Cuidados ao Adquirir um Produto Usado de Áudio

Equipamentos e acessórios de áudio usados podem ser uma alternativa para quem pretende ter um determinado produto, mas não deseja pagar o preço de um novo. Mas, alguns cuidados são importantes na hora de adquirir um produto usado.

 

Costumo sempre dizer que é melhor adquirir um produto mais modesto, porém, novo, do que um produto usado em condições duvidosas.
Mas, a crescente oferta de produtos usados acaba estimulando este comércio, pala variedade e preços mais acessíveis.

Mas, para não se arrepender depois, alguns cuidados são necessários.

Eu também já adquiri muitos produtos usados. Com a sorte de ter formação e conhecimento técnico em eletrônica, consegui fazer bons negócios sem arrependimento.
Mas, sempre contei com esse conhecimento e com a prática por ter convivido com muitos equipamentos, quando prestava assistência técnica para poder pagar o colégio técnico e depois a faculdade.
Normalmente, eram equipamentos de áudio e vídeo com algum tempo de uso, alguns bem conservados e outros nem tanto, alguns que já haviam passado pelas mãos de técnicos “pouco cuidadosos”, e outros que tinham problemas já no projeto.

Para ajudar aqueles que buscam adquirir algum produto usado no mercado, mesmo ignorando a minha sugestão de comprar um mais barato, porém, novo, seguem aqui algumas sugestões. Se puder ainda contar com a ajuda de um técnico experiente e confiável, melhor. Senão, as orientações deste artigo poderão reduzir bastante os riscos de se fazer um mal negócio.

De Quem Comprar?

Esta é uma pergunta importante, pois o sucesso de uma negociação começa por aqui.
Comprar do vendedor errado pode resultar em graves prejuízos e também muita dor de cabeça.

Diversas são as opções de venda hoje, e as mais habituais são as lojas virtuais, lojas físicas e sites de leilão como o Mercado Livre e outros, além de espaços cedidos por fóruns para esta finalidade.

Uma forma hoje mais rara são os anúncios de revista, principalmente as direcionadas a este mercado específico.

ANÚNCIOS DE REVISTAS

Requerem algum cuidado. Apesar de não ser o espaço preferido dos pilantras, ainda assim deve ser visto com bastante cautela.
É sabido que muitos avaliadores de equipamentos são “agraciados” com os produtos testados, ou recebem grandes descontos para ficar com eles depois dos testes, para que sejam mais “gentis” em suas avaliações.
Já realizei testes para uma revista, e sei o quanto um avaliador é assediado por muitos daqueles que lhe oferecem os equipamentos para serem avaliados, com raras (muito raras) exceções.
Mesmo sem jamais ter aceitado favores e justamente por ter sido honesto em minhas avaliações, acabei acumulando alguma antipatia dos fornecedores e anunciantes da revista para a qual colaborava. Como a minha participação era apenas pela satisfação de colaborar com os consumidores (tanto que fiquei quase um ano sem cobrar um único centavo por esta participação), resolvi deixar a revista para não ceder às chantagens que aumentavam.

Porém, em alguns casos, o avaliador, editor ou diretor da revista pode acabar aceitando a “gentileza”, e este produto vai acabar servindo para aumentar a sua renda pessoal.
O mais comum é que o equipamento fique algum tempo guardado, e depois apareça anunciado com a justificativa de um “upgrade”. O curioso é que o equipamento não era visto em uso pelo seu dono, e não representava realmente um upgrade do sistema que ele já possuía. Por aí já podemos concluir um pouco sobre a história e a origem do equipamento.

Os anúncios aparecem nos classificados da própria revista, apesar de mais raro hoje, pois alguns já procuram outros caminhos para vendê-los. Outras vezes, pedem para algum amigo anunciá-lo, para desvincular o aparelho de suas “vantagens” com a atividade exercida.

