Há algumas semanas recebi um e-mail de um leitor me perguntando se o integrado Dartzeel era uma boa opção de compra.
Será que é?
É muito complicado responder a uma consulta como esta. Não existe o “Sim” definitivo, nem o “Não” seguro.
São tantos os fatores que influenciam numa escolha como esta, que o equipamento mais adequado para uma pessoa pode ser uma péssima opção para outra.
Certa vez um amigo me pediu para ajudá-lo a construir uma sala para reprodução de áudio e vídeo com qualidade.
Não trabalho com isso, e normalmente evito me envolver com coisas que acabam ocupando demais o meu já escasso tempo. Depois de muita insistência, combinei com ele que, como sempre, não lhe cobraria nenhum centavo por esta “consultoria”, mas com a condição dele nunca me apressar. Eu daria toda a orientação e acompanharia todo o projeto, que incluiria até a construção da sala, mas sempre ao meu tempo. Ele concordou.
Antes de iniciar qualquer trabalho, a primeira providência que tomei foi de convidá-lo para conhecer a minha sala. Toquei muitos discos, de diversos gêneros, inclusive muitos de seu gosto. Reproduzi inúmeros filmes também. Fiz algumas simulações, refiz alguns ajustes, e sempre lhe mostrando as diferenças e o porquê delas. Esta experiência de conhecer uma sala e de entender como as coisas funcionam ocorreram em outras duas oportunidades depois dessa.
Após isso, comecei a lhe perguntar o que ele sentiu com cada experiência, o que mais lhe agradou, e do que não havia gostado.
Com muita paciência fui conhecendo o seu gosto, a sua sensibilidade e as suas limitações. Ele, por sua vez, começou a compreender as variações de qualidade de um sistema e os resultados obtidos, passando a conhecer melhor as particularidades de uma boa reprodução de áudio e vídeo.
Depois de muitas semanas, eu já tinha uma idéia de como deveria ser a sua sala, o que não impediu que outros ajustes fossem feitos durante e após a construção da sala.
Me preocupo quando vejo alguns “consultores” recomendando categoricamente essa ou aquela opção, e quando muito, perguntando o tamanho da sala e o quanto a pessoa quer investir.
Tudo é bem mais complexo do que isso. Não que o áudio seja misterioso e complexo demais, como tentam erroneamente demonstrar alguns. Nós, serem humanos, que somos mais complexos, com gostos e necessidades diferentes.
Essa dificuldade ocorre com muitas outras escolhas, de um carro, por exemplo. Não posso perguntar a alguém simplesmente o tamanho de sua garagem e o quanto ele pretende investir. Pessoas amam Ferrari e odeiam Porsche. Outras adoram Porsche e acham a Ferrari inferior. Por isso temos Ferrari, Porsche, Audi, Lamborghini, Aston Martin, Bugatti e tantos outros fabricantes de modelos esportivos. Gostos são pessoais. Alguns se sentem melhor em carros com mais conforto, outros com mais estabilidade ou maior luxo, segurança mais eficiente, maior altura do solo, motor mais potente, etc. Qual o carro esportivo ideal? Não existe. Cada comprador vai se identificar melhor com um modelo, de acordo com o seu gosto, suas necessidades, habilidades e outros fatores.
Eu, particularmente, não gosto da sala que construí para aquele amigo. Mas, ele acha que a dele ficou melhor do que a minha. E o importante é isso, ele ter ficado satisfeito com o projeto.
Nós ouvimos diferente. Nossas sensibilidades auditivas não são iguais, nossa percepção das frequências também varia demais, e reagimos de forma diferente aos sons. Por isso não existe uma resposta certa para todos os casos, por mais informações que tenhamos sobre a sala, a capacidade econômica ou o gosto musical do indivíduo.
A pergunta do leitor me fez pesquisar.
Eu já havia tido uma experiência com esse modelo da Dartzeel, e confesso que ele não me agradou. Faltou alguma coisa pelo seu preço. Eu esperava mais, porém ouvi menos do que gostaria.
