Teste do rack Airon X 98/4

O universo do Áudio Hi-End é mesmo algo complicado.
Depois de ler maravilhas sobre um produto nos “reviews” (?) que achamos por aí, quando você tem ele nas mãos não consegue entender porque tantos elogios. Este é mais um caso.
Acho que muitos testes de equipamentos têm influências muito fortes de fatores emocionais e psicológicos.
Não dá para entender que alguém teste um produto e exagere tantos em elogios que chegam ao cúmulo do absurdo, dizendo que essa ou aquela característica do som “ficou muito mais consistente”, “obteve um enorme ganho”, “me fez ouvir novamente toda a minha coleção de discos”, “descobri detalhes em minhas gravações que nem sabia existirem”, etc…

Como acreditar em testes se uma simples mudança no sistema do avaliador muda todo o resultado?
Então não é um sistema de “referência”, e, portanto, não pode validar qualquer teste.
Claro que sempre obtive ganhos com as mudanças que fiz em meu sistema, mas atualmente esses ganhos, pelo patamar atingido, são bem sutis.

Consegui emprestado o rack Airon X 98/4, do amigo Emílio, que por sua vez também o recebeu emprestado para teste, e não posso dizer de quem (até posso, mas iria arrumar uma confusão enorme…).

O rack é bonito e bem acabado.
Segundo o fabricante, é uma evolução de outro modelo que recebeu elogios (e classificação máxima de pontuação) da mesma publicação que elogiou este (desde 2002 !!!…?), com a diferença que este possui 4 colunas, enquanto o outro era um sistema “Y”, de três colunas. No restante, poucas diferenças.

O acessório foi testado com equipamentos realmente de referência, atuais, e com caixas atualizadas, com menos de 1 ano de criação, e não com mais de cinco, como alguns “avaliadores” costumam chamar de obsoletas pela evolução tecnológica.
Neste ponto eu concordo. Todas as caixas que testei com projetos de mais de cinco anos (ou menos ainda) mostraram-se mais ou menos envelhecidas, não acompanhando a evolução tecnológica e as exigências dos novos formatos de alta resolução de áudio (SACD, Blu-ray Audio, etc…). Totalmente inaceitáveis em avaliação de equipamentos hi-end.

Depois de devidamente ajustado ao piso (operação bastante simples), o rack foi colocado à prova.

Em uma discussão com um fabricante de renomadas caixas acústicas européias, me foi dito que o melhor sistema de apoio para um equipamento é rígido, totalmente inerte, seja uma caixa acústica, um CD player, ou um toca-discos de vinil.
A explicação é bastante simples… “amortecedores de vibração”, “spikes” e outros acessórios normalmente fornecidos como solução para “absorver” ou “isolar” vibrações, simplesmente não funciona.
O fato é que isso é… um fato!!!
Realizei inúmeros testes com um medidor de vibrações que utilizamos na empresa para fins de avaliação de equipamentos industriais, e a conclusão que cheguei é que muitos dispositivos criados para solucionar problemas com vibrações na verdade pioram ainda mais a situação.

Depois de vários testes e de muitas pesquisas (leiam neste mesmo site sobre os dispositivos LCBM que criei), descobri que nada substitui uma rígida base de apoio.
Essas histórias de trabalhar em “balanço”, ou de spikes isolar vibrações como se fossem “diodos” (componentes semicondutores que permitem a corrente elétrica fluir numa única direção) estão superadas. Comprovadamente, apresentam pouco ou nenhum resultado.
Hoje meu sistema está instalado numa sala isolada, sobre espessas prateleiras de MDF montadas numa estrutura rígida de tubos quadrados de PRFV (fibra de vidro), e fixada na parede e no piso por robustos parafusos.
Não vi até hoje solução melhor.

Comparativamente, usando o rack da Airon, meu sistema sofreu ligeira perda de qualidade de algumas características, e forte piora em outras.
A vibração do SACD player e do blu-ray player utilizados no teste aumentaram muito. Isso era perceptível, bastando apenas encostar os dedos no equipamento para perceber o fato.
O amplificador também apresentou vibração, e ficou claro que o sistema “absorvedor de vibração” agiu ao contrário.
Já me disseram que só se deve absorver vibrações que não queremos que atinja um local específico, como num carrro, onde sua suspensão age absorvendo as imperfeições das ruas para que não sejam transmitidas ao interior do carro.
Mas, se ela já é gerada no dispositivo, somente piora se apoiada num dispositivo móvel.

A principal perda notada foi na qualidade dos graves, com ligeira diminuição do detalhamento sonoro e sutil prejuízo ao palco sonoro.
O fato se repetiu, coincidentemente, tanto em meu sistema, bastante exigente, quanto naquele do Emílio, menos sofisticado.

O acessório ganha em beleza e praticidade, facilitando o acesso aos equipamentos e proporcionando ventilação bastante generosa.
Sua aplicação num sistema hi-fi pode ser interessante, mas eu não gostei de sua utilidade numa aplicação hi-end.

Recomendo que, antes de adquirir este produto,  se faça um teste em seu sistema, com muito cuidado, não se deixando influenciar por sugestões de qualquer origem. Se houver alguma diferença, veja se foi realmente para melhor.
Esqueça reviews (inclusive este), e faça sua própria avaliação, pois, para os dois sistemas testados, os resultados decepcionaram.

Tente colocar seu equipamento direto no piso para um teste, no máximo com apoios de borracha sob eles para eventual variação de resultados. Algumas vezes, soluções econômicas como o Vibrapod podem amenizar alguns efeitos indesejáveis, e já obtive alguma vantagem com eles. O interessante é que eles também são mais rígidos do que a maioria dos dispositivos ofertados pelo mercado, e ajudam no apoio do equipamento sobre a superfície.
Já vi resultados interessantes com a colocação de uma placa de granito ou livros sobre CD players de alto nível. A total imobilização do equipamento parece ser bem mais benéfica do que os dispositivos móveis.

Se você mora numa cidade, com caminhões e ônibus fazendo tremer a sua sala cada vez que passam na rua, soluções como as ofertadas pelo mercado também não resolvem, pois a maioria não absorve vibrações no sentido vertical, mas somente no plano horizontal. Esferas e spikes, ao contrário do que diz o mercado, não vão isolar nada.
A solução é mais complexa (trataremos disso num outro artigo), e na maioria das vezes já está embutida no equipamento, no transporte de um CD player, por exemplo, pelo menos naqueles de melhor qualidade.

Teste muito, decida-se depois.

2 Comentários

  1. Muito bom!
    Particularmente acho os produtos dessa empresa um fiasco! Quase tudo que comprei dela depois de anos de uso estão em péssimo estado, pois não foram feitos para durar.
    Infelizmente caí no conto do vigário e adquiri um rack Y, que à época também foi considerado “Diamente Referência” pelo diretor e articulista de famosa revista de áudio brasileira, mas hoje inventaram (ou copiaram?) o tal do rack X, que supera o anterior (então o Y não era referência?).
    Bem, como sou tolinho, vou esperar lançarem o rack W…
    Abraço

  2. Muito bom seu artigo e concordo contigo. Às vezes me parece que o fator psicológico age mais forte e as pessoas se fazem acreditar em algo imaginário. Claro que isso não acontece todas vezes.

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