Os testes (quando realmente acontecem) não representam um problema em si, pois não são tão agressivos como se pode imaginar. Há pouco do que fazer para causar algum prejuízo sério ao equipamento.
Cuidado maior se deve ter com aqueles que foram muito transportados para eventos, cursos ou outras demonstrações. Mas, neste caso, as marcas de uso que ficam no equipamento não escondem os abusos.

LOJAS FÍSICAS DE USADOS

É como uma loja de carros usados. Todos os produtos que estão lá “são ótimos e uma grande pechincha”, segundo os vendedores.
Mas, não é exatamente assim que as coisas funcionam.
Normalmente a loja não conhece a fundo o produto ou o comprador. Ela está ali para realizar negócios, não para julgar as qualidades de um produto e oferecer este julgamento para o futuro adquirente.

Algumas lojas adotam uma postura mais honesta, e além das virtudes, alertam sobre algumas limitações do produto, oferecem boa garantia e assistência técnica, e ainda aceitam devoluções.
Importante lembrar que, mesmo uma loja física que também vende pela internet tem a obrigação de aceitar devolução do produto restituindo o valor pago, dentro do prazo previsto em lei de 7 (sete) dias, se a transação ocorrer pela internet e não no estabelecimento.

As lojas de usados apresentam boa variedade, e quando adotarem posturas de respeito e seriedade com os seus clientes, podem ser uma opção interessante.
Convém, sempre que for realizar uma compra, e isso vale até mesmo para lojas virtuais, fazer uma busca, mesmo que pela internet, da reputação da loja. Normalmente o Google facilita muito este trabalho, bastando fazer uma busca do nome da loja junto com palavras como “Reclamação”, “Atendimento”, “Problemas”, etc.
Sites como o reclameaqui.com.br também oferecem alguma ajuda.
Se as reclamações forem em grande número, com soluções inadequadas e principalmente com uma frequência progressiva, comece a desconfiar.

O acesso a consultas processuais em fóruns hoje é bastante facilitado pela internet, e franqueado a todos, mesmo para quem não é da área jurídica.
Consultar eventuais ações contra a empresa no âmbito cível e criminal também ajuda a formar uma opinião sobre a seriedade da empresa.

LOJAS VIRTUAIS ESPECIALIZADAS E SITES DE COMPRAS GENÉRICAS

Lojas virtuais especializadas normalmente são extensões de lojas físicas, e vale o que foi abordado no caso anterior.
Quando se tratar de loja exclusivamente virtual, a atenção deve ser ainda maior, principalmente com lojas muito novas.

Sites de compras e leilões, assim como espaços cedidos por fóruns e outros sites dedicados exigem um cuidado ainda maior. Aqui não cabe o benefício legal da desistência no caso de vendedores particulares e produtos usados.

A cada dia que passa é maior o número de pessoas lesadas em golpes praticados por vendedores (ou melhor… golpistas) que circulam nestes espaços.
Alguns sites fornecem o perfil de seus negociantes, com uma avaliação dos negócios já realizados por eles. Normalmente estas avaliações são baseadas em pontuações e relatos de quem já negociou com o comerciante, e também pelo número de negócios efetuados e o tempo em que atua no espaço. Estas informações ajudam muito, mas é preciso cautela com avaliações fraudulentas.

Alguns sites oferecem formas de pagamento e comercialização com algum tipo de segurança, o que é muito interessante.

São talvez os locais de maior risco, e onde todo cuidado é pouco.

Cuidados na Hora da Compra

Lojas Físicas

1. Faça uma avaliação detalhada do produto. Ao final deste artigo colocarei algumas dicas para isso.

2. Peça sempre nota-fiscal.

3. Solicite a garantia por escrito.

4. Confira todos os acessórios

Pela Internet

O risco aqui é muito maior.

