“Reviews” – Ate onde acreditar neles? – 1ª Parte

Os reviews que avaliam equipamentos de áudio e vídeo, são totalmente seguros?

PARTE 1

Autor: Eduardo Martins

INTRODUÇÃO

A difícil escolha de um equipamento normalmente é subsidiada pelas opiniões dos amigos, pelas audições que fazemos em suas casas ou nas lojas especializadas, pelos testes publicados em revistas (reviews), pelas experiências com equipamentos emprestados e outras informações que colhemos em revistas, internet, etc. Não é fácil escolher o componente certo para o nosso sistema, e muitas vezes estas informações são contraditórias e confusas, aumentando ainda mais a insegurança na escolha.

De todas estas fontes de convencimento, os testes realizados por revistas, internet e outros, costumam ter sempre um peso muito grande na decisão, parecendo ter maior credibilidade do que os demais. Mas, será que essa impressão é mesmo verdadeira?

Os testes normalmente são realizados por pessoas que conhecem o assunto, detalhados em textos quase sempre bem escritos, convencendo qualquer leitor de que o teste foi mesmo realizado com todo o cuidado necessário. Acabam sendo usados como referências incontestáveis nas calorosas discussões sobre qual o melhor equipamento, como guia de compras, como instrumentos de comparação e julgamento, como se fossem profundos tratados científicos refletindo a mais pura verdade.
Ainda mais preocupantes são os testes realizados por entusiastas de áudio e vídeo, publicados nos fóruns espalhados pelo mundo. Com muito menos recursos, e com excesso de subjetividade e falta de conhecimento adequado, estes testes colaboram ainda mais para confundir qualquer leitor, já perdido entre as inúmeras contradições dos demais testes realizados por avaliadores mais preparados.

Nenhum teste isolado pode ser tomado como referência absoluta. A soma deles pode indicar uma tendência, mas não necessariamente a escolha certa para todos os casos. Além disso, muitas vezes a avaliação é realizada já com uma tendência pré-definida de resultado.
Vejamos os fatores que influenciam o resultado de um teste, e que acabam colocando em dúvida sua real utilidade.

TESTES DE REVISTAS ESPECIALIZADAS

Quando digo “revistas especializadas”, pretendo já excluir aqueles testes eventuais realizados por jornalistas ou colunistas de publicações que não são do ramo. Já tive oportunidade de ler avaliações feitas em jornais e em outros veículos de informação que, de tão superficiais e pouco esclarecedores, não tinham qualquer utilidade, senão informar a existência daquela opção no mercado.
E, na verdade, mesmo nas publicações especializadas, costumo ver o teste como uma informação sobre algumas características técnicas e funcionais do equipamento, deixando o julgamento de suas qualidades em segundo ou terceiro plano.

Todos que trabalham com produção editorial, principalmente revistas e outros periódicos, sabem o quanto é importante um bom anúncio. Na maioria dos casos são os anúncios que maior representatividade tem no faturamento da publicação.
Toda editora tem um departamento comercial voltado à captação de anúncios, e o resultado desse trabalho pode resultar no fracasso ou no sucesso de uma revista. Não é por menos que a importância do anunciante é tão grande, e sua fidelidade tão importante.

A pergunta que podemos fazer é: Como manter ou atrair um anunciante testando seus equipamentos? A resposta parece óbvia: tendo o cuidado de não desmerecer a marca, elogiando o seu produto, mantendo feliz um atual anunciante ou atraindo outro para que, aproveitando a boa avaliação de seu produto, invista ainda mais em sua imagem com o anúncio.
Como administrar esta situação tão contraditória? Como realizar uma avaliação de um produto sem prejudicar um anunciante ou levar uma falsa informação ao leitor? Claro que falamos agora daqueles equipamentos que não tiveram um bom resultado nos testes, porque aqueles que foram bem estarão numa condição mais privilegiada, não correndo o risco de causar qualquer desconforto para a editora.
Quantas vezes vimos uma avaliação falando mal de um determinado equipamento? E quando isso aconteceu, o fabricante, importador, distribuidor ou revendedor era anunciante da revista ou teria alguma chance de se tornar um? Provavelmente não.
Lembro-me da revista Antenna, uma antiga publicação nacional que realizava alguns testes de equipamentos de áudio e, como deve ser, publicava testes que ora elogiava um equipamento, ora depreciava outro, pelas suas virtudes ou pela falta delas. Porém, não haviam anunciantes de equipamentos em suas páginas, e talvez por isso nunca teve o sucesso merecido. Bons anunciantes, patrocinadores e parceiros podem garantir o sucesso de uma publicação, mesmo medíocre, inclusive abrindo suas portas para “cadernos especiais”, encartes, eventos e outras possibilidades ainda bem mais lucrativas.

