Muito falamos sobre as qualidades deste ou daquele cabo num teste comparativo, mas será que o teste está realmente sendo bem feito?
Antes de tudo, não confie em quem lhe faz a demonstração. É possível “preparar” um cabo para que ele apresente um resultado deficiente para compará-lo com outro “melhor”.
Já soube de casos onde o demonstrador embutia capacitores ou resistores dentro dos plugs do cabo. Alterando o comportamento das frequências conduzidas num cabo, ou sua resistência, é possível alterar significatimente (de forma falsa) um resultado.
Peça o cabo emprestado para a demonstração, e teste-o em seu próprio sistema.
Ao testar um cabo, observe alguns pontos importantes:
1. Revisão dos contatos
Todo cabo sofre uma perda de desempenho com o tempo. Isso acontece pela oxidação dos contatos dos conectores do cabo ou equipamento ou da tomada de força (nos cabos de força), seja ela de um condicionador ou direta.
Assim, é muito comum (já cansei de ver isso) quem vai fazer um teste, simplesmente retirar seu cabo e colocar o que recebeu para comparação, e já partir para a avaliação. A maioria percebe uma melhora, e não é para menos.
Assim, antes de realizar um teste comparativo, retire seu “velho cabo” e faça um bom polimento nos terminais, nas duas extremidades. Limpe os contatos do equipamento e das tomadas também. Reaperte todos os parafusos de fixação do cabo nos conectores, se não forem soldados. Deixe o cabo em local quente ou sob o sol, para retirar qualquer umidade que tenha acumulado no seu interior (isso é bastante comum). Somente depois disso comece as comparações.
Já vi casos de pessoas que ao testarem o cabo, apenas retirando o seu antigo e colocando o novo, notaram significativa diferença. Mas ao ficarem alternando os cabos, observaram que a diferença foi diminuindo ou mesmo desapareceu.
Isso acontece porque os terminais do cabo antigo já estavam sujos ou oxidados, e ao retirar e colocar o cabo várias vezes, os terminais acabam se limpando um pouco pelo atrito.
2. Esqueça amaciamento
Um cabo não precisa ser amaciado. Os conectores podem se acomodar melhor em seus encaixes, pela pressão existente, e isso sim pode provocar alguma diferença, mas nada tem a ver com o amaciamento do cabo.
Na maioria dos sistemas, depois de meia hora instalado, pode-se realizar o teste com confiança.
3. Cuidado com as diferenças
Cabos podem ter suas propriedades resistivas, capacitivas e indutivas alteradas propositalmente para produzir um efeito específico. Muitos já provaram que alguns cabos funcionam como verdadeiros equalizadores. Isso não é uma qualidade, apenas uma característica (e que considero um problema).
Se um cabo, por indutância, resistência ou capacitância evidenciar mais os médios, alguns podem achar que o som “abriu mais”, as vozes “ganharam mais vida”, ou coisas do tipo. Ou ainda, o cabo pode evidenciar os agudos, e nos fazer acreditar que ele possui uma extensão maior nos agudos, como absurdamente já li numa revista nacional.
Qualquer cabo é capaz de conduzir todo o espectro de frequências que compõe o áudio, e muito mais do que podemos pensar em ouvir. Não existe essa bobagem.
Portanto, cuidado com o “efeito” que o cabo proporciona. O melhor seria o cabo ser o mais neutro possível, o que bons cabos, até aqueles mais baratos (mas de qualidade) são capazes de conseguir com facilidade.
Se a “equalização” do cabo trouxer mesmo um benefício ao seu sistema é porque já existia alguma deficiência no próprio sistema, e o mais importante é corrigir isso. Talvez a própria acústica esteja prejudicando o resultado do seu sistema a ponto do novo cabo “enganar” o problema. Isso não é o correto a fazer.
4. Valor do Equipamento x Valor do Cabo
Não existe essa bobagem que alguns propalam de que cabos devem representar 10, 20 ou 30% do valor dos equipamentos que compõem um sistema. De onde tiram isso? É um absurdo.
Isso é coisa do mercado que acha que esse é um percentual que alguém pode gastar em cabos comparado com seu poder econômico no gasto com o equipamento.