Sejam em fóruns, sites de lojas, ou leilões virtuais como Mercado Livre, ebay e outros, o cuidado deve ser muito grande, e algumas sugestões são válidas:

1. Peça referências do vendedor

Alguns sites oferecem isso, mas ainda assim é preciso cuidado.
Alguns comerciantes criam outros usuários “fantasmas” para atestar sucesso em negociações que nunca ocorreram. Portanto, comerciantes com poucas vendas são de maior risco do que aqueles que possuem centenas ou milhares de negócios efetuados.

Transações ruins podem existir, pois muitas vezes a falha não ocorreu somente por culpa de quem está vendendo, mas também pelo comprador.

Um ou dois por cento de transações mal concretizadas é um número aceitável, e não deve assustar muito. A atenção deve ser maior se estes problemas forem recentes e progressivos, pois pode se tratar de um comerciante que sempre trabalhou corretamente, mas que se encontra em vias de abandonar as negociações e de realizar péssimos negócios.

Quando entrar em contato com o negociante, exija um número de telefone válido, de preferência fixo, e confirme se ele realmente está disponível naquele número.
Peça outras referências como o local de trabalho, endereço ou outros números de telefones para referência.
Pergunte se pode retirar o produto pessoalmente. Comerciantes que não permitem contato direto podem ser de alto risco.

2. Peça fotos reais do produto

Não aceite fotos comerciais do produto.
Exija imagens reais do produto à venda e bem detalhadas. Se o vendedor informar que possui nota fiscal do aparelho ou manual, peça fotos também, de preferência de tudo junto.

3. Utilize as formas de compra segura

Muitos sites oferecem negociações seguras. Utilize-as.
Nunca faça depósitos em nome de outras pessoas senão naquele do próprio vendedor.

4. Guarde todos os e-mails da negociação

Confirme todos os detalhes da negociação por e-mail, e guarde bem estes e-mails e as fotos do produto. Copie também as páginas do site.

Dicas Para Avaliar Um Produto

Algumas sugestões valem para vários tipos de produtos, outras são mais específicas.
Já vimos em nosso artigo sobre validade de cabos algumas características sobre a sua utilização que podem depreciá-los.

Em geral, podemos sugerir alguns cuidados:

1. Desgastes de conectores externos

Tanto cabos, acessórios e equipamentos ficam com conexões desgastadas com o uso contínuo, perdendo parte de seu banho superficial (prata, ouro, níquel, etc.) ou deixando marcas de uso.
Observe este conectores em busca de sinais de uso intenso com movimentações constantes.

2. Marcas de uso

Inspecione o produto em busca de marcas de uso. Arranhões, botões frouxos, cabos muito deformados, pés sujos ou desgastados e outros detalhes podem indicar um produto mal cuidado ou muito manuseado.

Quanto mais novo parecer o equipamento, melhor. Não há razão para um produto que fica estacionado numa prateleira apresente muitas marcas de manuseio.

Como num carro, quando o dono não cuida muito da aparência da lataria, da pintura e do estofamento, normalmente pouco se preocupa com a mecânica.

3. Sinais de manutenção

Equipamentos que já sofreram manutenção podem ser problemáticos. Nem sempre a manutenção é bem feita, com componentes de reposição originais e os cuidados necessários.
Outras vezes trata-se de um aparelho com desgastes excessivos, que já vem apresentando dificuldades.

Algumas dicas é observar se todos os parafusos de seu gabinete são originais, e se, por exemplo, não existem parafusos diferentes no fechamento da tampa, parafusos de fenda misturados com parafusos tipo Philips.
Verifique se os parafusos não contêm sinais de terem sido mexidos.

Procure por etiquetas ou marcas de cola de etiquetas de serviço.

Se puser abrir o aparelho e verificar a sua originalidade, isso é bastante recomendável.
Soldas mexidas ou componentes mal posicionados podem sem uma dica sobre eventuais serviços realizados nos aparelhos. Nesse momento, um conhecimento mais técnico pode ajudar.

4. Desgaste de componentes

Equipamentos móveis são mais sujeitos a desgastes.
CD players, por exemplo, necessitam de um grande cuidado na hora da compra, pois são mais suscetíveis ao desgaste mecânico do sistema de leitura e danos em componentes delicados.
A aquisição de um player de disco requer muita atenção. Players antigos ou muito usados normalmente não representam uma boa compra.

