Deterioração de tweeters de domo de seda

Mais um exemplo de como o tempo pode prejudicar os componentes de nossos equipamentos.

Eu sempre sou surpreendido com alguns audiófilos que conseguem ouvir (ou dizem que ouvem) “sutis” diferenças entre fusíveis, entre formatos de gravação ou acessórios inúteis, mas, curiosamente, não percebem o óbvio.
Vou apresentar aqui mais um caso, vivido por mim, de mais uma situação onde não encontrei referências em discussões de audiófilos, revistas “especializadas”, fóruns ou sites de áudio “hi-end”, mas que pode provocar uma diferença notável no resultado sonoro que parece fugir desta capacidade de “hipersensibilidade auditiva” de alguns audiófilos.

Há algum tempo eu escrevi aqui sobre a importância da temperatura e da umidade em nossos sistemas, e como estes fatores influenciam os resultados (veja em: http://hifiplanet.com.br/blog/temperatura-e-umidade-pequenos-detalhes-grandes-mudancas/ ).
As consequências da temperatura no comportamento dos nossos equipamentos eletrônicos, na mobilidade dos cones dos alto-falantes e até na mudança de operação na curva de operação de alguns componentes provocam mudanças significativas no resultado sonoro, que, curiosamente, são  pouco perceptíveis aos audiófilos, mas que é mensurável, é real e provoca mudanças de fato, sem divagações em subjetivismo. Naquela oportunidade, quando abordamos esse assunto, mostramos o quanto a umidade também é prejudicial ao desempenho dos nossos sistemas, e a importância de ter um ambiente controlado.
Mas, geralmente, audiófilos pagam 10 mil dólares num cabinho que nenhuma diferença real fará ao sistema, e ignora estas e outras questões que mostram significativas alterações de resultado.
Eu vivi mais uma experiência que demonstra o quanto alguns elementos desprezados são mais importantes do que se imagina, e relato aqui.

Eu ainda preservo de outras épocas um amplificador integrado Creek 5053SE, adquirido novo do importador no Brasil.
Considero esse integrado, ainda hoje, um dos melhores produtos já feitos pela indústria eletrônica de alta-fidelidade. Ruído de fundo zero, detalhamento perfeito, muita velocidade nos transientes, uma excelente curva de resposta, baixas distorções e uma corrente de saída capaz de fazer tocar com tranquilidade a maioria das caixas acústicas do mercado.
Na época, custando US$ 1.500,00 no mercado internacional, o mesmo preço que paguei aqui de um dos poucos importadores, digamos, “corretos”, que já conheci, esse integrado foi premiado com um “Classe A” pela revista Stereophile, e ganhou outros prêmios e elogios pelo mundo todo.
No Brasil, avaliado por uma publicação de limitada competência técnica e de ilimitados interesses comerciais, ele foi recebido com pouca importância. A decepção do importador foi total, pois ouviu o absurdo de que “aquela qualidade por um preço tão baixo iria prejudicar os concorrentes”, e que, ou o importador aumentasse o preço do amplificador, ou ele teria que receber uma classificação mais baixa em sua avaliação.
Foi uma piada (de mau gosto) ver um equipamento ser tão bem recebido lá fora e aqui não ganhar a mesma importância por razões pouco “justas”. Lembro-me quantas vezes, junto com colegas, comparamos o Creek com amplificadores até 10 vezes mais caro do que ele, e os donos destes equipamentos saíram decepcionados ao ver um equipamento bem mais barato fazer tão mais que o seu, que havia recebido “diamantes” de avaliação por algumas publicações.

Quando construí as minhas novas caixas acústicas, como custos e recursos técnicos não limitavam o projeto, ela fugiu um pouco da curva e ficou com uma impedância nada “agradável” para os amplificadores do mercado. Elas são caixas muito exigentes em termos de corrente, e o amplificador precisa ser muito forte para conseguir extrair o melhor dessas caixas.
Infelizmente, o Creek, apesar de ter uma das mais elevadas correntes de saída do mercado (uma característica elogiada do modelo), não conseguiu dar às caixas o que elas precisavam.
Depois de muito pesquisar, separando exageros de avaliações tendenciosas e buscando um sistema de amplificação ao nível da exigência das minhas caixas, acabei optando por um conjunto modular, formado por um pré-amplificador e dois amplificadores de potência da Cambridge, que atendeu perfeitamente aos meus objetivos.
Mas, me desfazer do pequeno Creek não era algo que poderia ser considerado, pois era um equipamento excepcional, e eu sabia que por muitos anos ele ainda seria uma excelente opção até diante de novos modelos que estão chegando hoje por aí. O único problema dele é que, periodicamente, é necessário realizar uma limpeza e lubrificação dos contatos de chaves e potenciômetro, que com o tempo apresentam maus contatos. Mas, esse é um preço muito pequeno que se paga por um produto tão excepcional.

A solução foi levar o velho companheiro Creek para um segundo sistema que montei no meu escritório em casa. Trata-se de um sistema modesto, formado pelo próprio Creek, um player Oppo 981HD (outro excepcional tocador de DVD-Audio, CDs e SACDs), um DAC externo V-DAC da Musical Fidelity e duas caixas Tannoy Mercury MX-2 (também excelentes) embutidas em nichos da estante. Sim, eu sei que essa acomodação das caixas não é a ideal, mas estou falando de um sistema descompromissado de som ambiente, e não de audição crítica.
Tudo isso foi interligado com cabos QED e outros.

