Saiba como e quando realizar um upgrade para não sofrer uma decepção.
É surpreendente o número de “melhorias” ao que os usuários submetem os seus sistemas de som (e até de vídeo).
Boa parte disso parece vir da massacrante filosofia do “troque tudo e sempre” que se firmou neste segmento. É o famoso “upgrade indiscriminado”.
Na verdade, há alguns anos defendi que a maioria dos usuários de sistemas de áudio e vídeo realizavam “upgrades horizontais” (expressão esta que agora vejo frequentemente copiada). Parece que o termo está ganhando a atenção de muitos leitores.
O upgrade, que pode ser traduzido do inglês como “melhoramento”, “aprimoramento” ou “atualização”, sugere um ganho real de desempenho, e supostamente deveria ser feito num sistema para elevar a sua qualidade final ou atualizá-lo diante de novas tecnologias. Porém, em muitos casos, estas mudanças em nada acrescentam ao sistema, quando ainda não subtraem algumas de suas qualidades.
São gastos desnecessários que mantém a instalação, na melhor das hipóteses, no mesmo patamar, movendo-se horizontalmente num plano onde nenhum ganho real é obtido.
Porque isso ocorre?
São diversas as razões da ineficácia de um upgrade, e vamos relacionar as mais importantes no que se refere ao universo do áudio de qualidade:
Compatibilidade
Muitos consumidores acreditam que o que serve para alguém vai servir para ele também.
Remédios não funcionam assim. Carros, TVs, roupas e tudo mais que pode ser o ideal para uma pessoa pode se mostrar uma péssima opção para outra.
Mais uma vez, criticamos a subjetividade de inúmeras avaliações críticas de equipamentos, e a forma como tentam convencer o leitor de validade (ou até necessidade) da aquisição de alguns produtos.
Um equipamento ou um acessório pode apresentar um ganho num sistema, ou pode ainda agradar a um ouvinte, mas pode ser neutro em outro sistema ou ainda causar uma perda de qualidade.
É o caso de alguns dispositivos anti-vibração. A maioria dos equipamentos dispensa este acessório, pois não sofrem influências das vibrações externas. Outros equipamentos já se mostram bastante sensíveis a este efeito, e podem ter algum ganho. Até experientes avaliadores dividem opiniões sobre o seu uso.
Mas, na maioria dos testes que estamos acostumados a ler, normalmente há certa empolgação no sentido de motivar o leitor a adquiri-los.
Qualquer produto de áudio deve ser inicialmente avaliado quanto à sua compatibilidade com o sistema específico, e também tendo como base as características auditivas do usuário.
Desconhecimento de necessidades
Como vimos acima, cada sistema e cada ouvinte possuem necessidades específicas.
Quando leio absurdos do tipo “este cabo é indicado para extrair o último sumo de qualidade de um sistema de alto nível”, fico imaginando como alguém pode escrever algo tão inconsistente assim. Como o autor de uma frase como esta pode ter conhecimento das qualidades e defeitos de um sistema que não conhece? Como ele pode imaginar se o usuário de um sistema já não possui outro cabo com qualidades capazes de proporcionar o melhor desempenho de seu conjunto. Afinal, será que ele testou o único cabo do mundo com aquela “proeza”?
Nenhum acessório ou equipamento pode ser indicado sem que se conheçam as características do sistema ou as particularidades da percepção auditiva do indivíduo que vai utilizá-lo. Isso nós já deixamos bem claro em nossa série de artigos “Rumo à Customização”.
Costumo usar um exemplo bem simples para facilmente demonstrar esse efeito.
Observe o número de vezes que um avaliador de equipamentos de áudio diz que um ou outro componente fez o seu sistema mostrar detalhes que ele jamais ouvira antes. Isso é muito frequente, não?
Mas, como ele pode afirmar que um produto é realmente uma compra adequada para qualquer sistema sem saber se o usuário já possui ou não esta qualidade em sua instalação?
Todo sistema possui limitações, e elas nunca são iguais de uma instalação para outra. Cada ouvinte tem uma curva auditiva diferente, e não há como prever o resultado sem conhecer estas variações.
Imagine um avaliador ou um usuário com mais de 45 anos. Certamente ele já possui uma perda de sensibilidade acentuada nos extremos da faixa auditiva. Esse é um processo natural, previsível e irreversível.
Imaginemos agora que esta pessoa tenha como referência para ajuste de seu sistema unicamente o som ao vivo, e não admite corrigir o desempenho deste sistema para as suas necessidades individuais.