Controles de volume, balanço, seletores de função e chaves devem ter funcionamento preciso, e não provocar ruídos ao serem movimentadas, principalmente o controle de volume.
As funções não podem apresentar falhas ou irregularidades de funcionamento.
Se ao acionar um controle e ele falhar, mesmo que funcione outras vezes, não confie no produto. Defeitos intermitentes são muito incômodos.

Controles remotos podem mostrar mais claramente o uso feito por um aparelho, denotando casos de utilização excessiva. Mas, cuidado, muitas vezes o controle parece pouco usado porque outro dispositivo era usado para operar o aparelho. Procure marcas de vazamento de pilhas no controle remoto.

5. Teste exaustivo

Não tenha pressa para testar o aparelho.

No caso de players de disco, coloque vários discos, e em todos os formatos aceitos pelo aparelho. Pule todas as faixas de gravação até a última. Alguns desgastes que ocorrem no leitor aparecem mais frequentemente em algumas posições de leitura do disco.

Teste todas as funções, conexões e recursos.

Deixe um amplificador funcionando por algum tempo, e em volume suficiente para fazê-lo aquecer. Desconfie se o som distorcer ou ele se desligar sozinho, nem que seja por uma única vez.

Nenhum aparelho deve apresentar “cheiro de queimado”, principalmente desligado.

Em caixas acústicas, perceba se os alto falantes não estão “raspando”, com o cone apresentando algum ruído ao se movimentar. Note se existem marcas de que o tweeter ou outro componente possa ter sido amassado alguma vez.
Veja se as borrachas dos alto falantes não estão ressecadas, e se o gabinete não possui rachaduras, estufamentos, esfarelamentos ou marcas de queda.
Veja se não existem marcas de que os falantes ou outras partes foram desmontadas.

Se conseguir, movimente os aparelhos para tentar ouvir partes soltas internamente. Muitas vezes, até um pingo de solda solto pode dizer algo sobre a história do produto.

6. Não se conforme facilmente com explicações

Todo mundo tem uma explicação para equipamento que produzem chiados, zumbidos, falhas de funcionamento, aquecimento anormal e outros problemas. “É a energia elétrica ruim”, “a falta de uso”, “o equipamento ainda está frio”, “é a tomada que está com defeito”, “o disco que não é muito bom”, “a sala não ajuda”, etc…
Não caia nessa conversa.

Citar reviews também não garante a qualidade de um equipamento. Muitos adoram mostrar trechos de testes falando maravilhas do produto. Quantas vezes você viu um review reprovar um produto? Um aparelho usado pode apresentar comportamentos diferentes de um novo, não importa o que está escrito no avaliação publicada.

Seja Exigente

Você está comprando um produto para lhe proporcionar diversão e não aborrecimentos, e que deve durar muito.
Você vai pagar por ele. Então, seja exigente. Não se contente com pouco.

Boa sorte !!!

 

3 Comentários

  1. Ótimas dicas, o que o Sr. acha das marca Yamaha?? Estou pensando em adquirir o integrado A-S500 ou o receiver R-S500, não posso comprar um sistema muito potente pois moro em apartamento e ai já viu, limitações de volume mesmo.
    Quanto ao cd player estou analisando o Marantz cd 5005.
    Minhas caixas são modestas, as da Sony New Sigma com 65w Rms cada, gosto muito do som delas principalmente os graves abaixo dos 60 hz que reproduz muito bem, até logo;
    Ivan, Patos, Pb

  2. Ivan,

    O integrado da Yamaha é muito elogiado por seus usuários. Não tive a oportunidade de avaliar um com o cuidado necessário, mas você vai encontrar ótimas referências sobre este integrado.
    O CD 5005 é um ótimo player. Vale a pena também.

    Abraço
    Eduardo

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