Por outro lado, recordo de ter visto um teste numa publicação nacional falando maravilhas dele. Minha primeira impressão foi de que as caixas utilizadas naquele teste estavam defasadas em relação ao equipamento. Por sorte, pude testar o aparelho em caixas bem mais atuais e avançadas. Talvez isso, por si só, já justificasse as diferenças percebidas. Mas, seria isso suficiente para emitir uma opinião de valor segura deste equipamento?
Para responder a esta pergunta, fiz um apanhado de inúmeros reviews e opiniões de compradores pelo mundo inteiro, não me limitando somente àquelas do site do fabricante, por razões óbvias.
Encontrei opiniões bem variadas. Alguns amaram o equipamento, já outros identificaram falhas que vão da qualidade sonora ao próprio preço do equipamento.
Num teste feito pela publicação inglesa What Hi-Fi, o CTH-8550 recebeu apenas 4 estrelas. Não é uma nota ruim (não sou favorável a notas de valor), mas esse resultado conflita com outras avaliações onde o equipamento foi considerado perfeito (ou mais do que perfeito no momento em que recebe uma nota 11…).
Cita a What Hi-Fi:
Against
Lacks a bit of muscularity; very expensive
Ainda:
Lacks a little muscle
Yet despite being hugely capable, the CTH-8550 doesn’t set new standards.
Its power output is healthy enough, but the amp never quite manages to pound out basslines or deliver midrange slam with the determination of something like our reference Bryston BP26/4BSST pre/power combo (which weighs in at £9000 less).
There’s also an inability to swing large-scale dynamics with the required authority. For all its insight, the Dartzeel lacks a little muscle: if it had that, even this price tag would look reasonable.
Remember this is no off-the-shelf product. It’s pretty much built to order, and built to the highest standards. That in itself explains part of the outlay.
However, we’re not inclined to give this amp an unreserved recommendation, even if the price was acceptable.
Sure it sounds great, but there are areas of weaknesses, too. At this level kit shouldn’t need any excuses. The CTH-8550 is almost magnificent, but at the price, almost isn’t quite good enough.
Ou seja, segundo a avaliação da What Hi-Fi, o CTH-8550 apresentou deficiências que não justificariam o preço pedido, citando ainda que mesmo que o preço fosse aceitável, ainda assim haveriam reservas sobre sua recomendação.
Faltou autoridade, força e melhor desempenho em alguns momentos, o que não se justifica num aparelho nesta categoria.
Ainda, em minhas pesquisas, encontrei algumas avaliações de usuários insatisfeitos, alguns que até colocaram o aparelho à venda.
Fica a pergunta: como pode alguém dar nota 11 num aparelho, ou classificá-lo como Classe A, enquanto outros identificaram problemas que os demais não perceberam?
A própria Stereophile e outros avaliadores europeus mediram uma alta distorção no equipamento, separação entre canais deficiente e irregular, deformações de sinal e uma curva de resposta de frequência bastante irregular. Com tantas falhas, como alguns poderiam tê-lo achado maravilhoso?
Num primeiro momento, imaginei uma variação de qualidade na fabricação das unidades testadas (algo também inaceitável nesta categoria de equipamentos). Mas, descartei essa possibilidade depois de ler outros testes como da Stereophile, em que foram identificados problemas com desempenho, mas mesmo assim outro avaliador classificou o aparelho no mais alto nível.
Isso nos remete ao começo deste artigo: cada um experimenta um resultado diferente. Ou seja, se um aparelho possui deficiências nos extremos das altas frequências (agudos), por exemplo, mas por conta de uma perda auditiva nesta faixa (ou mesmo por uma variação normal) o ouvinte não percebe o incômodo, para ele o problema não existe.