Supondo que ele avalie um equipamento ou um acessório que apresenta um reforço no extremo dos agudos. Certamente o seu comentário será na direção de que aquele produto mostrou um “ganho perceptível de detalhes”, “melhorou o foco e o palco”, e apresentou uma “boa extensão nas altas frequências” (coisa que qualquer cabo mediano é capaz).
Estes comentários soam bem familiares para nós. Mas, para quem não admite a customização do sistema aos seus ouvidos, este é um erro gravíssimo.
Ao considerar este cabo um produto de qualidades excepcionais, ele o estará recomendando a todos os sistemas. Mas, imagine uma instalação corretamente ajustada ao ouvinte, ou ainda um usuário com curva de sensibilidade auditiva mais preservada ou correta. Estes, invariavelmente, sofrerão sérios danos em seus sistemas, ao ver os agudos exageradamente acentuados.
E não são somente os ouvidos que interferem nestas avaliações, mas a acústica da sala, a elétrica, o posicionamento das caixas, os equipamentos e outra infinidade de variáveis.
O que poderia parecer um “upgrade seguro” aqui vai resultar num prejuízo ao consumidor, que poderá ainda acreditar que houve um ganho real, pois ele percebeu realmente a enorme quantidade de informações que “saltaram” nesta faixa de frequências. Como as suas referências também podem estar prejudicadas, muitas vezes não perceberá o erro.
Essa é a maior falha que vejo em “consultorias de ouvido” (aquele profissional que vai à sala do cliente e quer ajustar o seu sistema segundo suas referências pessoais).
É necessário fazer uma avaliação criteriosa e objetiva do sistema e do ouvinte, e realizar o ajuste segundo estes, e não de forma pessoal segundo percepções próprias.
Eu já ajustei uma sala para um amigo onde eu, particularmente, odiei os resultados dos graves. Eu não suporto ficar naquela sala. Mas, antes de dar os meus “palpites”, identifiquei que o usuário, um médico de 55 anos e com ótima saúde, não tinha muita sensibilidade auditiva em baixas frequências, e os graves para ele não se mostravam tão exagerados como para mim.
Qualquer upgrade que ele viesse a fazer baseado em informações como aquelas que habitualmente conhecemos seria um grande risco ao seu sistema. E, acredite, a possibilidade de alguém também possuir necessidades distintas em seu sistema, eu diria que é da ordem de 99,9%, mas poucos se convencem disso.
Durante os recentes testes que realizei com o dispositivo Anti-Mode, percebi variações curiosas apenas alterando o “toe-in” de minhas caixas. Tudo bem visível na tela, mas com resultados auditivos bem mais complexos.
Sem uma referência real, não conseguimos compreender com precisão estas variações.
Falsas Impressões
Este é um ponto muito delicado.
Chega-se ao ponto de comparar os efeitos da falsa impressão aos efeitos dos placebos, que são medicamentos inertes utilizados em testes com pacientes de diversas doenças. Estes pacientes apresentam até respostas reais ao tratamento, apesar do medicamento ser completamente neutro.
São diversos os fatores que podem levar o ouvinte a acreditar que houve uma melhora por conta da utilização de um novo produto. Uma simples limpeza involuntária de contatos durante a troca de um cabo antigo por um novo (pelo atrito – raspagem – dos contatos), o efeito psicológico da grande expectativa (ansiedade), da aparência dos produtos e até mesmo o “convencimento” poderoso de alguém, podem fazer com que o usuário gaste desnecessariamente com um produto que na verdade não representa qualquer vantagem sobre o anteriormente instalado.
É preciso realizar testes cuidadosos e bem controlados para afastar qualquer subjetividade dos resultados. Se disponível, um analisador de espectro pode ajudar. Qualquer ganho ou atenuação de frequências será facilmente identificado pelo medidor, não deixando qualquer dúvida sobre isso.
O teste “cego”, que é aquele onde comparamos produtos diferentes sem saber qual deles está sendo testado no momento, é muito interessante também, e causa inúmeras polêmicas. Mesmo conhecidos e “experientes” avaliadores já caíram em contradição nestas oportunidades, e por isso o teste cego é tão temido por eles.
Ao comparar dois produtos, é interessante fazê-lo sem conhecimento de qual está em uso, se o antigo ou o novo. Muitas vezes alguém pode auxiliar na troca aleatória dos componentes.
Qualquer ganho de um produto deve ser real, e não imaginário, oriundo de um resultado meramente sugestivo.