A resposta para a nossa pergunta sobre o que fazer nesta situação tão complicada é bastante variada, e cada editora segue uma linha diferente.

Alguns veículos preferem silenciar-se sobre um teste mal sucedido. Desconhecendo o teste, o leitor não toma conhecimento sobre aquele equipamento e seus defeitos, e a imagem do fabricante está preservada. Dizem estes avaliadores que ninguém sai prejudicado desta forma, pois não foi preciso falsear um resultado, ou seja, não foi necessário enganar o leitor, e todo mundo ficou bem. Mas, será que isso é fato? Esconder uma verdade não seria uma forma de enganar o leitor? Afinal, priva-se o leitor de uma informação importante para uma possível decisão na hora da compra, colocando-o a mercê de informações ainda mais perigosas de vendedores pouco preparados e cheios de interesses comerciais, de amigos que muitas vezes não têm o preparo certo para uma avaliação adequada, de anúncios enganosos, e também de outros testes publicados por avaliadores sem o devido cuidado ou conhecimento para tanto, ou mesmo sem quaisquer escrúpulos.
O prejuízo ao calar-se pode ser tão grande quanto aquele causado por quem manipula um resultado, e o consumidor acaba sendo lesado da mesma forma.

E é sobre este segundo grupo, dos que manipulam os resultados, que falaremos agora. Muitas publicações, até mesmo pressionadas pelos anunciantes, acabam disponibilizando a avaliação, porém devidamente manipulada para atender aos interesses daqueles.
Isto não é raro, e os resultados dessa fraude podem ser bem desastrosos. Divulgar falsa informação pode até ser enquadrado como crime. Mas, o leitor poucas vezes consegue se dar conta do que aconteceu. Ele compra um aparelho baseado numa avaliação positiva de determinada publicação e, depois de decepcionar-se com o seu desempenho, acaba achando que existem outros problemas em seu sistema que não permitem que o novo equipamento lhe proporcione o mesmo resultado obtido pelo avaliador naquele teste. No caso de aparelhos de baixa qualidade de construção, item pouco observado pelos avaliadores até pela falta de conhecimento específico, as constantes falhas de funcionamentos são tidas pelo consumidor como “azar”, acreditando que justo a sua unidade veio com problemas. E isso é bastante comum, por menos que pareça.
Esta linha editorial é bastante comum e muito lamentável. Afinal, não só as publicações de áudio e vídeo representam esse universo, mas também outras de gêneros distintos.

Algumas vezes adota-se uma outra solução, digamos, intermediária. Divulga-se o teste e apontam-se as falhas, mas sem a devida importância. Se algum dia alguém lhes questiona sobre os problemas do aparelho, eles dizem que comentaram sobre isso. A falha é tratada superficialmente, sem expor a sua real dimensão e suas consequências imediatas e futuras.
Seria algo como perceber que um aparelho apresenta alto índice de ruído de fundo, e num determinado ponto do texto dizer “…apesar da relação sinal ruído de 70dB, o aparelho possui uma ótima e agradável extensão de graves e agudos…”, ou, em outra situação, “…notamos apenas uma pequena limitação na extensão dos agudos, porém uma dinâmica acima da média…”
Desconfie! Problemas devem ter a mesma importância e destaque que as virtudes.

