso” para os seus ouvidos, se a sua sensibilidade nesta faixa estiver menos comprometida, e é natural que ele acabe achando o nosso sistema “desequilibrado”.

Então, não existe nenhum problema em termos experiências diferentes desde que tenhamos esse conceito vivo em nossa mente.

Você permitiria que alguém com perda de visão dirigisse o seu carro sem lentes corretivas? Claro que não. A percepção visual do sujeito possui distorções, e até crianças podem necessitar de correções.

Esse conceito é algo simples, e eu já vi muita gente aplicando ajustes em seu sistema consciente ou não disso. Às vezes pode parecer gosto, o sujeito diz que ouve mais detalhes com um controle de tonalidade com os agudos reforçados, e ouve mesmo, pois ele está compensando uma perda natural.
Quando você coloca óculos de grau e enxerga mais detalhes no mundo, isso não é uma impressão, é fato, é realidade, é uma correção das variações da sua visão, tornando-a mais perfeita e capaz de ver melhor.
Quando você corrige a curva do seu sistema, por qualquer dos métodos já abordados aqui no Hi-Fi Planet, estará se permitindo ouvir um som mais “real” que o som mutilado que ouve ao vivo, e ouviria na sua sala também se o seu sistema copiasse a sua realidade.

Quando desenvolvi esta ideia ao longo de muitos artigos que publiquei aqui, enviei algumas cópias em inglês para publicações no exterior. Ouvi que a ideia era ótima, mas impublicável, pois isso faria cair por terra todo os trabalhos de avaliação de equipamentos e acessórios realizados por aquelas publicações, e isso é realmente interessante.
Aqui mesmo, em meu querido país, fui criticado, ameaçado e até ofendido por algumas pessoas quando apresentei essa ideia. Para a minha sorte, eram editores de publicações, avaliadores (ou revisores) de equipamentos, donos e vendedores de lojas, e até alguns audiófilos sem compreensão do tema, e, assim, uma pequena minoria.

Apesar da pouca representatividade numérica dessas pessoas, elas faziam muito barulho. Publicavam artigos desmerecendo o que hoje a ciência prova ser uma realidade, faziam comparações ridículas com o sabor do morango, tentavam manipular a ideia dizendo que eu dizia que o som ao vivo não era referência (não absoluta, mas relativa), martelavam sempre na mesma tecla com ironias e sarcasmos tentando salvar os seus negócios, mas ignorando o fato de que também já tinham idades avançadas, que passaram muito tempo ouvindo som alto, ou  não reconheciam o que era da natureza humana. No fundo eles entendiam e concordavam com a ideia, como descobri recentemente, mas não podiam assumir isso.

No interesse comercial, no interesse dos seus egos ou em envoltos pelas suas próprias estupidezas, acabavam buscando influenciar os seus clientes e leitores numa direção que não era real. Tudo pela própria sobrevivência. Eram pessoas que já tiveram um histórico pouco elogiável de atitudes que criaram barreiras e dificuldades para a compreensão da audiofilia, como se ela fosse algo misterioso ou incompreendido.
Idiotas assim causaram atrasos no entendimento e na difusão do verdadeiro conhecimento, fizeram o consumidor gastar mais do que o necessário (audiófilos também são consumidores), sempre com teorias absurdas, com a criação de lendas, tabus, desprezando a ciência e os profissionais, valorizando de forma exagerada os produtos de seus anunciantes e de suas lojas, e sempre dizendo imbecilidades ao afirmar que os nossos ouvidos não erram, que testes de equipamentos e acessórios poderiam ser feitos apenas de ouvidos, baseados em metodologias que também não sobreviviam ao conceito da diversidade auditiva.
Talvez, isso pudesse ser tratado até como um preconceito, ao afirmar que somente o que eles ouviam era o certo, desprezando essa variedade de experiências.

Muita gente mudou, mas alguns dinossauros continuam tentando impor os seus velhos e vencidos “ensinamentos”. Muita gente entendeu esse novo mundo da audiofilia, mas alguns  continuaram acreditando nas contradições e nos absurdos propagados pelos “senhores da verdade”, em publicações, em fóruns, em sites ou em comentários de redes sociais. O primeiro grupo evoluiu, o segundo continua patinando até hoje.

Portanto, quando você tiver um sistema ajustado para as suas necessidades fisiológicas, não se importe com as críticas dos outros, pois, na verdade, o seu sistema não foi feito para eles. E se algum desses críticos for mais longe, tentando impor a opinião dele baseado em informações confusas e distantes da realidade, esteja certo de que ou é alguém protegendo os seus próprios interesses pessoais, ou alguém que foi doutrinado pelas velhas bobagens ditas por quem não conhece o assunto.

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