Avaliação do CD Timbres da CAVI Records

Depois de uma certa demora, finalmente recebi o CD Timbres, produzido pela CAVI Records, e publico aqui as minhas impressões.

A gravadora CAVI Records (Clube do Áudio) produz gravações com uma qualidade técnica bastante rara no mercado nacional, preservando ao máximo a fidelidade sonora, o que favorece sua reprodução em sistemas Hi-End.

Além deste disco, a gravadora já produziu outros títulos:

CD Genuinamente Brasileiro Volume 1 – Diversos
CD Genuinamente Brasileiro Volume 2 – Diversos
CD Lachrimae – André Mehmari
SACD Canto das Águas – André Geraissati

Possuo todas as gravações acima, e sempre recomendo como ótimas opções, com excelente qualidade técnica, mas nem sempre no mesmo nível da qualidade artística.

Existem referências positivas de algumas destas gravações inclusive em publicações estrangeiras.

Lamentavelmente, o CD Timbres não me elevou ao mesmo patamar de empolgação das gravações anteriores.
Produzido como um disco de testes para instalações Hi-End, possui em suas 54 faixas trechos musicais reproduzidos por diversos instrumentos, e captados por 3 microfones diferentes.
A idéia é avaliar o nível do sistema pela sua capacidade de identificar as diferenças entre os três microfones, tentando também estabelecer um modelo padrão com um deles.

A capinha do CD, com informações insuficientes, chama estas diferenças de “invólucro harmônico”, que nada mais é do que a variação da resposta de freqüência (amplitude pela freqüência) de cada microfone, o termo realmente correto, mas que cada um chama do jeito que prefere.

Uma das coisas que me chamou a atenção foi a própria variação do músico ao tocar seu instrumento a cada microfone testado. Não gostei disso. Em alguns casos esta variação é bastante significativa, e pode confundir o usuário na hora de definir o melhor resultado.

Além disso, existe outra falha curiosa. Apesar de inicialmente ser anunciado como um produto que somente apresentará os resultados desejados em sistemas Hi-End, muitos relatos apontam resultados similares em sistemas de som menos pretensiosos, inclusive automotivos.

Pude confirmar isso ao utilizar o disco em um mini-system de baixo custo, e também em minha picape. Adquirida há pouco tempo, veio com dois falantes dianteiros e dois traseiros originais de fábrica, de uma única via, e assim longe de qualquer pretensão Hi-End. Tive oportunidade de utilizar o CD timbres ainda com esta instalação, antes de substituí-la por outra de melhor desempenho, e, para a minha surpresa, nos dois casos os resultados foram semelhantes, com uma clara diferença entre cada microfone utilizado.

Portanto, quem imagina que este CD vai proporcionar o resultado sugerido de mostrar sutis diferenças somente em sistemas mais sofisticados, está enganado.

O propósito deste CD, no meu entender, se perde não só pelas razões expostas acima, mas também porque tenta ser uma referência absoluta de avaliação, sem considerar alguns outros fatores importantes.

Como já comentei em outro artigo (inclusive acolhido com elogios pela revista Absolut Sound), e voltarei a ampliar essa discussão em breve, é muito perigoso estabelecer o som ao vivo como referência absoluta, como também sugere a intenção deste CD, ao estabelecer um microfone como padrão para a afinação do equipamento.
A percepção sonora depende de muitas variáveis, e até a reprodução ao vivo numa sala de apresentação pode conter problemas, e esses problemas podem ser transferidos ao sistema se forem considerados como referência absoluta.
Em breve publicarei outro artigo, onde tentarei mostrar que não existe o sistema ideal.

Depois de muitos anos fazendo experiências, estudando inúmeras publicações estrangeiras e interpretando alguns resultados práticos, posso afirmar, com toda a certeza, que não existe uma combinação única e perfeita para qualquer sala e qualquer ouvinte.
Um exemplo: se o ouvinte tiver uma pequena perda auditiva em alguma faixa do espectro de freqüências, vai sofrer com essa limitação numa apresentação ao vivo, e vai ajustar seu sistema com esta mesma limitação. Portanto, continuará não apreciando a obra musical em sua plenitude.

Defendo hoje que existe um sistema adequado para cada situação (seja de ordem biológica, acústica, elétrica, ou outras características, inclusive da própria sala), e atualmente estou investindo nessa filosofia para reformular toda a minha instalação. Os resultados estão sendo impressionantes, e a personalização do sistema está se mostrando bastante eficiente.
Mas, entrarei neste tema em outra oportunidade. Registro aqui apenas a minha preocupação quando alguém afirma que um determinado equipamento, sala ou gravação é uma referência precisa, inclusive pontuando cada um destes itens em testes de avaliação. Por mais bem elaborada que seja uma metodologia de testes, na prática ela é falha.

Acredito que o sistema de pontuação de equipamentos e gravações já morreu há muito tempo, e que a direção para estabelecer as qualidades de um produto de áudio seja bem diferente da atual. Sobre isso tenho conversado com alguns especialistas, que têm se mostrado positivamente surpresos com essas idéias.

Infelizmente, o CD Timbres não mostrou para o que veio. Pode ser relativamente útil (o que ainda não me convenci totalmente) em algumas aplicações, mas o risco de uma interpretação errônea baseada no conceito em que se baseia é bastante grande.

Continuarei a enaltecer as qualidades das demais gravações já produzidas pela CAVI Records, mas o CD Timbres, certamente, não fará parte de minhas recomendações . 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*