Poderíamos, ainda, dizer que aqueles que perceberam os problemas não tinham uma sala ou um equipamento ao nível do aparelho testado, como no caso da What Hi-Fi. Mas, isso também não procederia, já que os problemas podem ser identificados por medições objetivas (equipamentos de alta precisão). Será que talvez por isso alguns têm tanto medo de testes objetivos? Poderiam os testes objetivos apontar as limitações pessoais? Como se sentiria o avaliador ao descobrir que possui limitações que podem mascarar problemas, e assim comprometer a fidelidade de suas conclusões?
Conhecemos histórias de pessoas que participaram de cursos de percepção auditiva, onde o instrutor enalteceu a qualidade de um cabo que ele teria apresentado como de baixa qualidade, ser perceber que o havia recolocado antes. E em outro momento enalteceu as qualidades de caixas que não estavam funcionando naquele momento, ou elogiou um palco sonoro quando uma das caixas estava desconectada do sistema.
Nossos ouvidos podem nos enganar? Sim, e isso se repete a todo o momento. Existem histórias curiosíssimas sobre isso em vários artigos já publicados.
Podemos ter deficiências em nossos sistemas auditivos? Sim, e com uma frequência bem maior do que muitos imaginam.
Nossos equipamentos ou as nossas salas podem estar adulterando os resultados? Certamente. E eu ainda arriscaria dizer que, dependendo do equipamento, a sala até deveria ser outra.
Li um teste noutro dia onde o avaliador dizia que determinada caixa tinha uma limitação nos graves. Mas, em muitas avaliações no mundo inteiro se comentou sobre os poderosos graves destas mesmas caixas. Assim, questionamos: pode uma mesma sala servir para avaliar qualquer caixa acústica? Evidente que não. Uma sala grande favorece caixas maiores, com graves mais profundos. Uma sala menor pode tornar esses mesmos graves bem desagradáveis. Mas, estas caixas instaladas em salas adequadas às suas dimensões ou aos seus graves, poderão apresentar graves dos mais altos níveis de qualidade.
O equipamento usado aqui como exemplo foi por mera coincidência, pois já havia encontrado estas referências contraditórias sobre ele. Além disso, a consulta do leitor também serviu de motivação para esta reflexão.
Mas, estas considerações são válidas para qualquer outro equipamento, e a velha questão de “este equipamento é uma boa escolha?” nos coloca sempre em uma situação bastante difícil.
Podemos citar algumas marcas que produzem equipamentos com uma qualidade bastante aceitável e relativamente homogênea. Mas, é muito complicado querer acertar uma resposta “à distância”, baseada em nossa única experiência, sem comparações realmente imparciais, equilibradas e técnicas, com direito a medições e testes bem objetivos. E, para piorar ainda mais esta situação, nenhuma metodologia de testes funciona sem estes quesitos, o que já descarta inúmeras referências.
Confiar exclusivamente em nossos ouvidos para atribuir um valor com exatidão a um equipamento, pode ser um erro muito grave, e com consequências desastrosas a quem acreditamos estar ajudando.
Como diz o professor linguiça;ta,ta,ta,TA….depois que você fez aquele cabo de fio de antena,enviou pro seu amigo de Brasília,que substituiu um cabo de dois mil dólares,e o resultado foi superior,segundo seu amigo,não da mais pra acreditar em análise nenhuma,Deus me livre dessa selva de marketing,onde a gente encontra gato e lebre.Por isso mesmo,fico com meu setup,Paragon Regent,PM 5000 feito por mim com 132 mil mf por canal,otimizado,um cd player Yamaha CD 5050,que bate muito cd player dito novo com um pé nas costas.Um abraço.
Já testei esse integrado, e realmente não é nada disso.
Um colega de um fórum que participo comprou um, e já o colocou a venda. Outro amigo testou este modelo e também ficou decepcionado.
Num fórum lá fora compararam dois aparelhos Dartzeel com outros, ganhou um que custava quase a metade do preço.
O que rola então? dinheiro, presentinhos, anúncios, etc?
Santista,
O que eu posso te dizer?
É isso aí !!!
Samuca,
Não sei. Mas, tudo é possível…