Por dias melhores no áudio e vídeo

Será que alguém poderia acreditar que existe uma revista que pudesse escrever coisas do tipo:

Sobre a LG:
TV LCD 47LG5000: (classificada em duas estrelas de cinco): “Um TV que não tem nem bom preço nem desempenho”

TV LCD 47LG7000: (três estrelas de cinco): “Boas especificações mas a imagem não convence”
HT IN-A-BOX j10HD: (três estrelas): “Imagem e som apenas médios”
Gravador de DVD DR275: (duas estrelas): “Incorpora a expressão: Falsa Economia”
Blu-ray player BD300: (duas estrelas): “Não recomendado: verdadeiramente desaponta” (também já elogiado por aqui, quando o mundo sério todo criticou)
Blu-ray player BD370: (três estrelas): “Não é capaz de mostrar a superioridade da tecnologia blu-ray”

E agora da Sharp:
TV LDC 42DH77: (três estrelas): “Ordinária sob qualquer ponto de vista”
Blu-ray player HP21H: (três estrelas): “Competente, mas compraríamos outro” (isso porque foi considerado altamente recomendado por uma revista nacional)
HT IN-A-BOX: (três estrelas): “Aparência boa, mas um som desequilibrado”

A vez da Panasonic:
TV Plasma P46Z1: (três estrelas): “Seu desempenho não justifica o alto preço”

Nem a Pioneer escapa:
DVD player 410-V: (duas estrelas): “Qualidade de imagem é pobre”

E a Epson…
Projetor TW1000: (duas estrelas): “Desaponta – você pode comprar mais por menos”

A famosa Dali:
Caixas acústicas Mentor 5.1: (uma estrela): “Escolha outras”

Nem a européia Dynaudio é perdoada:
Caixas acústicas Excite: (três estrelas): “Nome respeitado, mas apenas isso – falha em vários aspectos”
Caixas acústicas DM2: (3 estrelas): “Boas, mas a concorrência oferece mais por menor preço”
Caixas acústicas Excite X36: (3 estrelas): “Não foi capaz de empolgar”
Caixas acústicas Audience 72SE: (3 estrelas): “Boas caixas, mas falta refinamento de outras caixas mais baratas”
Caixas acústicas Audience 82: (3 estrelas): “Para quem gosta de graves, para Hi-Fi procure outra opção”
Caixas acústicas Focus 220: (4 estrelas): “Ótimas caixas, mas a concorrência oferece mais por melhor preço”
Subwoofer SUB300: (3 estrelas): “Pouco desempenho não justifica o preço”

A NAD:
Amplificador C375: (três estrelas): “Médio desempenho que não justifica o preço”
Blu-ray player T587 (três estrelas): “Por esse preço, deveria oferecer mais”

Nem a gigante Sony tem vez:
Sistem X90: (duas estrelas): “Bonito, mas além da construção ruim o som é bastante pobre”
Media center TP2s: (3 estrelas): “Resultados medianos. Superado pela concorrência”

Cambridge:
Cabo digital Óptico: (duas estrelas): “Falha em quase tudo”

A KEF:
Caixas acústicas C5: (duas estrelas): “A KEF vem produzindo excelentes caixas nesta faixa de preço, mas este não é o caso”

E a Oppo:
DVD player983H: (três estrelas): “Não justifica pagar esse preço hoje num DVD player com o lançamento próximo do blu-ray”
Blu-ray player Oppo BDP-831: (4 estrelas): “Contra: imagem e som pelas saídas analógicas. Pelo valor pode ficar atrás de outros”

Pois bem, parece impossível que uma revista possa fazer críticas desta forma sobre fabricantes (entenda: potenciais anunciantes) de tanto peso?
Mas, não é.
A revista What Hi-Fi Sound and Vision é uma publicação inglesa, com uma média de 170 páginas (as vezes mais de 200), no formato A4 (o que é ainda mais incrível) e com acabamento de alta qualidade (capa plastificada e páginas exemplares).

Os exemplos citados acima não são únicos, muitas marcas como JVC, Philips, Sanyo, Yamaha, Sennheiser, Shure, Monster, Meridian, Triangle e tantas outras tiveram notas baixas e críticas fortes na avaliação de alguns de seus produtos. Porém, essas mesmas marcas também receberam avaliações muito positivas, com cinco estrelas, em vários de seus produtos.
O que parece um comportamento ousado e aparentemente uma loucura de uma publicação que também depende de seus anunciantes, reflete apenas a honestidade de uma revista que, ainda assim, é recheada de anúncios.
Comecei a comprar essa revista há muitos anos, e já assino e recebo as publicações mensais há mais de 5 anos. A cada edição uma surpresa, que muitas vezes confrontam muitas outras publicações internacionais.
Num mercado cheio de interesses comerciais e paixões por marcas, a revista se destaca com suas críticas sempre objetivas, não importa a quem seja.
Não basta também o equipamento ser bom, tem que estar bem posicionado em seu mercado. Se a concorrência mostrar algo melhor, eles não recomendarão a compra.
Não há protecionismo de mercado, pelo contrário, alguns produtos de marcas européias são duramente criticados, enquanto outros de origem americana, coreana ou japonesa recebem pontuação máxima (o inverso também ocorre).