Razões Comerciais
Fabricantes faturam com a venda de produtos. Muitas publicações sobrevivem de seus anunciantes ou das comissões sobre a venda de produtos. Lojas ganham com a comercialização destes produtos. Vendedores e consultores sobrevivem com comissões sobre os produtos que vendem ou recomendam. E, quanto maior o volume de vendas, mais estes resultados se multiplicam.
O mundo empresarial funciona assim. Vender produtos é o objetivo principal aqui.
Quantas vezes já não nos cansamos de ver lançamentos de produtos que foram considerados absolutamente incríveis, que se mostraram os melhores testados até o momento, que tinham a melhor relação de custo e benefício, que apresentaram desempenho de outros modelos mais caros, que proporcionaram um salto de desempenho no sistema, e por aí segue?
É impressionante imaginar que todos estes saltos significativos poderiam levar a conclusão que o sistema que recebeu todas estas melhorias teria um desempenho fora deste mundo. Mas, não é isso o que ocorre.
Exageros à parte, a verdade é que os saltos de qualidade normalmente não são tão significativos assim, isso quando ocorrem de fato. Mas, cada novo produto precisa parecer atraente aos olhos do consumidor.
Na área de informação, poucas publicações no mundo escrevem algo do tipo: “um bom equipamento, mas existem opções melhores e mais baratas” ou “produto com desempenho pobre e não recomendamos”. Não acredita que isso existe? A publicação inglesa “What Hi-Fi” é uma destas.
A idéia de que todo novo produto apresentado ao mercado é excepcional, é resultado de puro interesse comercial. Não existe esse “crescimento” veloz de desempenho tecnológico dentro da indústria a ponto de provocar um salto gigantesco a cada mês. Até mesmo porque os projetos nascem antes, e quando os produtos chegam ao mercado, muitos outros também chegam com suas soluções específicas.
Sempre haverá as melhores e as piores opções.
Mas, mostrar isso ao público é o mesmo que dizer que um produto não vale a pena. Isso é prejudicial para os negócios, e em mercados onde a cadeia de fornecimento é muito dependente entre seus elos (importadores, fabricantes, lojas, publicações, etc.) a sobrevivência financeira é prioridade.
É preciso ter muita cautela para realizar um upgrade seguro. Pesquisar muito e identificar a presença de conotações de ordem puramente comercial são requisitos importantes para fazer uma escolha acertada. E, para piorar a situação, há muito mais presença de interesse comercial no mercado do que caminhos seguros, imparciais e confiáveis.
A diferença entre o diamante e o vidro é muito grande, mas não existe muito interesse de mostrarem isso, e simplesmente escondem do consumidor os “placebos” do mercado.
O que fazer diante deste panorama?
Já demos algumas dicas neste e em tantos outros artigos, mas, o mais importante é conhecer primeiro as suas necessidades, e depois avaliar todas as soluções disponíveis no mercado com extrema cautela. Em seguida, deve-se avaliar com bastante rigor os resultados obtidos.
Seguramente, pela experiência que este autor já teve neste mercado, a maioria dos upgrades era desnecessária, pois eles não não resolveram (ou pioraram ainda mais) a situação.
Acessórios como cabos de força, cabos de interconexão, racks e dispositivos anti-vibração, entre outros, são os maiores vilões neste universo de upgrades malsucedidos. Em seguida, temos os equipamentos em si. Muitos players de CD, DACs, amplificadores e outros produtos têm desempenhos parecidos (quando não mais caros e piores). E por último temos os famosos “mods”, que são modificações feitas por terceiros para melhorar o desempenho de alguns produtos.
Antes de pensar em investir em acessórios, saiba que é mais vantajoso adquirir equipamentos melhores e fazer ajustes mais precisos no sistema. Por exemplo, 3 ou 4 mil dólares farão muito mais pelo seu sistema investidos em caixas acústicas do que num cabo de força. Já 5 ou 6 mil dólares serão muitas vezes melhor empregados no ajuste da sua sala do que em um novo amplificador.
Comece conhecendo as suas necessidades. Avalie a sua curva de audição, a resposta de seu sistema e o seu gosto pessoal. Identifique o ponto fora da curva em sua instalação, e inicie o seu upgrade por aí.
Equipamentos de correção de sala, caixas acústicas, ajustes no sistema (na acústica, elétrica e até modificações nas próprias caixas acústicas), e outras providências farão muito mais pelo melhor desempenho do seu sistema do que cabos e outros acessórios que prometem milagres, mas que mais atrapalham na maioria das vezes do que ajudam de fato.
Nenhum cabo do mundo vai corrigir problemas em seu sistema. No máximo, vai ocultar a falha, normalmente a um custo alto e com um resultado bastante discutível.