O resultado desse sistema foi realmente muito animador. Foi um daqueles casamentos que não tem volta, sem nada para ajustar.

Sistema montado no escritório para som ambiente

Com o passar do tempo, comecei a achar que o som fornecido pelo sistema havia perdido um pouco daquele brilho de outrora, e pensei: “Será que estou ficando mais exigente?”, ou “Será que o Creek precisa de uma revisão de capacitores, etc.?”. Mas, um dia observando as caixas sem suas telas, de perto, notei que os domos dos tweeters de seda das caixas estavam com um aspecto estranho, sem brilho, manchado e com fissuras. Os tweeters estavam danificados.

Tweeters danificados

Em razão destas caixas terem operado durante alguns anos numa sala em minha antiga casa que não tinha controle de umidade, muito provavelmente os domos dos tweeters acabaram danificados por algum tipo de fungo, ou mesmo ressecados pelos dias mais secos.
Na foto ampliada abaixo, podemos ver no tweeter deteriorado à esquerda como até a borda circular do domo foi comprometida, restando deformada.

Diferença entre o tweeter danificado (à esquerda) e o novo que o substituiu (à direita)

Diante do problema, decidi importar duas unidades novas para as minhas caixas. Apesar de conhecer quem recupera estes componentes, eu sei que eles nunca readquirem exatamente as características dos originais.
Importei duas unidades da The Speaker Exchange (https://reconingspeakers.com), ao custo unitário de US$ 82,00 (mais custos de envio, impostos e taxas dos Correios). Não ficou barato, mas preservei a originalidade das caixas. Além disso, sei que eu poderia ter comprado unidades melhores, mas, novamente, eu preferi manter a originalidade das caixas.

A substituição dos tweeters foi fácil, bastando soltar três parafusos da sua moldura, retirá-lo de seu compartimento e colocar o novo no lugar. A ligação também é bastante facilitada, já que é feita com dois terminais de pressão.

Caixa com o tweeter já substituído

Finalizada a troca, coloquei o primeiro CD para testar se tudo estava OK, e… surpresa !!! Na verdade, até esperada. Toda aquela magia e a sinergia do conjunto que tanto me encantavam no passado estavam de volta. Agudos limpos, cristalinos, mais realistas, e médios que ganharam nova vida com a ajuda dos agudos no lugar certo.
Eu ia deixar alguns discos tocando para a acomodação das partes móveis (“amaciamento” se preferirem assim), mas confesso que acabei ouvindo o disco todo, relembrando e me deliciando com os detalhes que eu já não reconhecia mais neste sistema. A diferença foi muito significativa, não tem nada de subjetivo num caso como esse.

Procurei referências na internet sobre deterioração semelhante de domo de seda de tweeter, mas encontrei apenas outro usuário que teve o mesmo problema (https://www.stereo.net.au/forums/topic/296955-tweeter-with-cracked-coating/),  e por coincidência com uma caixa Tannoy (foto abaixo). Outros usuários comentaram sobre deterioração de seus tweeters, mas não entraram em detalhes sobre os sintomas e as causas.

Outro caso similar reportado na internet

Pesquisando pelos componentes separadamente, descobri que a seda utilizada na fabricação do domo pode realmente sofrer com fungos ao longo do tempo, e o revestimento de superfície utilizado no domo também sofre danos com o tempo.

Fica mais esta dica aos nossos leitores. Façam uma boa vistoria em seus tweeters, na borracha de suspensão de seus woofers e demais componentes, e tratem de cuidar muito bem da temperatura e da umidade da sua sala.

 

 

2 Comentários

  1. Caro Eduardo,

    Este artigo é muito interessante, pois ainda não havia visto alguma abordagem sobre o tema.

    Tenho uma Acoustic Energy Evo 1, que está apresentando o mesmo problema no tweeter (nas 2 caixas). Eles não estão deteriorados como estes das fotos que você mostrou, mas já há algum tempo comecei a notar que o domo perdeu aquela aparência brilhante e lisa que apresentava quando novo e surgiram algumas estrias, ainda que mínimas.

    Por enquanto, não percebi nenhuma alteração audível, somente estética.

    Um grande abraço,
    Helio

  2. Olá Hélio !

    Demora algum tempo até haver alguma consequência no desempenho, no seu caso, não há nada a se preocupar ainda.
    Mas, depois de publicar esse artigo, recebi vários e-mails relatando o problema.
    A degradação de componentes não atinge somente os tweeters. Com o tempo a borracha da suspensão dos alto-falantes também vai se degradando, assim como o ferrofluído dos tweeters.
    Mas, ninguém dá atenção a isso, e acaba fazendo upgrades desnecessários para compensar isso, afirmando ainda que, na comparação, percebeu um salto de “qualidade”. Óbvio ! Sua caixa anterior estava precisando de uma manutenção que provavelmente custaria um décimo do valor da nova, e poderia ficar até melhor do que essa.

    Abraço

    Eduardo

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