Já vi muitos aparelhos serem desmerecidamente elogiados em algumas publicações, estes fatos serem tomados como verdades e terem grande divulgação entre o público interessado e, ao final, ganharem uma falsa fama positiva. O perigo reside aí, a mentira pode crescer e se tornar uma verdade incontestável. O problema é que torna-se muito difícil identificar estas fraudes.
Os equipamentos testados são na maior parte das vezes fornecidos por fabricantes e representantes da marca, normalmente escolhidos com cuidado dentro de um lote fabricado, e previamente testados ou até mesmo “ajeitados” antes de serem enviados para teste.
Muitas vezes, em troca da “gentileza” de avaliar bem um aparelho, a unidade testada ou outra nova acaba sendo presenteada ou vendida por um preço simbólico ao avaliador, que se não lhe interessar, pode vendê-la no mercado com um bom lucro, e pior, com facilidade por conta do “status” do avaliador. Afinal, pensa o leitor, se era dele, e sendo ele exigente e conhecedor, deve ser um ótimo aparelho.

LISTAS DE AVALIAÇÃO

Publicada por alguns grupos específicos, normalmente formados por gente com bastante conhecimento, as listas se mostram algumas vezes livres do interesse comercial, já que não existem anunciantes, e os aparelhos são comprados em lojas comuns. São raras, mas também não estão livres de suspeita.
Nada impede que o avaliador seja ainda procurado pelo fabricante e receba vantagens para fazer uma avaliação favorável, ou pior, seja procurado por outra marca e convencido a denegrir o equipamento do concorrente. Sabemos que isso acontece frequentemente em muitas áreas, e porque seria diferente no mundo do áudio e vídeo?
Apesar de serem um pouco mais confiáveis em sua maioria, as listas também dever ser vistas com cautela.
Como nos demais casos, trataremos dos aspectos técnicos e subjetivos posteriormente, cuidando agora apenas da questão do interesse comercial.

FÓRUNS, COMUNIDADES E LISTAS DE DISCUSSÃO

Os sites da Internet, como fóruns, listas de discussão, comunidades como o Orkut, páginas pessoais, etc. também emitem opiniões sobre qualidades de equipamentos. Apenas comercialmente falando, alguns procuram ser honestos em suas avaliações, mas outros, como no caso das revistas, possuem anunciantes ou outros interesses diversos que acabam lhes causando conflitos de interesses.
Muitos desses espaços da Internet nascem como uma extensão do prazer pelo assunto, por uma simples satisfação pessoal, como um hobby, mas acabam infelizmente ganhando contornos comerciais. Quando o seu criador consegue preservar os princípios originais de imparcialidade e compromisso com a seriedade, e a verdade das informações publicadas em seu site, a credibilidade é mantida. Mas, principalmente em fóruns, podemos encontrar inúmeros fabricantes, comerciantes e correlatos, disfarçados de simples membros buscando valorizar suas marcas. Nos Estados Unidos foram identificados fabricantes infiltrados entre os membros de um fórum, valorizando suas marcas e depreciando as concorrentes. Isso é só um exemplo, e não deve acontecer somente em sites americanos. Não é fácil administrar um grupo grande de usuários de um fórum, identificando os “intrusos”. Não existe qualquer controle seguro para a entrada dos novos membros, e não há qualquer sistema de identificação de suas identidades. Por essa razão, alguns fóruns acabam permitindo o ingresso somente de pessoas conhecidas, ou por recomendação prévia daqueles que já pertençam à comunidade.
Mas, não só os membros de um fórum podem desvirtuá-lo. Os criadores e administradores destes fóruns acabam agregando negócios ao espaço, e o inevitável compromisso com seus interesses pessoais acaba também por prejudicar a sua credibilidade.
Comunidades como o Orkut, e outras disponíveis na rede, possuem um grupo mais reduzido de pessoas, mas uma estrutura funcional pouco prática, pelo menos comparada com a de um fórum. Estes grupos estão crescendo, e alguns já sofrem “invasões” de comerciantes buscando ampliar seus negócios.
Alguns sites com páginas de informação e testes de equipamentos, sem participação de usuários, também podem ter o resultado de seus testes manipulados, principalmente quando começa a ser considerado como um negócio economicamente viável.
Alguns sites americanos permitem que os próprios usuários publiquem seus reviews, atribuindo uma nota média sobre as avaliações recebidas para cada equipamento. Esse sistema também não está isento da participação vinculada à algum interesse pessoal.

Estes são alguns veículos formadores de opinião que, através dos seus “reviews”, podem ajudar ou prejudicar inúmeros compradores na hora de decidirem por um equipamento.
Todo cuidado é pouco e, novamente, qualquer avaliação deve ser interpretada com bastante cautela.

Continua

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