Se você entra numa loja de roupas e compra um terno de R$ 2.000,00. Você acha que o vendedor vai tentar te “empurrar” uma gravata de 10, 100 ou 5.000 reais? Claro que quem gasta 2.000 num terno pode bem pagar 100 reais ou mais numa gravata. Independente da qualidade da gravata, o vendedor vai te empurrar uma que ele sabe que você pode se interessar em comprar, e para isso precisa identificar uma com um preço compatível com o restante do “conjunto”, ou, digamos, com o seu bolso.
Esse negócio de definir quanto deve-se gastar em cabos em relação ao equipamento é simplesmente ridículo. Pura jogada comercial.
5. Cabos caros e de “grife” são sempre melhores
Muitos avaliadores sérios já provaram que isso é uma mentira. Esqueça marca e preço. Um cabo não precisa ser caro para ser bom.
Mas, o contrário, de que cabos “vagabundos” funcionam tão bem como qualquer cabo, também não é verdadeiro.
Cabos devem ser bons, e não caríssimos.
6. Esqueça reviews
A maioria dos avaliadores que publicam testes possuem compromissos comerciais com os anunciantes, e precisam tomar uma certa cautela nos testes. Além disso, muitas vezes acabam ganhando o produto testado como “agrado” pelo bom desempenho divulgado pelo avaliador. Não é incomum vermos produtos avaliados numa edição da publicação ser vendido pelo próprio avaliador numa outra edição.
Além disso, esse negócio de impor “classificação” num produto (tantas estrelas, melhor compra, selo do editor, padrão ouro, etc…) já foi superado há tempos.
Não é possível determinar com precisão as qualidades de um produto numa tabelinha de notas, independente de qualquer metodologia.
Quando comecei a fazer meus testes, percebi essa dificuldade, e abandonei o método, como já estão fazendo muitas publicações estrangeiras.
O avaliador deve apenas relatar o que percebeu em seu sistema, sem querer adivinhar o que vai acontecer em outros. Existem muitas questões de compatibilidade.
Um amplificador, que recentemente recebeu nota máxima aqui numa publicação nacional, não conseguiu o mesmo resultado em nenhum outro teste até agora realizado no resto do mundo.
É muita ingenuidade achar que se pode avaliar com tanta precisão um componente.
Já vi avaliadores afirmarem que depois que trocaram um par de caixas-acústicas (ou qualquer outro componente de seu sistema) a diferença foi tão grande que teve que ouvir todos os seus discos preferidos novamente. E agora, como ficam todos os componentes que ele testou um dia naquele seu outro sistema que tinha limitações?
Será que estas limitações não prejudicaram ou favoreceram alguns componentes? Óbvio que sim.
Se suas caixas tinham uma limitação nos agudos (altas frequências) e um cabo ruim, que evidenciava justamente esta faixa, foi avaliado, claro que para este sistema o cabo vai parecer um milagre. Enquanto um outro cabo “correto” acaba sendo considerado inferior injustamente.
Reviews com pontuações é algo ultrapassado, e o consumidor deve tomar muito cuidado nestes casos.
Poderíamos, ainda, enumerar alguns outros pontos, coisa que farei em nova oportunidade.
Mas, antes de concluir esta parte, quero reforçar um ponto muito importante. Limpe periodicamente os contatos elétricos de seus cabos e equipamentos, e se notar pouca pressão nos contatos, ajuste-os ou troque-os.
A diferença que isso faz é muito grande, muito maior do que a troca de cabos entre “grifes famosas”.
Normalmente faço essa revisão semestralmente, e as diferenças são logo percebidas.
Em nossa página DIY ensinamos como fazer isso detalhadamente.
Antes de trocar de cabos, faça a revisão, e depois pense bem se realmente precisa fazer alguma substituição destes componentes.
A diferença entre cabos existe (não como exageram alguns). A qualidade entre os cabos pode até variar um pouco, mas não existe relação direta com os altos preços e algumas marcas famosas.
Não caia nessa armadilha.
Tenha muito cuidado ao adquirir um cabo, seja de força, de sinal de áudio ou vídeo ou de caixas.
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