Construindo uma sala de áudio (e vídeo) dedicada – 2ª Parte

Este é um básico sobre o universo do tratamento acústico. Há muito mais, porém para o nosso objetivo no momento, isto é suficiente.

Bem, voltando ao nosso problema.
Quando decidi tratar acusticamente a minha sala, como já disse, me deparei com muitas discussões técnicas e “filosóficas” sobre o tema.
Como também já disse, uma empresa que respeito muito me fez a sugestão de absorver a parte frontal da sala, e deixar a anterior mais “viva” (mais refletiva).
Diz-se sala “viva” aquela que reflete bastante o som, e “morta” aquela que absorve muito o som. O problema está justamente em descobrir qual o ponto de equilíbrio na hora de “preparar” a sala.
Além de respeitar a opinião desta conceituada empresa que sugeriu a solução que comentei, resolvi ler muito, mas muito, sobre o tema e, principalmente, refletindo sobre as salas que eu conhecia na Europa.
Haveria de se chegar a um ponto de equilíbrio para que a sala funcionasse bem para áudio estéreo como para home-theater multicanal.
O que descobri é que a solução apresentada era realmente válida, e muitas vezes dispensava até o tratamento mais profundo dos graves, já que a área de absorção não estava restrita somente às primeiras reflexões, mas também aos cantos de parede e teto.

Esta foi a solução finalmente adotada em minha sala.
Apliquei nas paredes laterais frontais uma boa quantidade de absorvedores formados de placa de espuma acústica, assim como na totalidade do teto também na parte frontal, e também na parede frontal.
As recomendações que deveriam ser obrigatoriamente seguidas foram as seguintes:

Nas paredes laterais utilizar placas com 50mm de espessura, e na frontal e teto, com 30mm de espessura.
Não colar as placas de espuma diretamente na parede, mas num rígido painel de MDF com 15mm de espessura, travado, distante das paredes, 3cm no caso das laterais e pelo menos 5 cm na frontal. No teto a aplicação poderia ser direta.
Os painéis de madeira deveriam ser travados com espessos caibros, e parafusados na parede com generosos parafusos de alto torque com cabeças sextavadas (a parede feita de tijolo maciço em vez de blocos de concreto colaborou para a rigidez do conjunto).
A parte anterior da sala, sendo: teto, paredes laterais anteriores e parede traseira, não deveriam conter tratamento, mas objetos, cortinas e outras superfícies difusoras e absorvedoras mescladas.
Não poderiam haver estantes ou outros móveis e objetos entre as caixas e na área atrás delas.

Todo o madeiramento utilizado foi reforçado, através de espessos painéis de MDF, caibros superdimensionados e até vigas maciças com 16×4,5cm.
A fixação nas paredes foi feita com chumbadores e parafusos de inox com cabeça sextavada.
O afastamento das paredes foi feito com caibros grossos.
Toda a madeira em contato com a parede recebeu uma camada de massa de vedação para melhor assentamento e redução de vibrações.
Os parafusos devem ser reapertados anualmente, mas em nenhuma destas vezes eles cederam, o que demonstra que o conjunto ficou solidamente montado.

As placas de espuma foram recortadas e coladas nos painéis de MDF. Onde foram coladas as placas, o MDF ficou sem qualquer tratamento de superfície, apenas cola. No acabamento periférico foi permitido o uso de verniz fosco.

No piso foi colocado um tapete grosso entre o ouvinte e as caixas, com a parte inferior em cordoado trançado de algodão.

O resultado mostrou-se muito positivo.
Essa providência já provocou uma grande transformação no meu sistema de som estéreo e HT. O resultado foi surpreendente, me impressionando logo nos primeiros segundos de audição.
Não houve sequer necessidade de tratar os graves, por conta de algumas características da sala, das medidas adotadas e do correto posicionamento das caixas. Aliás, nunca imaginei que aquelas caixas poderiam apresentar um som com tanta precisão e “zero” de fadiga auditiva.
O som ficou muito mais nítido, detalhado e agradável.

O que recomendo então?
Esta é a melhor solução? Eu diria que talvez não, mas o resultado foi Excelente.
Depois disso realizei alguns ajustes e experimentos nas paredes anteriores, teto, piso, etc., mas as variações em relação ao primeiro resultado foram praticamente desprezíveis.
Isso me leva a sugerir que um tratamento acústico é necessário, e não deve se limitar a duas ou quatro placas coladas na parede. Deve ser bem feito, com as sugestões adotadas acima.
O tratamento absorvedor na parte frontal da sala e mesclado na anterior funcionou muito bem, e recomendo como primeiro passo.
Depois disso, algumas outras experiências podem ainda serem feitas, mas trarão poucos benefícios práticos.