Cabos de qualidade fazem parte de um sistema de bom nível, mas não precisam custar milhares de dólares para isso. Não é necessário pagar o preço de uma lata de caviar por cabo decente.
O upgrade deve ser visto como foi definido no começo deste artigo, como um “aprimoramento” ou uma “atualização” do sistema, e deve ser algo real e feito com critérios sérios e custos justos.
Sem isso, continuaremos a ver audiófilos insatisfeitos com os seus sistemas, trocando equipamentos a todo o momento, com uma caixa cheia de cabos utilizados na tentativa de realizar “ajustes finos”, e com muito dinheiro desnecessariamente desperdiçado.
O upgrade virou para alguns um “vício”, para outros uma “medida desesperada” e para muitos uma busca pelo sistema “perfeito”. Porém, em nenhum destes casos ele será o caminho para a satisfação plena do usuário, que se manterá nesta ciranda por muito mais tempo, talvez toda a vida, gastando muito mais tempo com a pesquisa, compra, instalação e testes de componentes inúteis do que realmente fazendo o que mais deveria fazer: ouvir música ou assistir aos seus filmes e shows, sem aquele sentimento de insatisfação corroendo o seu prazer.
Fiquei horas hoje lendo este site.
Parabéns aos seus mantenedores. Enfim vejo que existe vida inteligente neste universo do áudio hi-end.
Cansei de tantas besteiras e propagandas enrustidas que infestam revistas, fóruns e outros canais de informação que de tanta bosta que publicam deveriam ter um pouco de vergonha na cara e sair do ramo.
As abordagens deste site estão além de nosso tempo, com visões claras e idéias realmente inovadoras, e, principalmente, visivelmente imparciais e honestas.
Só espero que não caiam na mesma vala dos demais, e preservem estas virtudes que deveriam ser essenciais para quem realmente quer fazer um trabalho sério e inteligente.
Outra razão p/ upgrades é a ostentação.
Amps transistorizados inevitávelmente ficam obsoletos após alguns anos, em vista dos novos lançamentos.
Por isso prefiro as valvulas q estão ai a quase 1 século.
Maravilhoso artigo, parabéns.
E é precisomuito cuidado para não cair no conto da evolução tecnológica.
Recentemente uma publicação nacional comentou que uma das inovações de um caro (pra variar) leitor de cd era que o leitor ótico utilizava uma tecnologia de 3 feixes de laser para melhor precisão de leitura.
Alguém precisa avisar aquele pessoal que em 1988 leitores de cd com 3 feixes já eram populares na época… que mancada.
ISMAEL:
Eles estão sabendo deste detalhe. Há muito anos venho notando q esta revista coloca informações vazias, redundantes ou obsoletas como esta, visando causar impacto no público da terceira idade ou acima de 40 anos, q tem maior poder aquisitivo e não tem tempo p estudar audio, devido o trabalho e compromissos da vida empresarial.
Este público é assinante da revista e p tal é preciso informar RG, CPF e me parece data de nascimento, além de endereço completo, então eles sabem a idade de seus assinantes, e daí direcionaram os textos publicados p este tipo de faixa etária.
Este é o tipo de leitor q querem ter.
Na verdade eles odeiam conhecedores de audio, pois são capazes de identificar os absurdos q escrevem.
Os anúncios publicados tmb visam atigir este público melômano rico, q é o alvo q querem atingir.
Eles estão se lixando p os ententidos e audiófilos pobres.
Se você analisar bem várias lojas de audio verá q elas adotam a mesma linha de comercialização, elas fazem a mesma coisa amigo.
O lema é vender pouco c muito lucro.
A dita revista, em seu último número, tinha 47% das páginas recheadas de progaganda (vi pela revista digital, no computador, pois não a compro mais faz tempo). Aí eles mostram um rack que custa a bagatela de quase R$ 30.000,00. Muitos teriam que vender todo seu equipamento para comprar um rack de madeira. Será que esse preço é real ou sai da imaginação do editor? Ou então inventam cabo de força que custa R$ 7.000,00. Acho que eles moram em outro planeta ou os audiófilos brasileiros, também chamados de audiotas pelo sr. Holbein, são mesmo estúpidos e jogam seu dinheiro pela janela.
Um marceneiro faria um rack por mil e ficaria rindo c tanto dinheiro.
É como eu disse, vender pouco c muito lucro, mas 30 mil por um rack é muito lucro mesmo, mesmoi q fosse de alumínio.
Já vi um importante conhecedor do ramo do audio brazuca dizer q quem fixa o preço dos equips neste país é editor de revista.
E deve ser verdade mesmo.