Infelizmente, o exemplo não é seguido pela maioria das publicações. Mesmo no Brasil, lamentavelmente, acabamos nos deparando com situações que chegam a beirar o ridículo, com publicações (não só impressas) qualificando produtos criticados pelo mundo inteiro (muitas vezes já até fora de linha) em pontuações máximas, ainda conferindo-lhes selo de “melhor compra”, “recomendado” e outros, de forma irresponsável e absurda. As marcas são sempre as mesmas, como se fosse possível somente elas deterem o know-how da produção de produtos “especiais”.
Observamos seção de cartas repletas de elogios até de condicionadores de rede elétrica, chegando mesmo a ser cômica a insistência em certos produtos e marcas.

Tudo que é testado recebe pontuações altas, e muitas vezes algumas lojas são visivelmente premiadas com uma frequência bastante exagerada em suas páginas.
O mercado hi-end no Brasil, graças a falta de seriedade, ética, responsabilidade e compromisso com o leitor, acabou poluído com o lixo oriundo da falta destas virtudes. Como numa barraca de frutas, temos que saber escolher com muito cuidado, para separar o que possui qualidade do que está podre. É uma situação nojenta e lamentável.
Se faço uso de palavras fortes, é porque já estou bastante irritado com a situação. Não pelo lucro obtido com a falta de caráter destes aproveitadores, mas pelos prejuízos que isso causa a muita gente honesta, que por falta de informação acaba investindo seus recursos, às vezes bastante limitados e advindo de muito trabalho suado, nas porcarias que revistas, sites e fóruns divulgam como “hi-end”.
Muitos não podem fazer pesquisas mais cuidadosas no exterior, seja pela falta de afinidade com idiomas estrangeiros ou desconhecimento da forma como fazê-lo.

Membros falsos são criados em fóruns, outros são comissionados, seja para o interesse comercial de lojas, próprios ou do próprio mantenedor do espaço.
Testes que nem existem são publicados em revistas, sem divulgação de preços ou analisando apenas pontos positivos. Ninguém comenta que o produto já saiu de linha no exterior pela falta de qualidade.
Alguns propõem mudanças. O que mais desejamos é que elas tragam realmente uma nova postura no mercado, e tomem como exemplo a What Hi-Fi, que se ainda não é perfeita, está mais próxima de ser um melhor exemplo.

É preciso que os consumidores tenham muita atenção ao ler o que é publicado. É fácil perceber as incoerências. Não é possível que a cada 10 cartas recebidas mensalmente por uma revista, que 3 ou 4 comentem as qualidades de um condicionador de linha. É inadmissível que uma publicação que se diz séria, diga que o preço do produto não estava disponível (na publicação européia todos os produtos apresentam preços, sem exceção, até mesmo alguns pré-lançamentos). É ridículo um produto avaliado ser colocado à venda nos classificados da própria publicação meses depois (será que consideram seus leitores idiotas?). É um absurdo que uma publicação manipule fotos para incluir equipamentos que não existiam na sala avaliada (em breve isso será tratado aqui também). É triste ver um produto que não tem qualquer qualidade ser elogiado na mesma publicação que oferece uma ou duas páginas de anúncio para o fabricante do equipamento. É um absurdo alguns membros de fóruns a cada 10 comentários que fazem de um equipamento, 9 elogiam uma única marca, ou ainda acabem por citá-la até em discussões que não possuem qualquer ligação com aquele produto ou marca.
É uma vergonha o que acontece no mercado hi-end do Brasil (e até em alguns outros países). Estão acabando com um hobby que merecia ser melhor preservado.
O hi-end tem muito para oferecer, essas publicações, nada.

Não pode haver vínculos comerciais num hobby, ou ele perde a credibilidade. As pessoas terminam enganadas pela publicidade oculta, e acabam adquirindo produtos que a afastam do prazer pelo hobby, no momento que ele não atinge suas espectativas.

Será que o mercado vai acordar? Será que os consumidores vão perceber o quanto estão sendo manipulados?

Já fui ameaçado e criticado por falar mal de algumas marcas aqui. Muitas vezes, discussões foram induzidas na tentativa de desmerecer a confiança do que eu escrevo.
Acho que depois de tantos anos, se isso fosse tão ruim, a What Hi-Fi já teria abandonado a linha editorial que lhe é tão característica.

Vou continuar assim, mantendo a minha postura que não precisa ser manipulada por qualquer interesse comercial, pois não tenho nenhum tipo de interesse econômico neste segmento.
Sou muito bem resolvido nas áreas profissionais que atuo, na indústria em geral (por sorte nenhuma envolvida com áudio e vídeo) e na advocacia.
Para me criticar, terão que provar que são tão imparciais como eu. Mas, para o observador mais cuidadoso, isso não vai ser tão fácil assim.
Por dias melhores no áudio e vídeo.

1 Comentário

  1. Com relação a NAD e seu péssimo representante brasileiro , devo dizer que meu M3 , queimou com todas as defesas possiveis, circuitos isolados, Panamax, disjuntos de 10Â e o representante afirma que foi supertensão e quer somente 50% do valor nos EUA para o conserto. Acho que o cartel dos distribuidores tem de acabar, pois na hora do suporte esse nào existe Acho que realmente tens razão temos de ter melhores dias de audio!!!!!
    Sou novo no seu site, mas parabens pela postura e conhecimento no assunto
    Fernando Spinola

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