Posso afirmar que numa sala sem um bom tratamento acústico, com móveis frontais, equipamentos montados em estantes, e outros descuidos, não ouvimos o som como ele sai do equipamento, mas totalmente deteriorado pela influência negativa da sala.
Cheguei a testar componentes de áudio, principalmente caixas acústicas, de amigos desanimados com a qualidade de suas caixas que ficaram impressionados ao ouvi-las em minha sala. O inverso também ocorreu, e caixas que supostamente tocavam bem em algumas salas mostraram-se bastante limitadas na verdade, principalmente aquelas de nível hi-end mas com softdome (tanto nos agudos ou nos médios) que se mostraram verdadeiramente sem vida e com mais dificuldade para mostrar o detalhamento do som. Esse tipo de domo atenua os problemas de uma sala mal tratada, mas apenas mascara o problema enquanto reduz a qualidade final do som.

Mesmo as atuais Wilson estão sendo já substituídas por outro modelo de melhor desempenho, com características específicas para melhor detalhamento, mas essa é outra história que ficará para depois.

Mantenho ainda as caixas B&W originais da família CDM-NT (Nautilus) para uso exclusivo do home-theater. Elas foram modificadas com recomendações do próprio fabricante, pois já possuíam mais de 6 anos, e os equipamentos ficam rapidamente obsoletos diante das novas exigências tecnológicas. Todas as modificações feitas surtiam logo efeito, e eram nítidas. Curiosamente, um outro par destas mesmas caixas de um amigo, também com parte das modificações que fiz nas minhas, em sua sala não mostraram qualquer benefício. Esta foi mais uma consequência positiva do tratamento acústico realizado.

Insisto, sem um bom tratamento acústico não há como avaliar seriamente um equipamento.
Claro que além desse trabalho, muitos outros colaboraram para isso, como o tratamento elétrico, das vibrações, da localização do equipamento, etc. Mais isso vem adiante.
Seguem fotos do tratamento feito em minha sala, um pouco desatualizadas (fotos atuais serão publicadas em breve), mas bem interessantes sobre o tratamento acústico realizado.

Fotos de minha sala tratada acusticamente.
Como algumas fotos foram feitas em épocas difrentes, podem existir algumas diferenças entre elas.
Convém ressaltar este ponto para que ninguém pense que são fotos manipuladas, como algumas publicações costumam fazer.
O sistema sofreu diversas alterações este ano, e logo providenciarei fotos mais atuais.

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Vista da parte frontal da sala. Note que toda esta parte foi coberta por placas de MDF com espumas acústica coladas, exceto o teto e o piso (nesta época sem o tapete).

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Parte anterior da sala. Aqui as paredes não receberam nenhum tratamento, e algumas experiências têm demonstrado que realmente não há esta necessidade. Os objetos situados na parte de trás e as cortinas já contribuem com a complementação do tratamento acústico. Mas, não se iluda com os objetos que aí estão, pois cada um deles é cuidado para evitar vibrações, como veremos adiante.

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Note a viga na parte de cima da parede, maciça, usada para sustentação estrutural em telhados de casa.
Esse exagero colabora para evitar vibrações prejudiciais e torna a parede mais inerte também à vibração. Isso também será explicado oportunamente, pois essa parede foi construída posteriormente.

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Note no vão da porta aberta a espessura do MDF, da espuma e a distância do MDF para a parede.
Esse aplique na porta também é para torná-la inerte a vibrações. Ele tem pouco mais de 40x25cm, e recebeu nada menos do que 28 parafusos de fixação.

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A estrutura da tela de projeção foi rodeada com a espuma. Nenhuma área ficou descoberta. Note que não há cantos vivos, o que auxiliou na reprodução dos graves.

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Por este vão é possível ver a espessura do tratamento aplicado. Note que a parede de fundo (atrás dos painéis acústicos) também recebeu um grosso carpete para evitar reflexões “marginais” e torná-la ainda mais inerte.

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Mais um detalhe do acabamento acústico. A simples colocação de algumas placas na posição das primeiras reflexões mostrou um resultado inferior a este, onde todo espaço foi tratado.

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Mais um detalhe do sistema de áudio e vídeo. Todos os equipamentos ficam na altura para um boa utilização, não sendo necessário ajoelhar-se ou abaixar-se para utilizar os equipamentos.
Mas, para isso, algumas providências foram necessárias, e serão explicadas mais adiante.

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Detalhe construtivo. Tudo foi feito pessoalmente. Nenhuma empresa se prestou a oferecer o detalhamento necessário para este projeto.

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Todas as placas de espuma receberam molduras para apresentar um acabamento agradável. Apesar do brilho do flash, foi utilizado verniz acetinado (quase fosco), com pouco brilho, o que é também recomendado.

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